Eliziane Gave é Doutorada em História Econômica pela USP. Mestra em História pela UFSC e graduada em História pela Unicentro. Coordenadora do Departamento e Laboratório de História do Instituto Estadual de Educação (IEE/SC)
O estabelecimento de ciclos ou ondulações pelos seres humanos, em termos de calendários com anos, meses, semanas e dias, é uma organização temporal necessária para nos situarmos entre o passado, o presente e o futuro, em função do espaço que ocupamos. A fim de atuar na construção de memórias, na interação do eu com os outros. Assim, as passagens de ano assumem o caráter de um marco temporal essencial, que simboliza o fim de um ciclo maior e o início de outro, baseado no movimento da natureza (a rotação do planeta Terra em torno do Sol).
Elas são marcadas com diversas festividades ao redor do mundo. No entanto, não acontece ao mesmo tempo em todas as regiões. Isto se deve ao fato de existirem inúmeros calendários diferentes, inclusive com outras quantidades de anos, meses e/ou dias, que variam de acordo com cada cultura. É curioso pensarmos, que na China apesar de o calendário oficial ser o mesmo que o nosso, o calendário tradicional tem um peso importante, com o ano novo de 4720 sendo comemorado no nosso dia 1 e 3 de fevereiro. Para os islâmicos, o ano novo, Ra’s as-Sana, de 1445 será comemorado no nosso dia 30 de julho de 2022, e começa com o pôr do sol do dia seguinte. Já o ano novo judaico de 5783, Rosh Hashaná, se iniciará com o pôr do sol do nosso dia 25 de setembro de 2022. Entre outras culturas espalhadas pelo mundo que adotam outros calendários.
No Brasil, o chamado calendário Gregoriano, estabelecido em 1582, tomou força com a ocupação dos portugueses na América do Sul. Anteriormente, em grande parte da Europa, o primeiro de ano era comemorado em 25 de março. Já, nas Américas, vigoravam outras formas de medir o tempo provenientes dos povos originários. O mais conhecido é o calendário Inca, o qual data o ano novo, Capac Raymi, em 21 de dezembro de 2022, no solstício de verão, que segue sendo comemorado em regiões da Bolívia e Peru.
Apesar do calendário Gregoriano europeu ter predominado no Brasil, outras culturas legitimaram outras tradições, como é o caso do uso de roupa branca e o hábito de pular sete ondas durante a passagem do último dia do ano para o dia 1º do ano seguinte. São costumes trazidos pelos povos africanos e que se perpetuaram pelas regiões litorâneas com queima de fogos ou nos aglomerados urbanos. As comemorações, sejam quais forem, são, dessa forma, uma maneira de marcar a passagem do tempo, de um ciclo para outro, em que formas de viver em sociedade são reavaliadas e outras são colocadas em perspectiva.