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Acontecimentos no Brasil e no mundo reacendem debate sobre legalização do aborto

Casos como a criança de 11 anos catarinense forçada a manter o bebê, a exposição da atriz Klara Castanho e a queda do direito ao aborto nos EUA expõem a necessidade da conversa

Durante esta última semana, desde o dia 20, o tema aborto, para muitos um tabu, tem surgido em diversos meios de comunicação, tanto nacionais quanto internacionais.

No Brasil, o caso da criança de 11 anos de Santa Catarina surpreendeu o país após a descoberta que a juíza cuidando do caso pediu para a menina “aguentar mais um pouco”, e a afastou da família colocando a criança em um abrigo para esperar o feto crescer. A menina, que quando engravidou tinha apenas 10 anos, sofreu retaliações de muitas pessoas “pró-vida”, que conforme elas, se preocupavam com a vida do bebê, mais que com a vida da criança que não possuía o corpo para sustentar uma gravidez. Assim como a juíza, para muitos ela deveria esperar o bebê nascer e entregar para a adoção.

Outro caso ainda em nosso País foi a doação legal de um bebê da atriz Klara Castanho, que teve sua privacidade invadida e exposta com a divulgação do ocorrido por colunistas de fofoca e funcionários do hospital. A jovem de 21 anos publicou uma carta aberta em suas redes sociais para explicar a situação, onde contou que foi vítima de violência sexual o qual resultou em uma gravidez indesejada, e pelo curto tempo entre a descoberta da gravidez e o parto, não era possível o aborto, momento em que a atriz decidiu colocar a criança para adoção através de um procedimento legal e sigiloso de entrega voluntária.

Confira a carta aberta da atriz:

https://www.instagram.com/p/CfPvGDkuii1/

Antônia Fontenelle foi uma das principais responsáveis por expor o estupro da atriz e a doação legal da criança durante uma live. A youtuber criticou veemente a decisão de Klara e afirmou que o que ela fez foi ‘abandono de incapaz’, uma distorção dos fatos já que todo o procedimento foi feito dentro da lei e respaldado pela justiça.

O colunista do Metrópoles Léo Dias, afirmou que foi procurado por uma enfermeira do hospital onde Klara realizou o parto. Dias conta que o caso ocorreu a mais de um mês e que o mesmo não iria publicar nada a respeito, apenas publicou após a carta aberta da atriz. A revelação da intimidade da atriz gerou revolta nas redes sociais onde muitos pedem a demissão do colunista.

Mesmo com pedido de desculpas da redatora chefe do Metrópole e do colunista, o estrago já estava feito, Klara sofreu retaliações nas redes sociais por diversas pessoas. A retórica criada da “proteção à criança” como no caso da menina de 11 anos caiu por terra com o caso da Klara onde a pessoas a apedrejaram por ter entregue a criança para adoção legal. Muitos internautas revoltados nas redes sociais afirmam ‘nunca foi sobre proteção às crianças ou bebês, sempre foi sobre controlar o corpo das mulheres, tomar a decisão que deveria ser delas’.

Estados Unidos e a ‘Roe v. Wade’

Seguido pelos acontecimentos no Brasil, coincidentemente na última sexta-feira (24), a Suprema Corte dos Estados Unidos suspendeu as proteções constitucionais ao aborto legal no país, que estava em vigor há quase 50 anos. A bancada da Suprema Corte, formada majoritariamente por juízes conservadores, optou por derrubar a lei conhecida como ‘Roe v. Wade’. A medida de proibição deverá chegar em metade dos estados do país já que pelo menos 26 estados têm textos que restringem ou proíbem o procedimento prontos para entrar em vigor logo depois do anúncio.

A decisão, que era impensável há alguns anos, é resultado de décadas de esforços dos oponentes do direito ao aborto, que agora foram fortalecidos por três indicados na Suprema Corto do ex-presidente Donald Trump. Conforme informações a decisão coloca o tribunal em desacordo com a maioria dos americanos, que são a favor da preservação de Roe v. Wade. Cerca de 70% são a favor em manter a lei.