Taxa de homicídios no país apresenta baixa em comparação aos 10 anos anteriores

As mortes do último ano registradas pelo 16º anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram queda em comparação com 2020 e a menor taxa desde 2011

De acordo com dados divulgados nesta terça-feira (28) pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública durante o último ano, foram registrados 47.503 homicídios, equivalentes a 130 mortes por dia. Em comparação com 2020 os dados são de queda e são os menores desde 2011. Especialistas explicam o fato como frutos da estabilização dos conflitos entre facções criminosas e o estabelecimento de programas estaduais focado no público jovem.

O sociólogo Renato Sérgio de Lima relata que em comparação internacional o número ainda é alto. De acordo com ele, os números deste ano foram comparados com os índices de 102 países. “O Brasil é líder na quantidade absoluta de mortes e está entre os dez países mais violentos do planeta”, afirmou Lima. “Quando se olha com zoom, 30 cidades brasileiras têm taxas acima de 100 mortes por 100 mil habitantes”.

O levantamento aponta que dentre as 30 cidades mais violentas do Brasil, 13 são da Amazônia Legal e a maior parte situa-se na região de fronteira. “Existe um processo de migração da violência para a região Norte”.

Influência de facções criminosas

Lima explica a causa disso como sendo efeito da atuação de facções de bases prisionais e milicias na região, o que provocou os altos índices de violência.

Segundos os índices os homicídios caíram em todas as regiões, com exceção do Norte, onde foram registrados 6.291 assassinatos no último ano. Em 2020 foram 5.758. A alta foi no Amazonas, com os registros de mortes subindo de 1.121 para 1.670. a violência local ganhou destaque recentemente com o assassinato do indigenista Bruno Pereira e do jornalista britânico Dom Phillips em Atalaia do Norte, na fronteira do estado.

Desde 2017 ocorrem conflitos na Amazonia, provocando diversas disputas entre facções, que anteriormente resultaram na alta de mortes no Nordeste, que naquele ano chegaram a registrar 27.288 homicídios. No momento, a região lidera em registros, porém passa por uma estabilização, foram 20.500 ocorrências em 2021, período em que outras regiões estiveram no radar das facções. “Tabatinga (AM) hoje é considerada a segunda principal cidade de tráfico internacional de drogas e armas. Só perde para a rota de Ponta Porã (MS)”, relata Lima. “A rota de Ponta Porã é controlada pelo PCC (Primeiro Comando da Capital), já a de Tabatinga é controlada pelo Comando Vermelho. Mas essas rotas são disputadas.”

A alta de mortes se justifica, de acordo com Lima, por conta dos conflitos pelo controle de regiões como essas, quanto outros locais saem de foco. “A área de Tabatinga ainda tem toda a interligação com as questões ambientais”, lembra Lima sobre as execuções de Bruno Pereira e Dom Phillips, no Vale do Javari, perto dessa região.

Olhar atento aos jovens

Lima afirma que só o tráfico não explica as variações nos homicídios, existem outros fatores, como a estrutura demográfica da população brasileira. “A gente sabe que quem morre mais e mata mais são os jovens”.

O sociólogo cita que as faixas de 10 a 19 anos e 20 a 29 anos influenciam muito os indicadores. “É nesse segmento que a dinâmica da violência letal tem maior peso e, portanto, é nesse segmento que a gente tem que olhar com mais atenção o que está sendo feito”.

Ele ressalta que programas específicos dos governos estaduais tiveram influência na queda dos homicídios, evitando, principalmente que jovens entrem para o crime organizado. “Esses programas, segundo os estudos disponíveis, funcionam. O problema é que são circunscritos à liderança do gestor daquele momento”.