Pressa e receio

O diálogo entre sombras fazia-se marcado pelas conceituações opostas.

− Eu – asseverou um dos interlocutores – acreditei que toda obra a ser feita deveria ser realizada de imediato. Espírito arrebatado, logo me empolgava, deixando-me roes pela indômita inquietação que me emulava, empurrando-me para a frente…

            − Não eu – redarguiu o outro, pausando −, sempre descri de tudo e de todos… O mundo dos meus dias era mau, as pessoas, mesmo aparentemente nobres, eu descobria serem pusilânimes antes que honestas. Raramente me entusiasmei. Não vi crescer o bem; pelo contrário: Sempre identifiquei o predomínio do mal. Tentei, é certo, procurei ajudar. Em que deu?

            “− Caro está – prosseguiu o primeiro −, que já não me vincularia a nada… Dei-me todo, joguei-me com ardor. Sempre desejei modificar as estruturas das coisas e das pessoas. Os homens são curiosos: Pedem ajuda, e, quando queremos dar a arrancada, retraem-se, descretos ou não, levando-nos ao desencanto…

            “− Por isso estou falido de ideais – retrucou o segundo −. Não obstante sempre fosse cauteloso e visse primeiro o lado pior, advertindo que entre a idéia e a execução do ideal há uma distância imensa a transpor, não estimulando à realização, afinal porque ninguém merece o sacrifício de outrem, emaranhei-me, joguei e perdi… Francamente, a vida sempre foi-me adversa e a sorte muito má… “

À medida que o tempo transcorria, os desvairados interlocutores expunham com azedume suas experiências negativas, padecendo as injunções da própria desdita.

            Personagem do dia-a-dia, um fora precipitado e outro pessimista.

            O primeiro, sem refletir, acreditava no agora, embora não dispusesse do elemento perseverança para enfrentar o agora-amanhã.

            O outro, amesquinhado em si mesmo e enfermo da razão, com desvio de enfoque sobre a realidade, transferia das paisagens íntimas em trubação, as visões ermas e negativas, sem qualquer esforço para colocar sol nas províncias da alma infeliz…

            Encontram-se representados em todo lugar e em muitas pessoas que se distanciam da prudência, da reflexão.

            Como não é justo a pessoa afoitar-se, aflita, em qualquer atividade, não é correta a atitude derrotista nos empreendimentos.

            O precipitado não é perseverante. Com a força indômita que se arroja a uma ação, abandona-a. O pessimista, além de conduzir desencanto, com que contamina oso oturos, foge à responsabilidade, seguindo adiante, leviano e destuidor.

            Prudência é medida salutar de equilíbrio com que o homem se apercebe das possibilidades de que é detentor, podendo aplicá-las com segura orientação.

            Nunca a precipitação consegue realizar o mester da edificação do bem, e jamais o pessimismo receoso logra ensejar paz ou argamassa felicidade onde se encontre.

            Por isso, em face dos empreendimentos enobrecedores a desenvolver, a oração abre os canais da inspiração, pelos quais chegam as forças do bem emulando à ação superior, com a paz do coração em compasso de felicidade.

Livro: TERAPÊUTICA DE EMERGÊNCIA. Espíritos Diversos. Padre Natividade (Espírito). Psicografia Divaldo Pereira Franco. Livraria Espírita Alvorada – Editora. 1ª ed. Salvador – BA. 1983.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. CEAC. Guaraniaçu – PR.  manoelataides@gmail.com