Desemprego zero em Cascavel!
Cascavel, anos 90. Começam a surgir os primeiros prédios na década que marcou a verticalização da cidade. Nos rústicos tapumes das obras, uma tábua improvisada de placa grafada em garranchos com lápis de carpinteiro: Não há vagas, não insista!. Era quase um insulto, um expurgo para a legião de desempregados daquele Brasil que não deixou saudades.
Cascavel, 2011: os tapumes ganham lonas iluminadas que reproduzem as perspectivas arquitetônicas dos prédios. Nos acessos da obra, placas em letras de computador quase que suplicam: contrata-se carpinteiro, pintor, eletricista, engenheiro, pedreiro… e por aí vai.
O cenário acima, reproduzido a partir da indústria da construção civil, expande-se para todos os demais setores. É o apagão da mão-de-obra na cidade do desemprego zero.
800 no latão
O grupo Mascarello, que emprega 2.350 pessoas em Cascavel, está há quase um ano tentando preencher 150 vagas. No compromisso de cumprir prazos, a indústria contratou uma empresa para buscar gente na região. São 16 ônibus que partem de Cascavel toda madrugada para buscar quase 800 trabalhadores no portão da residência deles em municípios como Anahy, Lindoeste, São Pedro e Iguatu. O mesmo périplo é feito todos os dias por empresas como a Globoaves e a Coopavel, indústrias que estão todos os dias batendo as portas da Agência do Trabalhador para recrutar gente. Em regra essas vagas não pedem sequer experiência anterior ou qualquer qualificação, ainda assim não são preenchidas, diz Maristela Becker, da agência.
Varejo
O apagão mais recente afeta o varejo local. Com a inauguração do Allmayer e do Beal, somada a do Super Muffato do Floresta (prevista para novembro), escasseou-se o que já era raro. Aqui outra razão para dificuldades, segundo fonte da Agência do Trabalhador: Quando o candidato à vaga percebe que terá que trabalhar eventualmente aos sábados, domingos e feriados, desiste do emprego. Enquanto isso, aquela placa escrita a lápis de carpinteiro ardeu na fogueira da história. Ficou no tempo em que o patrão era o doutor. Hoje, doutor é o vossa excelência, o trabalhador.