Laranjeiras do Sul, em tempos idos, teve a fama nada edificante de ser terra de pistoleiros e, posso lhes assegurar que o altíssimo número de homicídios dava credibilidade a esta fama. Diziam até que, bastava você chegar noutra cidade num carro com placas daqui da terrinha para que lhe olhassem com certo respeito. O colunista não está inventando nada, pois não ousa falar mal da terra onde vive, mas tendo aqui chegado na década de sessenta viveu aqueles tempos que felizmente ficaram no passado. Primeiro, cuidando de pequena casa comercial em Guaraí, distrito de Erveira e depois como um dos primeiros funcionários da Rádio Educadora onde também apresentava o programa policial, portanto sabe o que está narrando. Certos delegados de polícia como o Dr. Edgard Polchopec exigiam que o repórter acompanhasse os policiais em missões até certo ponto perigosas, mas sempre colaborava dando as notícias em primeira mão. Contou-me o médico Carlos Felipe de Sio (im-memoriam) que aqui havia chegado em 1962 e, portanto, atendido dezenas de baleados e esfaqueados que naquela época fora designado para Juiz da Comarca, magistrado que havia sido seu colega na universidade. O homem desembarcou cabreiro na cidade, pois sabia da fama e do trabalho duro que teria que desempenhar na Vara Criminal. Houve uma festa de aniversário de um senhor pioneiro e respeitadíssimo no município para a qual, entre os convidados estavam o médico e o juiz de direito. Na comprida mesa debaixo das laranjeiras fora servido o farto almoço. Lá pelas tantas, animado por alguns goles de cachaça um dos convidados gritou: Vamos dar uma sarva pro aniversariante. Referia-se ele a uma salva de tiros e contou-me o Dr. Felipe que para espanto do juiz, em segundos mais de uma dezena de revólveres e garruchas foram sacados debaixo dos paletós e camisas dos peões e convidados, todos disparando para o alto. Próximo do médico e do juiz estava um moço que cuidava da bomba d’água que abastecia a cidade. Este, sacou uma garrucha daquelas de carregar pela boca e disparou os dois canos. As buchas de papel utilizadas para carregar aquele tipo de arma normalmente incendeiam. Foi o que aconteceu e acabaram caindo na cabeça do juiz chamuscando seus cabelos. O magistrado teria olhado para o médico exclamando: Felipe, onde é que eu vim me meter! O médico me contou que acalmou o amigo juiz garantindo-lhe que acabaria gostando da cidade e do seu povo e foi o que realmente aconteceu. O almoço transcorreu animado e ninguém mais teve a idéia de uma nova sarva de tiros.
P.S. Dr. Felipe tinha senso de humor admirável e sabia contar causos reais e engraçados da antiga Laranjeiras. Faleceu no mês de maio de 2014 e este colunista que trabalhava no serviço público municipal redigiu com tristeza o Decreto de Luto Oficial.