A morte de Ivan Ilitch

O autor russo Lev Tolstói (1828-1910) é um dos grandes nomes da literatura mundial. Não por acaso, suas obras são presenças constantes nas estantes de bibliófilos (amantes e/ou colecionadores de livros). É de Tolstói a célebre obra Guerra e Paz, a qual foi retratada em filmes e séries sempre com grande sucesso de público. Outra obra de Tolstói adaptada com sucesso para o cinema foi Anna Karenina. O autor de grandes obras que testam a disposição de seus leitores ante ao grande número de páginas, também fez sucesso com um pequeno livro de apenas oitenta páginas. Trata-se de A morte de Ivan Ilitch.

            Tolstói nasceu numa família aristocrática, portanto, herdou uma propriedade rural de seus pais. A mãe e o pai morreram poucos anos após seu nascimento. Não chegou a se formar no ensino superior, cursou por algum tempo Línguas Orientais, e mais tarde, Direito. Era um bon-vivant, atirou-se aos jogos e às mulheres, vícios que o endividaram fortemente. Serviu o Exército e após dele se retirar publicou seus primeiros livros. Casou-se com Sófia Andréievna Behrs com quem teve treze filhos e nos primeiros anos de casamento publicou suas mais famosas obras. No auge do sucesso, envolto a crises existenciais passou a se dedicar à espiritualidade e renegou sua literatura. Pouco antes de morrer, o escritor russo Ivan Turguêniev escreveu a Tolstói: Faz muito tempo que não lhe escrevo porque tenho estado e estou, literalmente, em meu leito de morte. Na realidade, escrevo apenas para lhe dizer que me sinto muito feliz por ter sido seu contemporâneo, e também para expressar-lhe minha última e mais sincera súplica. Meu amigo volte para a literatura!. Não se sabe o quanto o pedido de Turguêniev influenciou Tolstói, no entanto, A morte de Ivan Ilitch foi a obra que marcou seu retorno à literatura.

Trata-se de um pequeno livro, porém, de uma sensibilidade gigantesca ao retratar de forma tão humana, a impotência de um ser que se vê morrendo, enquanto observa o quão fúteis são os valores pelos quais se dedica uma vida, e quão falsas são as relações humanas. O livro conta a história de um jovem ambicioso (Ivan Ilitch) que galga posições dentro do Poder Judiciário, contrai matrimônio por conveniência, ganha o cargo de promotor em São Petersburgo por indicação de um amigo no Poder, e que após alcançar a estabilidade financeira, se vê acamado por uma doença grave que o dinheiro e os melhores médicos não conseguem curar. Cada vez mais debilitado, perturbado com o mal que o acomete, irrita-lhe a saúde de seus familiares e amigos, pois esta lhe falta. Sabe que na sua repartição há quem espera sua morte para ocupar seu cargo. A filha no auge da mocidade, feliz, segue sua vida noivando com um jovem e ambicioso juiz de instrução, tal como um dia ele fora. Os membros da família vivem suas vidas enquanto a sua vai se esvaindo até que Ivan dá o suspiro final. Em pleno velório, sua esposa procura se informar com um grande amigo do morto sobre como conseguir mais dinheiro junto ao Governo. Este percebe que ela já estava suficientemente informada sobre o que fazer e dela se esquiva, deixa a casa do morto onde se realiza o velório, e vai ao encontro dos outros amigos do falecido que preferiram não ir ao velório e resolveram se reunir para jogar cartas. O grande amigo descontraidamente toma seu lugar à mesa e no jogo que o falecido costumava ser um dos parceiros. É uma obra para refletir sobre a insignificância de nossa existência e a superficialidade de nossas relações, e para alguns leitores, certamente pode ser uma obra perturbadora.

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