Estou decepcionada com o PT e incrédula com os que ocuparam seu lugar. “A Lava-Jato” nos mostrou que todas as tendências e correntes ideológicas estão unidas no crime. A propina conseguiu algo incrível: unir esquerda e direita”. É uma coisa trágica. Esses corruptos invadiram Brasília feito ETs e dominaram o país. Sempre votei no Lula, mas minhas decepção começou há tempos, em 2012, quando ele visitou Paulo Maluf para pedir apoio a candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, bem antes da Lava-Jato. Ali a máscara caiu, e ele virou um anti-herói. Sempre vejo as coisas do ponto de vista da dramaturgia. Nessa cena, o antagonista disse ao herói: “Se você quiser meu apoio, venha ao meu reino”. Ele foi e achou que ia sair vivo. O momento é tão surpreendente que não sabemos o que vai acontecer amanhã. Brasília continua como se nada tivesse acontecendo. A equipe do Temer está toda envolvida com a corrupção. Mas, quando gritam “Fora, Temer”, não temos quem colocar no lugar. A Lava-Jato nos mostrou que todas as tendências partidárias e correntes ideológicas estão unidas no crime. Então a propina conseguiu algo incrível: unir esquerda e direita. Estamos mergulhados nessa lama desde sempre. Não vejo esperança nesse governo, nem nada. Somos um país em que metade da população não tem saneamento básico e os corruptos aparecem na televisão falando com uma naturalidade cínica, quase cênica, como compravam os políticos. Nossa desgraça está nas valas que correm a céu aberto e na podridão que comanda esse país. E o pior é que nem começamos a passar as coisas a limpo. Ainda estamos na fase de pôr as cartas na mesa. Muitas descobertas viram a tona. Vivemos uma tragédia. Ainda estamos no terceiro ato. Acho que o Temer tinha que ter saído junto com a Dilma, já que era uma chapa só. Eles foram cúmplices, coniventes, aderentes. No Brasil, sem o PMDB, ninguém se elege. Quando acaba o primeiro turno das eleições, os dois candidatos sempre empatam e vence quem formar coligação com o PMDB, que é uma praga desde os tempos do José Sarney. Fui convidada tanto por Itamar Franco quanto por José Sarney para ser Ministra da Cultura, mas nunca cogitei aceitar. Eu mal me aguento do lado de cá. Se fosse ministra, acabaria como marionete de assessores. Por uma deformação profissional vinda do teatro, sempre enxergo a vida pelo olhar dos personagens que interpretei. Não tenho como exercer outro ofício. Quem quiser que se manifeste. Temos de ter uma visão democrática. Mas quem optar por se posicionar tem de ter paciência para aguentar as discordâncias. Sempre vai ter gente a favor e contra.
( Fernanda Montenegro)
Irlanda
Moro e trabalho na Irlanda, um país que tem segurança, emprego e educação gratuita de qualidade. Neste ano e meio aqui, nunca conheci um sindicalista que não trabalhe. As greves existem sem violência e todos acabam se entendendo sem afetar o direito de ir e vir das outras pessoas. Os impostos são altos, mas ninguém reclama. Ele é convertido em benefícios à população. Existe seguro-desemprego, mas as pessoas estudam durante o benefício e são pagas para isso. Aposentam-se aos 65 anos, por tradição, pois cada empresa e cada funcionário define esse limite por contrato e em mútuo acordo; todos se orgulham de trabalhar enquanto a saúde permite. A aposentadoria não é integral, e sim um mínimo para despesas mensais qualquer coisa a mais vem da pensão privada ou de mais trabalho. Sim, as pessoas trabalham enquanto tem saúde, e a saúde na terceira idade vem da atividade na terceira idade, ou seja, é um ganha-ganha! Resumindo: precisamos de reformas em todas as áreas, inclusive na política, para que eternos coronéis sejam definitivamente banidos do governo e regulados pelos mesmos direitos dos “cidadãos comuns” – nós!
(Guilherme Brondi)