A arte de Natal Bellei: esculturas que transcendem a madeira e têm vida

Vindo de uma família artística, em que a mãe fazia crochê e o pai, peças em madeira, o artesão é reconhecido na cidade pelas imagens religiosas em frente a sua residência

Em Laranjeiras do Sul, na rua José Bonifácio, logo abaixo da Escola Estadual Érico Veríssimo, uma casa se destaca pelas numerosas esculturas em madeira. O autor dessas obras é Natal Bellei, natural de Quedas do Iguaçu e residente em Laranjeiras do Sul desde 1984. Artesão talentoso, Bellei traduz sua fé e experiência de vida em suas criações. Há nove anos, ele mantém um ateliê em Pinhão, onde se dedica à produção de peças por encomenda e à expressão de sua própria inspiração.

História e inspiração

Como o caçula de 11 filhos, Bellei cresceu em um lar onde a arte e o trabalho manual faziam parte do cotidiano. Seus pais, mãe costureira e pai agricultor e carpinteiro, cultivaram nele o gosto pela criação. “Cresci em um ambiente onde me ensinaram de tudo um pouco, e sempre gostei muito de pintura”, relembra Bellei. “Minha mãe fazia crochê, e nós, filhos, também aprendemos. Meu pai fazia cabos para enxada, cangas de boi, cabeçalhos de carroça. Minha família me despertou esse interesse”, afirma.

Sua trajetória artística começou na infância, mas foi no seminário, onde passou dos 15 aos 18 anos, que ele desenvolveu habilidades como o desenho e o uso do retroprojetor. “Fui um dos primeiros a perceber que era possível fazer desenhos com um retroprojetor”, explica.

O seminário também proporcionou experiências que moldaram sua visão sobre a igreja e a arte. “Acredito que a igreja deve usar seus recursos para criar melhores estruturas e atender melhor a comunidade. A música e a arte ajudam a elevar a alma e proporcionar paz”, assegura o artesão.

Artes

Entre suas criações mais significativas está uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, que muito tempo ficou exposta em frente sua casa e posteriormente vendida a um vizinho. “Como católico, sinto que uma imagem de um santo tem grande significado. Ver pessoas acendendo velas e rezando diante da imagem me mostrou que o trabalho valeu a pena”, afirma Bellei. “Essa imagem em particular me deixou um pouco relutante em vender, mas como não me apego a bens materiais, acabei vendendo”, diz ele.

Ele recorda de uma senhora que se acidentou não faz muito tempo. “Uma semana antes do acidente, ela tirou uma foto ao lado de uma imagem de santa que eu produzi. Infelizmente, ela faleceu nesse acidente. Ao ver a foto, senti uma profunda emoção. Aquele momento, imortalizado na fotografia, foi extremamente gratificante para mim”, garante Natal.

Ele também menciona as peças favoritas de sua neta, Sara. “Quando ela nasceu, fiz a corujinha que ela adora, e agora ela também ama a tartaruga”, fala com brilho nos olhos.

Ateliê em Pinhão

Bellei iniciou sua carreira artística em um espaço nos fundos de sua antiga loja de veículos, que eventualmente enfrentou dificuldades financeiras e fechou. Ele ficou com um chalé abandonado às margens da PR-170, no município de Pinhão “Utilizei o espaço para criar o ateliê, junto com um sócio que me ajuda muito, o Luiz Alberto Pereira”, conta.

Hoje, esse é o local de criação contínua, e também de venda, apesar dos desafios logísticos. “Não gosto de expor muito o trabalho online, mas é útil para quem está procurando. Meu espaço é sempre empoeirado devido ao trabalho com madeira e ao tráfego”, explica. Ele também pretende ter um local apenas para exposição das peças finalizadas. “Quero um local que não tenha poeira, para que possam ver as peças como elas são” conta o artista.

Sobre os itens que mais o enchem de orgulho, ele destaca uma peça de 2,35 metros de altura, uma outra imagem de Nossa Senhora Aparecida, que levou aproximadamente oito meses para ser concluída e foi vendida por 15 mil reais. “É gratificante ver a satisfação do cliente quando a obra supera suas expectativas,” afirma.

Inspiração e processo criativo

Bellei destaca a influência de artistas como Benjamin Stankieviski. “O reconhecimento de um artista muitas vezes vem tarde demais. Stankiewicz foi uma grande inspiração para mim. Aprecio muito suas obras na igreja Matriz Sant’Ana”, afirma. Ele também cita Dirceu Rosa de Cascavel, como um dos artesãos que os inspiram.

De acordo com ele, sua criação é alimentada por momentos de relaxamento e inspiração. “Quando tenho uma ideia, começo a projetá-la na mente. Normalmente, ao final do dia, as ideias fluem melhor com um paieiro e um gole de cachaça”, diz rindo.

O processo criativo inclui o corte inicial, uso de motosserra, formão e lixadeira. “Gosto de criar minhas próprias peças em vez de apenas seguir encomendas. É extremamente gratificante ver a satisfação do cliente ao perceber que a obra valeu a pena”, assegura Natal.

Novo espaço e redes sociais

O artesão conta que há três dias sua nora criou um Instagram para divulgar suas obras, e que apesar dele não ter muito contato com esse tipo de divulgação, sabe que a ferramente ajuda muito. “Minha nora sugeriu que eu usasse o Instagram para divulgar meu trabalho, o que achei muito nobre da parte dela. Depois de almoçarmos juntos no domingo, ela criou o perfil e já está trazendo novos seguidores e interessados”, conta orgulhoso.

Ele também fala que procura um local para trabalhar em Laranjeiras, mas que precisa ser amplo e com pouco barulho para ter a concentração necessária para trabalhar. “Estou em busca de um lugar bom para isso, mas nem sempre é fácil de achar”.

Arte e bondade

Para ele, a arte é uma forma de amor. “Para mim, o resumo da vida é que passamos por ela de duas formas: pela bondade ou pela arte. A morte é inevitável e não é uma perda, mas uma certeza que enfrentamos. Pensando de forma filosófica, se as pessoas pudessem encontrar momentos de paz e harmonia com Deus, viveriam melhor e agiriam de forma mais equilibrada”, finaliza.