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Os oitenta e cinco anos da execução do casal, Lampião e Maria Bonita é tema de boas biografias que demostram como o cangaço sintetiza práticas criminosas ainda em uso no Brasil, nos dias de hoje.
Virgulino Ferreira, o Lampião, já aterrorizava o Nordeste desde 1921, quando começou a vida de crimes para vingar o assassinato do pai. Lampião estava de passagem pela Bahia onde morava uma jovem admiradora. Foi à casa de Maria de Déa para saber quem era a menina que tanto falava dele.
Maria havia se casado na adolescência com um primo muito mais velho e decidiu abandoná-lo para se juntar ao cangaceiro Lampião em 1930, assumindo o nome de guerra de Maria Bonita. Com apenas 27 anos, jovem e bonita foi a primeira mulher a acompanhar bandoleiros que percorriam da Bahia ao Ceará saqueando cidades. Até então os membros do bando tinham amantes eventuais ou sustentavam a esposa em residências fixa. Depois de Maria Bonita, outras mulheres entraram para a vida errante do cangaço. A presença de mulheres no bando não chegou a ser uma conquista feminista: as cangaceiras ainda eram traídas pelo marido (Maria Bonita inclusive) não tinham voz para impedir a violência sexual que os cangaceiros exerciam nas cidades que atacavam.
Virgulino Ferreira só exerceu seu poder graças a uma rede de contatos. Em outras palavras, corrompia: comprava armas e munição da ala podre da polícia. E matava desafetos de coronéis que lhe davam guarida e o presenteavam com itens de luxo, perfumes caros e o uísque White Horse. Tal qual os milianos de hoje, Lampião “cobrava proteção” ao comércio. Dava entrevistas esporádicas para aliciar a simpatia da opinião popular.
Lampião e Maria Bonita gostavam de ostentar a riqueza acumulada. O cabo do facão da primeira-dama do crime era de ouro e marfim.
O casal foi emboscado e morto no sertão de Sergipe, em 1938. Lampião tinha 40 anos; Maria Bonita, 27. De 34 cangaceiros, onze morreram. O tenente João Bezerra, que comandou, a luta final exibiu a cabeça dos mortos em várias cidades do Nordeste. As práticas em que se misturam o crime violento e a cumplicidade com o poder seguem por aí.