ESPADA DE FOGO

Sucediam-se as multidões como vagas suaves do mar, tangidas por ventos brandos, arrebentando-se nas praias do Seu amorável sentimento de amor…

Ninguém resistia ao doce ou vigoroso apelo da Sua voz. As massas aflitas multiplicavam-se prodigiosamente, surgindo de uma para outro momento, sem que se percebesse a procedência, de onde vinham…

Vencidas pela desdita e pelo abandono, já não confiavam em ninguém, já não esperavam nada que lhes diminuísse o sofrimento…

Desse modo, o Senhor a todos recebia, um a um, ou em grupos, orientando-os sem cessar, sem atropelo, de forma que o Seu verbo lhes acalmava o desespero e a Sua misericórdia suavizava as suas aflições… Normalmente atendia-os a todos de maneira geral…

Nascido pobre, após renunciar aos arquipélagos estelares, reunia, à Sua volta, outros tantos pobres que, de maneira alguma se tornaram mendigos ou se esconderam na miséria, trabalhadores do povo, que conviveram com o povo e que constituíam dessa forma a multidão a Ele atraída…

Convivia com ele em doce igualdade, sem diminuir a Sua grandeza e elevação, participando das suas conversas e preocupações, nada obstante pairando acima das mesquinhezas que lhes eram habituais… No sentido oposto, compadecia-se dos ricos, dos endinheirados e não os abominava, porque lhes conhecia os escaninhos dos sentimentos em sombras onde se refugiavam as ignoradas amarguras, carentes de apoio, de amor e de compaixão.

Entre as duas faixas humanas – os pobres e os ricos materiais – Ele enfrentava a terrível mole dos fariseus preocupados com a aparência, dominados pela soberba decorrente da posição social que desfrutavam e dos saduceus beligerantes e materialistas, que Lhe exigiam maior soma de misericórdia e de compreensão…

A religião era somente um disfarce para a exploração muito bem elaborada e para a prática de hediondos crimes que se ocultavam na desfaçatez, com que se resguardavam aqueles que deveriam dignificar o povo…

Nessa sociedade sacudida pela desordem contínua e rebeliões esmagadas com crueldade, portadora de criminalidade mal disfarçada, era o solo sáfaro, que Ele deveria joeirar, para transformá-lo em seara rica de paz e de amor…

Ele surpreendeu os ouvintes e comensais do Seu Amor, enunciando: – Não penseis que vim trazer paz à Terra; não vim trazer a paz, mas a espada; – porquanto vim separar de seu pai o filho, de sua mãe a filha, de sua sogra a nora; – e o homem terá por inimigos os de sua própria casa.

A surpresa ainda não alcançara o clímax, quando Ele afirmou: – Vim para lançar fogo à Terra; e que é o que desejo, senão que ele se acenda? – Tenho que ser batizado com um batismo e quanto me sinto desejoso de que se cumpra!… Viera sim, separar a verdade da impostura, dividir as famílias nas quais se Lhe vinculariam uns membros enquanto outros O detestariam.

Lançava para o futuro a advertência que se teria de eleger Deus a Mamon, o dever ao engodo, a aceitação ou a negação ao crime e ao vício… O Fogo purificador da verdade seria ateado, a fim de que o campo semeado e tomado pelo escarlacho, tivesse que ser liberado da erva má que, atada em feixes seria queimada para salvar o bom grão…

Com Ele ou contra Ele, nunca uma postura de conveniência.

 

Livro: A MENSAGEL DO AMOR IMORTAL. Amélia Rodrigues (Espírito). Psicografia Divaldo Pereira Franco. Livraria Espírita Alvorada Editora. 16ª ed. Salvador. BA. 1995. Págs. 143-146.

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