Fernanda Bonini: o não ter medo de ser diferente

Em homenagem ao Dia Internacional da Mulher continuamos nossa série de entrevistas, “Lugar de Mulher é onde Ela Quiser” desta vez com a psicóloga Fernanda Bonini!

A psicóloga fala do empoderamento feminino por meio da independência emocional e financeira, usando de exemplo sua própria vivência

Mesmo nos dias de hoje, mulheres que fogem dos padrões inevitavelmente chamam a atenção por não seguirem os arquétipos que a sociedade impõe. A coragem e irreverência delas costumam assustar muitas pessoas. A psicóloga do Tribunal de Justiça, Fernanda Bonini, de 43 anos, fala dos desafios de ser uma mulher independente e que não tem medo de julgamentos.

“Eu nasci em São Paulo e fui para Umuarama com quatro meses. O empoderamento feminino em minha vida começa pela minha mãe, que também sempre foi uma mulher muito forte e buscou formas de trabalhar e cuidar dos filhos”.

Fernanda lembra que ficou em Umuarama até seus 26 anos e quando estava terminando a faculdade ficou noiva e o plano era casar e ir morar na Itália. “Tudo estava acertado para fazer mestrado e doutorado em Roma, inclusive meu marido já tinha emprego garantido lá. Só que aí eu fiquei grávida”.

Logo no início da vida a dois, a psicóloga conta que percebeu que seu filho ia nascer em uma casa não tão saudável, pois haviam alguns problemas entre o casal. “Me separei grávida de seis meses. Com a gravidez meus planos de ir para a Itália se tornaram inviáveis e a minha realidade era maternidade e um emprego urgente pois tinha um filho para cuidar e sustentar. Quando terminei a faculdade veio aquela ansiedade de arrumar um emprego e eu estava naquele período de espera do meu diploma”.

Carreira

Uma amiga que morava em Guarapuava entregou o currículo da recém-formada no Núcleo de Educação de Pitanga, que foi parar em Laranjal, onde foi contratada uma semana antes de receber o diploma. “Como eu era a única psicóloga da cidade eu atendia a Educação, Assistência Social, Saúde e Apae. Depois de mais de um ano passei em um concurso em Marquinho, trabalhei lá por três anos, também sendo a única psicóloga a atender o município. Passei a morar em Laranjeiras e a atender também em uma clínica”.

No terceiro ano em Laranjeiras, Fernanda passou no concurso da prefeitura e foi trabalhar no CREAS, era o primeiro ano da instituição na cidade, e um período de transição do final do Programa Sentinela, e pela primeira vez trabalhando com crianças, idosos e mulheres que tiveram seus direitos violados. “Foi muito bom, naquele momento realmente me vi como profissional na função, no dever, tendo a oportunidade de ajudar mulheres em seu empoderamento, emancipação e superação da situação na qual se encontravam”.

No ano seguinte, foi aberto o CRAS e Bonini atuou como a primeira psicóloga. “Foi o lugar que eu mais amei trabalhar, lá atendi os idosos, fui coordenadora dos Clubes de Mães, trabalhei com muitos grupos e era muito gratificante ver aquelas mulheres que eu atendia, aprenderem algo que poderia proporcionar geração de renda, independência e emancipação econômica através de vários cursos de artesanatos, corte e costura, culinária”.

“Depois das oficinas surgiu a dúvida, onde vai ser aproveitado esse conhecimento. Criamos então, a feira do artesanato na praça. Uma vendia crochê, a outra tapetes de retalhos, lingerie, comidas, etc”.

Nos últimos sete anos, vem atuando como psicóloga Judiciária no Tribunal de Justiça, exercendo na função de perita em processos que envolvam crianças e adolescentes.

Independência

Para a psicóloga, a união de mulheres junto a políticas públicas voltadas para a emancipação feminina, elas poderiam ser muito mais empoderadas.

Outro aspecto relevante levantado por Bonini, é a necessidade das mulheres saberem que são inteiras e que não dependem de ninguém para completá-las, sejam maridos, pais, filhos, namorados. “A mulher tem que ser um todo, quem vier que venha para complementar”.

Um ponto importante que ela defende, é que parte da felicidade da mulher está em aprender a ser independente, tanto emocional como financeiramente, pois essas duas coisas andam lado a lado. “Quando uma mulher se sente completa e auto suficiente, ela paga o preço do prazer, das escolhas e do bem estar dela”.

Fernanda acredita que um dos maiores desafios para as mulheres é o de sair da zona de conforto e do comodismo. “Nossa vida é feita de ciclos compostos por desafios e cada uma tem a opção de ficar naquilo que todo mundo espera ou desafiar-se a ser e fazer o que realmente lhe dá satisfação”.

Ser diferente

Fernanda se descreve como sendo: mãe, psicóloga, servidora pública, dona de casa, motorista, motociclista, roqueira, tatuada, umbandista. Tendo gostos que pode não ser tão comuns para a região. “Creio que a partir do momento que a mulher empodera-se, conquista sua independência financeira e emocional, ela pode ser dar ao luxo de ser e fazer o que ela quiser”.

Com relação a ser mãe, Fernanda levanta a questão de que quem cria homens machistas são as próprias mulheres. “Me preocupa a sociedade que nós mulheres vamos deixar, o futuro são nossos filhos. Cabe a cada uma de nós criarmos nossos filhos para serem os maridos e pais que nós gostaríamos de ter”.