“Depressão é uma doença, não um estado de espírito”
Muitas vezes o próprio doente não percebe a gravidade, segundo a psicóloga Fernanda Bonini Victor
O Brasil é o país com a maior taxa de pessoas com depressão da América Latina. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), 5,8% dos brasileiros têm depressão. Estima-se ainda que entre 20% e 25% da população já teve, tem ou ainda sofrerá com ela.
Por isso, estar bem informado sobre o tema é fundamental tanto para quem se encontra nessa situação quanto para quem têm pessoas queridas sofrendo com a doença e busca meios para ajudar.
Quando se fala em depressão é importante lembrar que é uma doença, não um estado de espírito ou maneira de ser, que a pessoa dificilmente vai procurar ajuda porque é muito difícil, na maioria das vezes o próprio doente não dá o real significado e importância para a doença e isso tende a, cada vez mais, a piorar o estado do doente.
Como identificar
É importante observar se a pessoa mudou, em que ela mudou e porque ela mudou. Há mudanças significativas seja a forma de se comportar, se relacionar e inclusive o surgimento de sintomas físico/biológicos muitas vezes relatados pela própria pessoa depressiva e que as pessoas que convivem identificam mas não associam a doença depressão.
“É comum confundirem a doença depressão com pessoas que possuem comportamentos depressivos (é aquela pessoa mais quieta, mais tímida). Embora os dois tipos de pessoas devem procurar um profissional capacitado para fazer o diagnóstico e iniciar o tratamento o quanto antes. Quem faz o diagnóstico é o médico ou psicólogo”, diz a psicóloga Fernanda Bonini Victor.
Quais são os sinais
Segundo Fernanda é importante observar vários aspectos, pois há mudanças comportamentais e biológicas que são facilmente notadas. Um dos indícios mais comuns é o cansaço e a falta de disposição para a realização de atividades que em muitos casos já foram prazerosas.
“A pessoa pode se tornar mais triste, desanimada, sentimentos como culpa e inadequação. A autoestima da pessoa pode se apresentar mais baixa que o normal, a pessoa pode começar a se isolar, a concentração e a memória podem ser afetadas, a pessoa pode demonstrar maior irritabilidade, o raciocínio pode aparentemente ficar mais lento”, explica.
Fernanda ressalta também as mudanças biológicas, no sono, no apetite e no corpo.
“Alterações no sono são bastante comuns, seja a perda do sono ou a pessoa passar a dormir por períodos maiores do que o normal. Acontece o mesmo com o apetite. É comum as pessoas ganharem ou perderem peso rapidamente decorrente ou não de alterações no apetite. Além das dores pelo corpo, podem surgir dores musculares, de cabeça, cólicas, azias, diarreia, sensação de pressão no peito”, diz
Como ajudar?
A primeira atitude é fazer com que a pessoa busque ajuda profissional de um psicólogo ou médico. Tratamentos alternativos vem sendo cada vez mais apresentados, mas vale lembrar que não substituem a psicoterapia e as intervenções medicamentosas que somente o médico pode fazer. Essas terapias vem como um tratamento complementar e não como forma de substituir os tratamentos com médico psiquiatra e o psicólogo.
Como tocar no assunto
Cada pessoa terá uma forma mais confortável para ser abordada, seja uma conversa sincera, seja compartilhar um texto ou entrevista, assistir um filme para iniciar essa conversa.
Fernanda explica que é importante fazer a pessoa sentir que tem amigos e que há pessoas preocupadas com ela e que estão dispostas a acompanhar e ajudar na fase do tratamento como ao longo da vida.
“A pessoa que vai ajudar um amigo ou parente precisa antes de tudo ter paciência e empatia, se mostrar solidário e otimista para com quem precisa de ajuda. O doente precisa sentir que ele não está sozinho e que o tratamento adequado vai melhorar e muito sua qualidade de vida. Somos seres biopsicossociais, ou seja, aspectos biológicos, psicológicos e sociais podem causar essa doença que mata e pode ser a entrada de outras doenças físicas”, completa Fernanda.