Libertação Pessoal

À semelhança de alguém que sobe uma montanha e passa a ter uma visão ampla dos horizontes – quanto mais alto, maior a conquista da sua paisagem – a superação do ego permite uma identificação profunda com o Si, que se desvela, manifestando a sua procedência divina e arrebatadora…

Iniludivelmente, o ser, na sua estrutura real, é psiquismo puro, com imensos cabedais de possibilidades.

Durante a juventude, pensa em gozar, porque o corpo é forte e rico de hormônios; na maturidade prossegue com o rigoroso desejo de aproveitar as energias que atingem a plenitude; na velhice faz o quadro depressivo da amargura – ou luta para manter um potencial de energias, que não mais retornam, sejam quais forem os recursos aplicados. Mesmo quando se-lhes dilata a duração – a criança interior permanece viva, subconsciente, iludindo-se; chega o momento do exaurimento, da interrupção pela morte, do enfrentamento da realidade…

Esse processo de desgaste orgânico inevitável é prenúncio da futura experiência imortalista, que propiciará a cada um o encontro com o que é, e não com o que tem ou deixa, com o que pensa, e não com aquilo que gostaria de haver realizado.

Nesse momento, o eu profundo irrompe, arrebentando as camadas do inconsciente onde se encontrava soterrado – caso não haja sido liberado de forma lúcida – e estabelece tormentosos conflitos na área do psiquismo ou no complexo espiritual de que se constitui – energia pensante que é…

A saída dos interesses objetivos enseja o infinito campo do mundo subjetivo, transcendente, a ser penetrado qual afirmava São Boaventura, o Doutor Seráfico, que influenciou muitos místicos medievais, ao anunciar que são três os olhos pelos quais se observa: o da carne, o da razão e o da contemplação. O primeiro enxerga o mundo material, exterior, as dimensões relativas do tempo e do espaço, os objetos, as coisas, as pessoas, preso às sensações imediatas; o segundo vê a lógica através da arte de filosofar… e o terceiro, que faculta penetrar no mundo oculto, da intuição, das realidades transcendente, extrafísicas…

A libertação pessoal recupera a percepção profunda, por superação do ego e a dilatação do self, com o consequente triunfo do Espírito sobre a matéria…

Com essa aquisição, as questões básicas da existência, que a psicologia procura responder: Quem é o homem? De onde vem? Para onde vai? Tornam-se factíveis de elucidação, na perfeita união das correntes psicológicas individualistas do Ocidente e espiritualistas do Ocidente.

Nesse sentido, a Doutrina Espírita sintetiza ambas as visões psicológicas, interpretando os enigmas do ser e capacitando-o à superação do ego, na gloriosa conquista do eu profundo, mediante a libertação pessoal das paixões perturbadoras, anestesiantes, escravizadoras.

Nasce então, nesse momento, o homem pleno, que ruma para o infinito, imagem e semelhança de Deus.

Livro: AUTODESCOBRIMENTO UMA BUSCA INTERIOR. Joanna de Ângelis (Espírito), psicografia de Divaldo Pereira Franco. Livraria Espírita Alvorada Editora. 16ª ed. Salvador. BA. 2008. Pág. 156.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC Guaraniaçu – PR. manoelataides@gmail.com