Crise do leite ameaça 690 famílias e R$ 122 milhões em Laranjeiras do Sul

Produtores enfrentam preços abaixo do custo de produção; mobilização inclui moções nas câmaras de Laranjeiras, Quedas e Espigão, e pedidos de medidas emergenciais ao governo federal e estadual

A crise no setor leiteiro voltou a ser tema de debate em Laranjeiras do Sul. Durante a sessão ordinária da Câmara de Vereadores, na última segunda-feira (08), o presidente da Cooperativa dos Produtores de Leite do município (Colels), Lauro Schuster, fez um alerta sobre a grave situação vivida pelos agricultores.
Segundo Schuster, o preço pago atualmente ao produtor está abaixo do custo de produção, o que tem provocado endividamento, desestímulo e até ameaça à sobrevivência de muitas pequenas propriedades. “Vivemos um problema estrutural que atinge todo o Paraná e também o Brasil. Precisamos de medidas concretas”, destacou.

Setor vital
Em Laranjeiras, cerca de 690 famílias vivem da produção de leite, que soma mais de 47 milhões de litros por ano e movimenta aproximadamente R$ 122 milhões na economia do município. Mesmo com tamanha relevância, o setor enfrenta dificuldades crescentes.
Entre os principais entraves apontados estão a concorrência desleal com o leite importado e o clandestino, que entram no mercado sem controle e reduzem a competitividade do produtor local. O paradoxo, segundo Schuster, é que enquanto o consumidor paga caro nas prateleiras, o produtor vê sua renda encolher.

Apelo de Quedas e Espigão Alto
A preocupação também é compartilhada em outros municípios. Meysson Vettorello, engenheiro agrônomo, produtor e presidente da Associação dos Produtores de Leite de Quedas do Iguaçu e Espigão Alto do Iguaçu, gravou um vídeo dirigido aos colegas produtores e lideranças políticas.“Procurem seus vereadores, prefeitos e lideranças. Precisamos de apoio nesse momento tão difícil. Desde 2023 enfrentamos essa crise e pouco foi feito pelo governo. Pelo terceiro ano consecutivo, o preço cai justamente no inverno, agravando ainda mais a situação”, disse.Vettorello reforçou que os produtores de leite não têm partido político e pedem união de todas as representações. Ele destacou que o Paraná produz cerca de 4,6 bilhões de litros de leite por ano, movimentando aproximadamente R$ 12 bilhões na economia estadual.
No Estado, são mais de 110 mil produtores, sendo 86% da agricultura familiar. Na cooperativa que ele preside, o impacto é expressivo: em Quedas do Iguaçu, são 800 produtores, que movimentam cerca de R$ 90 milhões por ano. Já em Espigão Alto do Iguaçu, são 100 produtores, responsáveis por R$ 40 milhões anuais. “Cada vez menos famílias conseguem permanecer na atividade, que exige dedicação diária, sem férias nem folga, 365 dias por ano”, ressaltou.Entre as medidas emergenciais defendidas, estão a retomada do antidumping contra importações, a fiscalização rigorosa do leite reidratado, o apoio ao projeto do deputado Luis Corti sobre o tema e, em médio prazo, a criação de um Instituto Nacional do Leite. Outras propostas incluem estimular o consumo interno, como a inclusão do leite no Bolsa Família e o fortalecimento da merenda escolar.

Mobilização em Quedas do Iguaçu
A mobilização já chegou à Câmara de Vereadores de Quedas do Iguaçu, que lotou o plenário na sessão da última semana O espaço da tribuna foi aberto para representantes da classe exporem as dificuldades enfrentadas diante do avanço das importações e reforçarem o pedido de apoio político.Na ocasião, foi aprovada por unanimidade a Moção de Apelo nº 003/2025, que será encaminhada ao Governo do Paraná, deputados estaduais, Governo Federal, Ministério da Agricultura, Conab, Conselho Monetário Nacional e Congresso Nacional. O documento cobra medidas urgentes para enfrentar a crise e garantir condições de sobrevivência aos produtores.A presidente em exercício da Câmara, vereadora Carlise Priscila Kazmierczak, destacou a importância da união do Legislativo. “Essa mobilização de todo o plenário unido pelos produtores rurais que vivem do leite é extremamente importante. Quando cada parlamentar corre atrás dos seus deputados e pressiona nos ministérios, a cobrança fica maior e a pressão política aumenta. Não podemos aceitar soluções temporárias, precisamos de medidas definitivas para dar segurança ao produtor”, afirmou.Ela reforçou ainda que o movimento representa um pedido de apoio coletivo. “Quando levamos essas demandas, mostramos que estamos organizados e lutando. Nossos produtores trabalham de sol a sol e precisam da segurança de que vão receber pelo que produzem. O governo tem que se posicionar e tomar medidas que façam diferença real na vida de cada agricultor da nossa cidade”, concluiu.

Apoio político em Laranjeiras
Em resposta à fala de Lauro Schuster, os vereadores de Laranjeiras também manifestaram apoio unânime à causa, reconhecendo a importância do setor para a região. Como encaminhamento, ficou definida a elaboração de uma Moção de Repúdio contra a atual situação do mercado do leite, a ser enviada aos governos estadual e federal, à Assembleia Legislativa, ao Ministério da Agricultura, à CONAB e ao Congresso Nacional.Além disso, o líder do prefeito na Câmara, vereador Rodrigo Rocha Loures, entregou a Schuster uma carta enviada pelo prefeito Jaison Mendes. Segundo ele, o documento reafirma o apoio da administração municipal aos produtores e detalha programas da Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente voltados ao fortalecimento da atividade.