No Dia dos Pais, uma história que revela que a paternidade vai muito além do sangue

“Tiramos força de onde não tem, quem ama um filho vê que não tem dinheiro ou preço que pague”, diz o papai do Miguel e Gabriel, Maycon Sergio, de Laranjeiras

Amanhã (10) é Dia dos Pais, e Maycon Sergio da Silva conta que, desde muito jovem, tinha um desejo que parecia maior do que todos os outros: ser pai. Cresceu cercado de crianças, fossem primos, afilhados ou filhos de amigos, e sempre teve um jeito especial de conquistar o carinho delas. “Eu amo crianças, meu sonho sempre foi ter um filho”, recorda.
O destino começou a realizar esse desejo quando ele e Michele, sua companheira, descobriram a primeira gravidez. A notícia veio acompanhada de alegria, mas também de receio. Logo, chegaram as primeiras nuvens pesadas: o bebê teria problemas de saúde severos, incluindo a ausência de movimentos nas pernas e de um dos braços.
Para muitos, seria um choque insuportável. Para Maycon, foi um chamado para ser ainda mais pai. Via soluções onde outros viam limitações. Já adaptava mentalmente a vida para que nada fosse impeditivo, pensava em construir um carrinho especial para o bebê se locomover. Mas então veio a sentença mais dura, dita por um médico: as chances de sobrevivência eram mínimas.

Cinco dias que mudaram tudo
Miguel nasceu em Guarapuava. Pequeno, frágil, mas com a grandeza de transformar para sempre a vida de quem o esperava. Ficou cinco dias na UTI. Nesse tempo, Maycon ia e voltava entre o trabalho e o hospital, tentando estar presente para o filho e também para Michele, que se recuperava do parto. “Para mim, o mais dolorido não foi a deficiência, mas não poder salvá-lo”, lembra.
E houve algo que cortou ainda mais fundo. Miguel partiu sem que Maycon ou Michele tivessem podido pegá-lo no colo enquanto estava vivo. “Não existe dor maior no mundo do que perder um filho”, diz, com a voz ainda embargada pela lembrança. A perda fez com que Maycon se fechasse. A ideia de ter outro filho parecia distante. O medo de reviver aquela dor era tão grande que ele evitava até segurar bebês no colo. Mas a vida, com sua forma silenciosa de surpreender, trouxe novamente um teste de gravidez positivo. Michele estava grávida outra vez, e a alegria e o pavor andaram lado a lado até o dia do parto.

Quando a voz acalma o choro
Gabriel chegou ao mundo saudável. Maycon se aproximou e falou: “Calma, filho, papai tá aqui”. Naquele instante, o choro cessou. “Tenho certeza que ele reconheceu minha voz. Eu conversava com ele todos os dias na barriga”, conta.
Foi o início de uma nova história. Vieram o primeiro banho, a primeira troca de fralda, as primeiras gargalhadas. Também os tombos engraçados, as imitações de animais e a energia sem fim de um menino de um ano e quatro meses, que enche a casa de vida.

Dois filhos, um amor infinito
Hoje, Gabriel é a alegria diária de Maycon, mas Miguel continua sendo parte essencial de sua paternidade. “Miguel sempre será meu primogênito. Um dia vou me encontrar com ele. Esse amor é para sempre”, comenta. A dor do passado transformou a forma como ele vive o presente. Não há um dia em que não abrace, que não diga “eu te amo” e que não esteja por perto. O medo existe, mas o amor é maior.

Conselho de quem vive a presença
Maycon cresceu sem o pai biológico por perto. Foi o avô quem lhe deu exemplos e valores que carrega até hoje. Por isso, deixa um recado para outros pais: “Mesmo que você não esteja com a mãe, esteja com seu filho. Converse com ele desde a barriga. Abrace, diga que ama”, afirma.

Para Gabriel, já imagina o conselho que quer dar quando ele for adulto. “Corra atrás dos seus sonhos, seja humilde, honesto e ame de verdade. E nunca tenha vergonha de demonstrar amor”, relata.

O avô que virou pai
A própria história de Maycon com a figura paterna ajudou a moldar seu modo de ser pai. Quem, de fato, cumpriu o papel emocional foi o avô. “O meu avô foi um paizão para mim”, lembra. Essa herança de presença, zelo e coragem para amar é parte do legado que ele pretende deixar.
Seja biológico, adotivo, avô que virou pai, tio presente, padrasto de coração ou aquele amigo que veste o papel com amor, todo pai que ama, educa e está presente merece ser celebrado.

Todo pai merece aplauso
Porque ser pai não é acertar sempre, é tentar todo dia, amar do seu jeito, torcer em silêncio, se preocupar sem fazer alarde e vibrar com cada conquista, mesmo aquelas que não foram contadas, mas que se adivinham no olhar. Pois, como diz o papai do Miguel e do Gabriel. “Tiramos força de onde não tem; quem ama um filho vê que não tem dinheiro ou preço que pague”.
E é nesse espírito que Michele, esposa e mãe, deixa um recado especial. “Ao melhor pai e marido que eu poderia ter escolhido, um homem íntegro, de coração puro apesar de tudo. Miguel, Gabriel e eu temos muito orgulho de você. Obrigada por cuidar tão bem de nós, obrigada por ser porto seguro, por ser abrigo em meio ao caos. Não poderia ter escolhido um homem melhor para construir uma família. Te amamos muito, papaizinho!”, salienta.
No fim, entre abraços e palavras que ficam na memória, Gabriel resume o que talvez seja o maior presente que um pai pode receber: o amor incondicional. Feliz Dia dos Pais! Que o domingo seja cheio de amor, gargalhadas e aquela sensação de que, no fim das contas, o melhor presente é estarem juntos.