Projeto cultural incentiva jovens a participar de encontros literários

Iniciativa gratuita reúne em oficinas semanais que unem literatura, cidadania e reflexão social em encontros na Biblioteca Cidadã

A Associação Teatro Unificado de Laranjeiras do Sul (TULS), segue promovendo uma série de oficinas voltadas ao incentivo à leitura e à reflexão social. O projeto ‘Letramento Literário e Vozes Juvenis: Oficinas de Leitura como Prática Cultural’ vem se consolidando como uma importante iniciativa de formação cidadã e cultural no município.

Com financiamento do Governo Federal, gestão da prefeitura e execução pelo TULS, o projeto oferece atividades gratuitas e abertas ao público, com foco especial em estudantes do ensino Médio e pessoas interessadas em literatura e produção textual.

Os encontros acontecem todos os sábados, sempre das 14 às 16 horas, na Biblioteca Cidadã Denilse Guerra Schuber, localizada ao lado do Lago 1. Além de debates literários, as oficinas buscam ampliar o repertório cultural dos participantes e fortalecer o pensamento crítico, estimulando o desenvolvimento pessoal e acadêmico.

Quarto encontro
No último sábado (06), ocorreu o quarto encontro do projeto, que teve como tema o texto ‘Uma festa de ‘índio’, do escritor, professor e doutor Daniel Munduruku, pertencente ao Povo Indígena Munduruku, de Belém do Pará. A obra faz parte do livro ‘Crônicas Indígenas para Rir e Refletir na Escola’ e foi escolhida para conduzir um debate sobre racismo estrutural e estereótipos culturais.

Durante a leitura os alunos descobrem uma experiência pessoal vivida pelo escritor durante uma celebração do Dia do Índio, comemorado em 19 de abril no Brasil. Ele narra como a comemoração se base em representações caricatas e superficiais da cultura indígena, como fantasias feitas de papel, miçangas e simulações da chamada “dança da chuva”.

Essas práticas, segundo o autor, não representam a realidade indígena, mas sim uma visão criada pela sociedade capitalista, que por muitos anos silenciou os povos originários e normalizou expressões preconceituosas.

Estereótipos
Ao longo do encontro, os estudantes discutiram como expressões populares, músicas e versos reforçam estigmas relacionados aos povos indígenas. Munduruku cita exemplos como a canção infantil ‘Indiozinhos’ e letras de artistas conhecidos, como Gabriel o Pensador, que trazem frases como ‘índio quer cachimbo, índio quer fazer fumaça’.

Para o autor, esse tipo de linguagem contribui para a marginalização das culturas indígenas, transformando-as em símbolos distorcidos, sem que suas histórias e realidades sejam narradas por quem as vive. Os debates proporcionados pelo texto incentivaram os participantes a refletirem sobre o racismo estrutural e a forma como ele se manifesta nas escolas, na mídia e em diversas esferas da sociedade. A proposta foi desconstruir visões preconceituosas e promover o respeito à diversidade cultural, entendendo que a literatura pode ser uma ferramenta de transformação social.

Formação
Além de discutir temas relevantes, o projeto busca preparar os jovens para desafios acadêmicos, como provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e vestibulares. Por meio da leitura crítica e da produção textual, os participantes desenvolvem habilidades argumentativas e de escrita, fundamentais para o sucesso educacional e profissional.

As oficinas contam com a presença de autoras e autores locais, permitindo que os participantes conheçam obras da região e compreendam melhor o papel da literatura como expressão cultural. Segundo a coordenação do Tuls Serli Andrade, entre os escritores que integram o projeto estão Nerci Richeta, Gerson Boldrini e Pedro Meirelles, cujas produções dialogam diretamente com a realidade do município. “Nosso objetivo é mostrar que a literatura não é algo distante, mas parte do nosso cotidiano e das nossas histórias. É uma ferramenta para compreender o mundo e construir uma sociedade mais justa e plural”, destaca.

Oficinas
O projeto está aberto à comunidade, sem necessidade de inscrição prévia. Basta comparecer aos encontros na Biblioteca Cidadã. Os participantes recebem material didático e lanches, além de um certificado de 20 horas ao final das atividades.

A proposta se estende até o final de outubro, e cada encontro aborda um tema diferente, sempre relacionado a questões sociais, culturais e literárias. A metodologia utilizada é dinâmica e participativa, incentivando o diálogo entre os oficineiros e os participantes.