Pais reféns

Em tempos de violência, não é difícil observar que esses descaminhos também acontecem nas famílias. O fato é que a sociedade se mostra assustado com o esfacelamento da autoridade dos pais, com o surgimento de uma juventude cada vez mais rebelde que busca uma autonomia a qualquer preço, ao atropelo das regras sociais, do respeito e da ética social. A questão toda parece que tem início nas crianças, onde uma gritante falta de limites coloca em dúvidas a eficácia dos processos educacionais, com a ação dos pais constrangida pela lei (absurda) que condena a palmada, com as referências a qualquer tipo de proibição e censura. Isto tem o respaldo da psicologia e da mídia, desde o remoto chavão “é proibido proibir”. Eu acho curioso alguns psicólogos incentivando um tipo de doçura ou tolerância nas relações interpessoais entre pais e filhos. Um dia estivemos, Carmem e eu, num shopping em Porto Alegre, onde pude ver um fato desagradável. Quando entramos no elevador, vimos uma criança, uma garota com a mãe, de seus quatro, cinco anos, gritando a plenos pulmões, como quem viu um fantasma ou sofreu uma agressão à faca. Carmem tentou apaziguar a “ferinha”, passando a mão na cabeça dela, perguntando o que havia. A menina teve uma resposta de pitbull ameaçando: mostrou os dentes e ameaçou investir. Carmem perguntou a mãe o motivo daquela reação, obteve a informação que é assim que ela reage “sempre que lhe negam alguma coisa”. Ato contínuo, a criança se jogou no chão, esperneando e continuando a sessão de gritos. Tiveram que interromper a entrada de pessoas no elevador, para que a mãe retirasse a filha possessa. Certos pais fazem concessões demasiadas como que se penitenciando por trabalharem, por estarem ausentes, ou não darem a assistência que julgam devida, e se tornam reféns do capricho dos filhos. Eu não quero fazer aqui apologia a palmada, mas acho que em alguns casos ela é indispensável para impor limites à criança. Meus filhos hoje são adultos, mas na infância levaram alguns petelecos para ajustar a conduta. Depois, só olhávamos e eles caiam na real. Condeno agressões violentas às crianças, mas com diz o funk “um tapinha não dói”. A bunda é estofada para esse fim… uma criança sem limites é capaz de aos dez anos agredir os familiares, bater nos professores e aos dezoito matar os pais, como o conhecido caso da jovem paulista. ( Antônio Mesquita Galvão Teólogo, escritor).

 

Família competente

A família sempre foi vista como causa dos problemas dos filhos. Inúmeros estudiosos procuram associar o uso de drogas do filho com o alcoolismo de um dos pais, a transmissão genética familiar, a separação dos pais ou a estrutura e relação afetiva familiar. Poucos tem olhado para as contribuições positivas da família. A experiência clinica nos conduziu a considerar a família não como um entrave ou um fator complicado que deveria ficar fora do processo de resgate do adolescente vivendo a situação especial de uso de drogas. Embora pareça tão desprovida de recursos, é ma família que encontramos a solução para seu problema. Responsabilizarmos pelo tratamento do filho confirma a ideia de que os pais são incompetentes e de que são os especialistas que irão resolver o problema. A maioria ainda acredita que a família tem competência para resolver o problema de uso de drogas do filho. Ela às vezes não sabe que tem. É a família que só não sabe o que tem…

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