André Carrinho: o homem forte do Palmas

Técnico e vice-presidente do clube do Sudoeste, ele falou sobre os nuances da dupla função e revisou os melhores momentos de sua trajetória. Em março, o treinador completou 200 jogos à frente da equipe

André Carrinho. Aos 39 anos, o comandante – dentro e fora das quadras – do Palmas Esportes acumula uma trajetória eclética no esporte, mas que nos últimos seis anos tem se resumido ao clube do Sudoeste do Paraná
Ele iniciou a trajetória no futsal como árbitro. Entre 2000 e 2014, fez parte do quadro da Federação Paranaense de Futebol de Salão (FPFS) e apitou partidas das três divisões do estadual. Nesse intervalo de tempo, quando se formou em Educação Física, foi o preparador físico do extinto Palmas Futsal, na Série Ouro. Na época, ele trabalhou ao lado de Marquinhos Xavier, técnico que despontou para o cenário nacional da modalidade, até alcançar a Seleção Brasileira. 


Fundação do Palmas Esportes 
O período de curta existência da equipe fez com que André voltasse a atuar como árbitro. Após 2007, a cidade ficou sem representante no Campeonato Paranaense, o que incomodava os torcedores. 
André, que nasceu no município, então ajudou na formação do Palmas Esportes, em 2012. O foco era a disputa da Copa Sudoeste – de cunho amador. Mas o sucesso, com direito a título da competição, fez com que os ânimos dos palmenses alimentassem a entrada na Série Bronze. O que veio a acontecer em 2014
Logo no segundo ano de participação, o acesso à Série Prata foi assegurado. Duas temporadas na segundona foram suficientes para alçar o clube à elite, onde está desde 2018. 


De técnico contestado à acumulação de funções
De lá para cá, se muita coisa mudou no Palmas, mas o mesmo não pode se dizer do treinador. É mesmo desde a primeira e última partida: André Carrinho. Surpreende a longevidade? Mais impressionante é o fato de André dividir a função dentro da quadra com a de vice-presidente, o que gera polêmicas e críticas.

"Quando iniciamos, eu era um diretor, acumulava várias funções. Mas preferi, depois de um tempo, focar apenas nos treinos e indicar outra pessoa para a diretoria. Fizemos isso e foram os piores meses do clube. As pessoas que foram para a diretoria queriam copiar ‘coisas de time grande’: mandar técnico embora, pressionar e tal”.
Para André Carrinho, a ousadia dos novos treinadores refletia a falta de experiência no trato com o futsal. Com uma crise interna, a volta dele para a diretoria foi anunciada, e dessa vez em um cargo de maior poder: vice-presidente. “Eles (os antigos diretores) queriam que eu saísse do comando da equipe a todo custo, mas a comissão técnica e a outra parte da diretoria barrou isso. Esses diretores saíram do clube e eu então voltei”.  


Coadjuvante de luxo do futsal do Paraná

Elenco e comissão técnica do Palmas para a temporada 2018/Foto: Reprodução

Durante os seis anos de trabalho como técnico do Palmas, André tornou o clube um “coadjuvante” do cenário estadual, que não teve grandes feitos nem grandes quedas, mas que está entre os 14 melhores do estado – e de forma consolidada. Em 2017, a equipe representou o Paraná na edição de estreia da Copa do Brasil. Fato lembrado com orgulho pelo treinador. 

“Em 2018, nós fizemos um grande time para a Série Ouro. Passamos apenas duas rodadas fora da zona de classificação para a segunda fase, justamente a 1ª e a última. Se Dois Vizinhos foi a surpresa no ano passado, nós éramos para ser em 2018, mas a perda de algumas peças importantes foi crucial para nossa classificação”. 


