A porta estreita

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“Entrai pela porta estreita, porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição…” Jesus (Mateus, 7:13).

É bem verdade que o ensino evangélico encerra em sua intimidade uma variedade de lições, que nos põe diante da necessidade de meditar com respeito às duas portas, como indica o texto epigrafado da Boa Nova.

Em todos os instantes deparamo-nos com os próprios passos, nos roteiros da experiência terrena, a passagem por uma ou por outra porta…

Embora reconheçamos que muitos se detêm nos umbrais, sem que se decidam por atravessá-los ou não, a maioria delibera conscientemente ou de maneira negligente, romper o pórtico que se lhe apresenta.

É aí que percebemos as escolhas que se definiram no Além, refletindo no mundo uma determinação que se torna inescapável para a criatura nela incursa. Vezes outras, o homem se decide, aqui, nos ensejos planetários, com relação à travessia que deseja encetar.

Abrem-se, desse modo, portas largas de facilidades econômicas, de riquezas, de ouro conseguido à custa da exploração escravagista, enquanto mostram-se, ao lado, estreitos caminhos de carência do mínimo necessário, de deficiência alimentar, que respondem pelo esbanjamento ou pela sovinice de ontem, em nome da necessária educação moderadora da alma.

Escancaram-se aberturas de prazeres e lascívia, de luxúria e carnalidade sem conta, contíguas a veredas angustas – apertadas – de enfermidades físico mentais, de incapacidades procriativas frustrantes, consequentes das ilimitadas libações irresponsáveis do passado, com vistas à renovação moral que tem caráter de urgência.

Dilatam-se portais de irresponsabilidade profissional, nos quais o prestígio político-social imerecido encobre a devassidão, em detrimento de terceiros, mas, apresentam-se paralelamente, vielas rudes de desempregos e fome angustiantes, de agonia e desapoio, no rastro dos delitos acobertados que passaram impunes, sem caírem, não obstante, no olvido – esquecimento – das Divinas Leis.

Agigantam-se estradas espaçosas para que o abuso do poder impere sobre as massas humanas perplexas, impossibilitadas de qualquer atitude de soerguimento. Outrossim, estreitam-se vias de desprstígio e descrença popular, de abandono e de lágrimas ardentes, de humilhação, na imposição da Perfeita Justiça, de modo a reconduzir os pontos de sombra que o pregresso – passado – guardou em sua tecitura e que a atualidade exige acerto.

Sem dúvida, os Céus apelam que os homens exercitem fidelidade nas posições de subalternidade quanto de mando, nas decisões singelas ou nas resoluções graves da vida. Fidelidade ao bem, ao amor, à disciplina cristã, espontânea e lúcida, é elemento altamente equilibrante para a alma.

As portas estreitas voluntárias, forjadas pela morigeração – zelo – consciente em torno do que se realiza, poupará a alma da angustura imposta pela Sublime Legislação da Causalidade, que impõe que cada criatura, na condição de filha da Grande Luz, atinja, mais cedo ou mais tarde, a entrada para a felicidade.

Os acessos fáceis e desimpedidos, que agora permitem usurpação ou desmando, autocídio indireto e gozo infeliz, perturbação de todo gênero, com toda a certeza, apressam a trilha apertada e sofrida de logo mais.

Busca Jesus em teus dias de reencarnação abençoada.

Na dívida, faze-te nobre para o acerto de contas; na pujança de oportunidades risonhas que te surjam, deixa-te engrandecer e iluminar pela humildade, pela simplicidade de espírito, no bom desempenho da lide.

Permite o acesso do Cristo em tua trajetória, para que, seja teu fecundo Amigo, transforma-te, igualmente, no homem que aprendendo a renunciar a largueza das facilidades que adoecem e selecionando os rumos do esforço, da responsabilidade felizmente atendida, te tornes benfeitor nas estradas, para tantos outros, enaltecendo a força do amor, sabendo entrar pela porta do excelso bem, escolhendo as vias da ventura sem termo, desde hoje.

Livro: Cintilação das Estrelas. Camilo (Espírito), psicografia de José Raul Teixeira. Fráter Livros Espíritas. Niterói – Rio de Janeiro – RJ. 1ª Ed. 1992.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza – CEAC, Guaraniaçu – PR manoelataides@gmail.com