Dentre as inumeráveis medianimidades das quais são portadores os indivíduos, nas faixas dos seus compromissos psíquicos, situa-se a vidência, isso é, a capacidade que têm certas pessoas de enxergarem os desencarnados, seja em estado de profundo transe mediúnico ou por meio de percepções ligeiras, não obstante autêntica, mesmo quando em estado de normalidade fora de qualquer transe.
Em O Livro dos Médiuns, Allan Kardec ao estudar a questão no bojo do capítulo XIV, itens 167 a 171, analisa com raciocínio muito claro e comum lógica excepcional, os mais importantes pontos que entram na prática da mediunidade de vidência, deixando nitidamente a certeza de que é dos tipos de mediunidade um dos que apresenta grande dificuldade de constatar-se.
Não têm sido poucos os casos em que pessoas diversas são iludidas pela própria exaltação, julgando estar vendo coisas que não estão ocorrendo, de fato, nas paisagens espirituais. Nesse lance é que se torna oportuníssima a orientação do Codificador quando informa que embora se possa desenvolver tal faculdade, é conveniente esperar-se o seu amadurecimento natural, sem que a provoquemos, ansiosamente, tendo em vista os riscos desnecessários a que o provocador estaria exposto.
É, ainda, dos tipos de mediunidade, a vidência, a que oferece grande dificuldade em identificar a sua realidade, em razão dos componentes psíquico, das criações mentais do médium. Quem poderá dizer que determinada pessoa não está vendo, realmente, isso ou aquilo? Quem garantirá que o esteja? Por que se faz dificultosa essa afirmação? Torna-se difícil ao considerarmos que o indivíduo poderá estar vendo, verdadeiramente, as imagens que diz ver, certo de que registra o Mundo dos Espíritos, quando esteja visualizando as construções da sua própria imaginação. De fato, está vendo, mas vê as próprias produções. Daí a alusão de Kardec, quando diz que são raros e há muito o que desconfiar dos que se atribuem possuidores dessa faculdade.
Um enorme grupo de pessoas tem predileção especial por dizer-se vidente, como se a vidência fosse a percepção que lhe abrisse as portas do prestígio, da fama, conferindo importância ao seu detentor, sem atinar com o ônus de responsabilidade que pesa sobre os ombros dos que têm os olhos abertos para o Invisível, uma vez que as entidades banais não perdoam aqueles que lhes devassam os domínios de atuação, graças à vidência mediúnica.
Não são poucos os que dizem estar vendo luzes, muitas luzes, sem que isso queira dizer coisa nenhuma, diante da estuante mediunidade que dilata a visão do homem. Outros tantos veem vultos ao lado de alguém, sem qualquer dado mais concludente, deixando a sua afirmativa sem valor, uma vez que vultos e luzes sem qualquer sentido podem muito bem representar problemas de visão, dificuldades oftálmicas desses videntes…
Quando o Codificador do Espiritismo propõe que não se deva dar crédito aos se fazem passar por videntes, não é por uma posição de descrença gratuita ou por má vontade contumaz. É somente para que se possa obter as provas positivas de que as visões se relacionam com o correto, com o verídico, e não significa tão somente a explosão da mente excitada de estouvadas ou iludidas criaturas. O Espiritismo é Doutrina de bom senso. Urge se aplique a razão, a fim de se discernir sobre todas as coisas, principalmente acerca das questões mediúnicas, onde se ache atuando cada pessoa.
Livro: CORRENTEZA DE LUZ. Camilo (Espírito). Psicografia de José Raul Teixeira. Fráter Livros Espíritas. Niterói, RJ. 1ª Ed. 1991.
Manoel Ataídes Pinheiro de Souza, Sociedade Espírita Amor e Conhecimento Guaraniaçu PR. manoelataides@gmail.com