As vantagens da dupla função
Perguntado se o fato de ser o vice-presidente lhe garante “respaldo” como técnico, André concorda e ainda expõe “vantagens” em relação aos colegas de outros clubes. “No geral, os técnicos têm medo de jogar com goleiro-linha, por exemplo, pois isso pode acarretar um resultado ruim seguido de demissão. Eu já consigo me arriscar mais. A minha condição (de vice-presidente) me permite ser corajoso em momentos como esse. A torcida reclama, chia. Está no papel dela, mas é difícil influenciarem uma decisão da diretoria”.

André desmistifica a “faceta” e diz que a dupla função "treinador-diretor" é comum no futsal do Paraná. “Você tem o Anderson Valério, no Telêmaco Borba (clube feminino), tínhamos o Cidrão no Matelândia, o André Demczuk no Irati. Não considero isso algo ‘legal’, pois isso, para o treinador, acarreta muito mais dedicação. Além de treinar, tenho que acertar o salário do atleta. Outros técnicos podem dedicar seu dia estudando o adversário, eu não consigo. Preciso correr atrás de alimentação, de dinheiro para pagar arbitragem”. 
Segundo ele, o cargo de técnico já foi, por iniciativa sua, colocado a disposição, mas colegas impediram sua saída, que foi adiada. “Quero ficar só na diretoria e trazer um treinador de fora. Vai fazer bem ao elenco e aos torcedores terem outra experiência. Tenho dedicado meu tempo ao ciclismo, outra paixão minha, e nos próximos anos pretendo intensificar isso, então terei que retirar tempo dado ao futsal”. 


Momentos marcantes 

Contra o Cascave, na estreia da Série Ouro 2020, André completou 200 jogos no comando do Palmas
Foto: Reprodução

Com 200 partidas no comando da equipe, completas na derrota para o Cascavel, na estreia da Série Ouro deste ano, André elegeu duas entre as partidas mais marcantes à frente do Palmas. “Ambas foram contra o Cascavel. Em 2018, na estreia na Série Ouro, o ginásio estava lotado, a torcida estava eufórica e fizemos 7×2. No ano passado, aplicamos incríveis 7×0 neles”. 


Crise financeira
De acordo com comandante, o Palmas está estruturado para encarar a crise motivada pela pandemia de covid-19 e sair “vivo” dela. “Nós reduzimos os salários dos atletas em 50%. Perdemos poucos patrocinadores, mas muito sem a bilheteria. No entanto, iremos cumprir todos os nossos compromissos até o fim do ano”. 


Atuação da Federação
Ele criticou a atuação da Federação durante o período de paralisação. “Poderiam nos ajudar mais. Os contratos que ela tem com os patrocinadores, poderiam ser utilizados para repassar algum valor aos clubes. Claro que, para algumas equipes esse repasse poderia significar pouco, para clubes da Série Bronze, por exemplo, deve ser suficiente para mantê-los ativos. Ainda não falaram em abonar taxas. A Federação tem força para buscar junto ao comércio do Paraná maneiras de nos ajudar. Estão falhando nisso e espero que para frente tenham grandes ideias para nos ajudar, como foi a Copa Paraná, onde acertaram premiação e o sorteio de um carro”. 


Uma oligarquia "saudável"?
Apesar de admitir certa “oligarquia” na administração do Palmas, André Carrinho encerra a conversa ressaltando que o clube é estável, indo na contramão de outros projetos antigos da cidade. 
“Geralmente, os clubes se apoiam em poucas empresas. A Copagril é prova disso. A empresa homônima era responsável por boa parte da receita. Aqui em Palmas, tivemos esse exemplo entre 2006 e 2007, quando outro clube disputou a Série Ouro com um patrocinador máster bancando a sobrevivência e, quando este saiu, o fim do projeto foi inevitável. Nós buscamos o caminho contrário com o Palmas Esportes. Temos 70 patrocinadores, com valores pequenos que no montante mantêm os projetos”.


Nas folgas, o treinador dedica tempo à outra paixão: o ciclismo/Foto: Reprodução