Aluna inteligente

Colunista no Correio do Povo desde 2004

Faltavam apenas alguns minutos para a hora do recreio, dez horas da manhã. A professora da escola primária já concluía sua segunda aula matutina, quando um dos alunos interrogou:

– Tia Mercedes, o que é o amor?

Antes de a professora iniciar uma explicação, bateu a campainha anunciando o intervalo. Criativa, tia Mercedes recomendou aos alunos:

– Meninos, deem uma volta pelo pátio da escola durante o recreio. E tragam aqui para sala alguma coisa que desperta em vocês o sentimento do amor, ok?

Meia hora depois, ao retornarem à aula, cada qual foi mostrando sua descoberta.

Jônatas, 12 anos falou:

– Eu trouxe essa flor recém-desabrochada, linda como o amor.

– Esta borboleta de asas coloridas me lembra o amor – explicou Madalena.

Luiz Antônio, sempre esperto e original, tomou a palavra:

– Este filhote de passarinho eu encontrei no chão, caído. É delicado e terno como o amor.

Tímida e silenciosa, Martinho estava de mãos vazias. Instalada a falar, ela sintetizou:

– Vi a flor e senti seu perfume. Mas preferi não arrancá-la da roseira para que outras pessoas possam sentir seu perfume. Observei também a borboleta colorida, mas decidi deixa-la livre para continuar voando, sem aprisiona-la. Meus olhos perceberam também o filhote de passarinho. Subi na árvore, com dificuldade. Ao ver o olhar triste da mãe… resolvi recoloca-lo no ninho. Trago o perfume da flor, a liberdade da borboleta e a gratidão que percebi nos olhos da mãe do filhote de passarinho…

A classe inteira bateu palmas.

Comovida, enxugando duas lágrimas, a professora Mercedes abraçou Martinha que, mesmo de mãos vazias, falara com tanta humildade e eloquência sobre a beleza do amor.

Jamais esquecerei o singelo depoimento que escutei outro dia na casa de um amigo. Isabel, oito aninhos, falou:

– Mamãe, quando a gente não sabe o que fazer… a gente reza, não é?