Alunos da escola Ver. Florindo Pelizzari fazem horta de plantas medicinais

Projeto nasceu sob coordenação da professora Daiane Ferreira, após ver que os estudantes pediam para sair tomar um “chazinho”, como forma de carinho com as funcionárias

Na Escola Vereador Florindo Pellizzari, em Laranjeiras do Sul, um simples costume de pedir “um chazinho” transformou-se em um projeto pedagógico que ultrapassou as paredes da sala de aula e conquistou inscrição no programa Agrinho, concurso de práticas escolares do Paraná. A iniciativa nasceu de forma espontânea, quando a professora Daiane Ferreira percebeu que seus alunos do 4º ano sempre recorriam às funcionárias da escola, especialmente à Dona Sebastiana, para tomar um chá, não apenas como remédio, mas como gesto de cuidado e aconchego.

A partir dessa observação, a professora propôs uma conversa. “Em casa, suas mães ou avós também fazem chá?”. As respostas renderam histórias sobre hortas, pomares e saberes passados de geração em geração. Os alunos lembraram receitas, descreveram plantas e compartilharam que muitas famílias mantêm canteiros com ervas medicinais.

Foi o ponto de partida para criar um horto na própria escola, aproveitando pneus e espaço ao ar livre. As mudas vieram das casas dos estudantes, doadas por pais, mães e avós. Entre elas, camomila, hortelã, erva-cidreira, guaco, carqueja, espinheira-santa e até a curiosa “folha de dipirona”, lembrada por um dos alunos.

Pesquisa com afeto
Antes de plantar, a turma foi a campo, cada criança entrevistou um familiar ou membro da comunidade, de preferência, alguém mais velho, para registrar quais plantas cultivavam, para que serviam e quem lhes ensinou sobre elas. As respostas mostraram a força da tradição oral e a importância do saber popular. “Alguns entrevistados eram semianalfabetos, mas detinham um conhecimento riquíssimo sobre ervas e cuidados. Esse saber, se não for registrado e valorizado, corre o risco de se perder”, destacou a professora.

O material coletado foi organizado em tabelas, com nome da planta, uso, modo de preparo e autor da informação. Tudo ficou exposto durante a culminância do projeto, aberta à comunidade.

Dia de festa
A apresentação contou com cartazes, pacotinhos de ervas secas e uma mesa com diversos tipos de chá preparados pelos próprios alunos. “Foi emocionante ver as crianças puxando os pais pela mão para mostrar o que haviam feito, orgulhosos de cada detalhe”, contou a coordenadora da escola Aline Zattera.

A participação das famílias foi intensa, tanto na doação de mudas quanto na visita à exposição. Alguns pais, antigos alunos, elogiaram a abertura da escola para mostrar o trabalho dos filhos.

Mais que plantas
Além do conhecimento sobre plantas medicinais, o projeto fortaleceu vínculos e ajudou no desenvolvimento comportamental da turma, considerada “desafiadora” no início do ano. A professora Daiane usou estratégias de incentivo, como a “Lojinha da Dai”, onde os alunos podiam trocar pontos de bom comportamento e tarefas por prêmios. “Eles se sentiram protagonistas. O projeto deu certo porque partiu da realidade deles, do que viviam em casa. Não foi algo imposto, mas construído junto”, destacou.

Continuidade
Mesmo após a feira, o horto segue sendo cuidado e ampliado pelos estudantes, que continuam levando novas mudas. A equipe escolar planeja revitalizar o espaço, transformando-o também em um ambiente de leitura e convivência. “O mais bonito é que não foi só sobre plantar, mas sobre cultivar afeto, respeito e orgulho pela própria cultura”, concluiu Daiane.