Os espólios da guerra

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Porque é necessário que sucedam escândalos; mas ai daquele homem por quem venha o escândalo!” Jesus (Mt. 18:7)

O pensamento do Celeste Amigo, retratado no texto epigrafado, prossegue sendo alvo para acuradas meditações, sempre que se evidencia o problema do escândalo do mundo.

A ação belicosa, por exemplo, assumindo sua expressão genocida no paroxismo da guerra, é daquelas situações enormemente escandalosas, sem qualquer dúvida.

Nada obstante possamos identificar escândalos de todos os tipos e em diversos níveis, aquele que a beligerância guerreira faz explodir é dos mais hediondos sobre a face do planeta.

Todos os esforços deverão ser empreendidos pelos seres humanos, para extinguir-se, em definitivo, a hidra de goela hiante da guerra, seja por meio da diplomacia, que hoje em dia, abençoa os entendimentos por meio do diálogo, seja através da educação popular, quando se fará ver às criaturas todos os inconvenientes de tais atrocidades, seja em razão do que for, numa fase em que a Humanidade deve exercitar a razão com todos os seus múltiplos componentes, trabalhando na esfera da paz.

As escolas, os templos, os lares, as empresas, laborarão para a paz, e, para isso, todas as baterias de providências estarão voltadas para a educação do indivíduo, de cujo cerne provêm todos os delitos, se ele está enfermo, tanto quanto advém todas as luzes, à proporção em que avança para maior equilíbrio.

Ao pensar-se na guerra de extermínio, imagina-se que tudo estará concluído e solucionados os seus problemas, quando sejam assinados os tratados de armistícios nos pomposos gabinetes. Poucos dão-se conta dos desdobramentos da famigerada experiência, durante e após a sua ocorrência, sem cogitar-se dos tormentos que a antecedem.

Não morrem somente os que tombam nos campos de batalhas, ou os que são devorados por explosões grotescas de quaisquer tipos. Esfacelam-se, também, na pirambeira da morte, um número ilimitado de pais e de mães, que recebem objetos de uso pessoal e condecorações ou salários de ácido dos seus filhos desaparecidos. Morrem esposas vencidas pela saudade e pela solidão, após receberem as documentações que honorificam seus companheiros desencarnados. Morrem na frustração ou na revolta, na mágoa ou no desejo de vingança contra a sociedade, multidões de filhos relegados à orfandade tendo os nomes dos seus genitores glorificados no altar enregelado dos mausoléus dos heróis, que as pátrias lhes constroem, como se isto resolvesse o drama das dores morais insanáveis nos seres marcados pela guerra.

Quantos mutilados físicos passam a ostentar as deformidades que o endoidecido empreendimento lhes causou?

Quantos mutilados mentais, macerados por neuroses e psicoses de variada monta, agitam-se nos lares e nas ruas espreitados pela definitiva loucura, raiando para estados de danosa violência e de crimes hediondo, ou, ainda, para os chavascais do vício e do infortúnio?

Ao pensarmos sobre a monstruosidade que a guerra representa, apareça onde aparecer, apoiada no motivo que for, reflitamos nas mais amplas consequências dessa tragédia para a Humanidade inteira.

Não foi por acaso que o imbatível Herói da sepultura vazia conclamou-nos à paz, chegando a afirmar que os mansos herdariam a Terra e que os pacíficos seriam chamados filhos de Deus… É certo que aquele que tem necessidade de resgates difíceis, resgatará em dificuldades… É compreensível que quem deve às leis da consciência pagará o devido preço… Entanto, ninguém deverá tornar-se o braço voluntário da Divina Justiça, nesse particular.

O Criador da Vida tem maneiras e canais para fazer com que cada um retorne às linhas do equilíbrio indispensável, sem qualquer interferência danosa do irmão humano. Por isso assevera Jesus: “ai daquele homem por quem venha o escândalo!”

Envolvido nos teus afazeres, estudando, trabalhando, orientado, falando ou realizando qualquer outra atividade, faze-te instrumento da paz, deixando que o suave ensino de Jesus Cristo ilumine a tua intimidade, a fim de que transudando essa harmonia do teu coração, sejas, então, ponte de luz entre a Terra e os Céus, sem incentivar ou alimentar a guerra, nunca mais, mantendo-te sob o jugo do Senhor, que é formoso e que impulsiona à Vida Feliz.

Livro: Vozesdo Infinito. Camilo (Espírito). Psic. José Raul Teixeira. Editora FRÁTER Ltda. Niterói – RJ. 1991.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC, Guaraniaçu – PR. manoelataides@gmail.com