Memória muscular: o que é, como funciona e por quanto tempo dura?

Um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, publicado na Frontiers in Physiology, mostrou que essas adaptações neuromusculares positivas acontecem em um período médio de quatro semanas

Quando nunca treinamos, é difícil começar. Mas quando retornamos à academia após um tempo parado, a sensação é de que o corpo responde melhor e mais rápido, fazendo com que o recomeço não seja tão difícil ou frustrante.

Poderia ser a chamada “memória muscular” – mas os músculos, na verdade, não têm memória. O que chamamos disso é uma junção de fatores musculares e neurais, registrados pelo sistema nervoso, que tendem a facilitar a retomada do exercício, mesmo após algum tempo sem treinar.

Como funciona

De acordo com a pesquisa publicada na revista Cell Physiology neste ano, existem evidências que o tecido muscular pode ser “preparado” por experiências anteriores positivas com o treinamento de força. Essa preparação pode aumentar as capacidades adaptativas a um estímulo posterior, mesmo após longos períodos longe da academia, explica João Paulo Manechini, coordenador do curso de Educação Física do Centro Universitário Estácio de Ribeirão Preto, no interior de São Paulo.

“Essa experiência positiva auxilia no processo hipertrófico e no ganho de força, mas muito mais relacionado a um aspecto coordenativo (neuromuscular) do que exclusivo do músculo em sí”, afirma Manechini.

Ou seja, quando treinamos regularmente, nosso corpo aprende a coordenar os movimentos musculares de forma mais eficiente, o que nos permite realizar os exercícios com mais facilidade e com menos gasto de energia. Além disso, o sistema nervoso também aprende a recrutar mais fibras musculares, o que também contribui para o aumento da força e da massa muscular.

Quanto tempo dura

As adaptações positivas do corpo levam algumas semanas para que a memória muscular seja “gravada”. Ou seja, não adianta treinar uma semana e esperar que o cérebro manda informações declaradas para os músculos crescerem sendo que você treinou por apenas pouco tempo e fez poucas repetições.

Um estudo da Universidade de Brown, nos Estados Unidos, publicado na Frontiers in Physiology, mostrou que essas adaptações neuromusculares positivas acontecem em um período médio de quatro semanas.

O mesmo estudo apontou que a partir de 2 semanas de inatividade, perdas neuromusculares (massa e força muscular) começam a ocorrer, e tornam-se mais acentuadas à medida que o sedentarismo se prolonga, podendo influenciar, inclusive, os aspectos coordenativos e de aprendizado.

“Em doze semanas já é possível, sem nenhum tipo de treinamento, o corpo já volta a um estado próximo ao pré-treino, a nível de memória”, conta Andrea. Assim como a gente não esquece como andar de bicicleta, não é como se voltássemos para a academia sem saber ligar a esteira, mas a resposta do corpo já é menor.

Experiências negativas atrapalham

Os especialistas ainda destacam que experiências negativas atrapalham o retorno ao treino, pois nosso corpo possui mecanismos que fazem com que ele “queira evitar” experiências que levaram a um trauma anterior.

Movimentos ou exercícios que geram dor, desconforto ou te causaram algum tipo de lesão mais severa, podem ser registrados como “lembranças ruins” e, portanto, responder mal aos estímulos.

“Se você teve uma lesão no joelho, por exemplo, é possível que o seu corpo fique mais propenso a sentir dor quando você fizer exercícios que envolvam esse movimento”, afirma Manechini.

Portanto, se você está retornando à academia após um período de inatividade, é importante começar com calma e ir aumentando a intensidade e a duração dos treinos gradualmente. Além disso, é importante ouvir o seu corpo e parar se sentir dor.