Milhares de voluntários se tornam o rosto da esperança em Rio Bonito
Gente comum, como a podóloga Renata Rampanelli, cruzou estados e estradas para ajudar. Uma corrente humana que mostrou ao Paraná que a solidariedade é o maior poder de reconstrução
A podóloga Renata Rampanelli, moradora de São Lourenço do Oeste (SC), não pensou duas vezes quando soube da devastação provocada pelo tornado que atingiu Rio Bonito, no Sudoeste do Paraná. No sábado (08), ela arrumou a mochila, pegou o carro e seguiu sozinha rumo à cidade, a cerca de 140 quilômetros de Rio Bonito, para atuar como voluntária na reconstrução das áreas atingidas. Ficou até a noite da última terça-feira (11), auxiliando nas frentes de limpeza e organização de doações.
“Eu fui sozinha, né? Queria ter ido pro Rio Grande do Sul quando aconteceram as enchentes e não consegui. No sábado comecei a ficar inquieta e pensei que, dessa vez, era aqui do lado e eu conseguiria ajudar mais”, contou Renata.
“A realidade é muito maior”
A podóloga diz que o impacto ao chegar à cidade foi imediato. “Hora que cheguei, eu só sabia falar: ‘meu Deus!’ A dimensão do que a gente vê nas redes sociais não equipara à realidade”, descreveu. “Cheguei na base muito perdida, não sabia com quem falar, o que fazer… cheguei até a cogitar voltar pra casa! Mas pensei que, se Deus tivesse me levado pra lá, era por um motivo”.Em poucos dias, o sentimento de incerteza deu lugar a uma profunda gratidão. “Fui pra ajudar e volto pra casa uma pessoa realizada”, afirmou. “Ver quem tinha perdido tudo lá, se voluntariando, era um tapa na cara toda hora”.
Encontro com voluntários e ajuda nas ruas
No domingo (09), Renata conheceu Willen Rodrigues e Thayna Coradeli, moradores de Laranjeiras, que também haviam se mobilizado para ajudar as famílias atingidas. Movidos pelo mesmo propósito, eles decidiram se unir. “Eu, minha namorada e mais um voluntário que conhecemos ali na hora entramos no carro da Renata”, contou Willen. “A gente saiu por Rio Bonito oferecendo água, marmita e sanduíche pras pessoas que estavam limpando, trabalhando, ou simplesmente tentando recomeçar. Enquanto Renata dirigia, a Thayna ao lado dela ia perguntando quem queria água, comida, nosso colega no banco de trás, apertado com os alimentos ao lado dele e eu no porta-malas, ajudando a distribuir. Foi uma experiência diferente. Com o pouco que a gente é, poder ser útil dessa forma, é totalmente gratificante”, relatou.
Solidariedade que transforma
Renata se emocionou com o espírito solidário que encontrou em Rio Bonito. “Nunca tinha visto tanta gente de bom coração num lugar só. Pessoas que deixaram famílias pra estar lá, porque doar o teu tempo é muito mais difícil que fazer um pix. E elas escolheram estar lá”, relatou.Ela também destacou a acolhida que recebeu de moradores locais: “Fui recebida por pessoas que me levaram pra suas casas sem me conhecer. Isso vem muito com o que eu acredito: que Deus se mostra através de pessoas. E nesses dias em Rio Bonito, eu via Ele o tempo todo”.
“Quero voltar quando a cidade estiver reconstruída”
De volta a São Lourenço do Oeste, Renata leva consigo o aprendizado e a vontade de continuar ajudando. “Volto com o coração muito grato, muito feliz em poder fazer a diferença na vida de alguém. E quero voltar lá quando a cidade estiver reconstruída”, disse.Entre cansaço, emoção e fé, a bombeira resume a experiência em uma frase: “Foram dias que mudaram minha forma de ver o mundo. Fui pra ajudar, mas quem foi transformada fui eu”.
Mobilização de Laranjeiras
A solidariedade também partiu de Laranjeiras, lugar que foi ponto de apoio para Rio Bonito, onde a moradora Laira Piovesan decidiu se voluntariar para ajudar as famílias afetadas pelo tornado. No domingo (09) ela participou da triagem de doações na Faculdade Campo Real e, logo em seguida, integrou uma equipe que saiu pelas ruas de Rio Bonito entregando água e alimentos aos moradores e trabalhadores que atuavam na limpeza e reconstrução da cidade.
“Nós pegamos as doações nos pontos de coleta, como o Centro de Idosos, colocamos na Saveiro e saímos distribuindo: pra população, pra quem tá trabalhando, pra Polícia Militar, Civil, e também pro pessoal que estava arrumando a energia elétrica”, relatou Laira. Ela contou que a situação nas ruas era de grande carência e que a chegada de qualquer ajuda causava comoção. “Quando a gente aparecia com água e comida, todos corriam pra se hidratar e se alimentar. Era um alívio no meio do caos”, lembrou.
Ao fim da jornada do dia, Laira fez um apelo para que mais pessoas se engajem na causa. “Sei que é cansativo, que o psicológico abala, mas pensem que vocês têm pra onde voltar. Eles não têm. Ajudem como puderem!”, pediu a voluntária.



