Entenda em cinco pontos a crise no Nepal que já deixou dezenas de mortos
Jovens da Geração Z se revoltaram contra políticos acusados de favorecerem os filhos, que vivem vidas luxuosas
Jovens manifestantes do Nepal, indignados com a repressão aos protestos dos últimos dias, desafiaram a autoridade do governo, destruíram prédios públicos e levaram o caos às ruas do pequeno país asiático, vizinho da Índia.
Entre os edifícios incendiados estão a Suprema Corte e o Parlamento. Os atos, liderados pela Geração Z, culminaram na queda do primeiro-ministro K.P. Sharma Oli. Segundo o Ministério da Saúde do Nepal, o número de mortos nas manifestações anticorrupção subiu para 25 até esta quarta-feira (10). Outras 633 pessoas ficaram feridas.
1. Corrupção e economia em crise
Com 30 milhões de habitantes, o Nepal enfrenta uma política instável desde a transição da monarquia para a república, em 2008, após uma guerra civil de dez anos. Desde então, o país já teve mais de uma dúzia de governos.
A corrupção e a falta de oportunidades aumentam a insatisfação da população, especialmente entre os jovens. Em 2024, a taxa de desemprego para pessoas de 15 a 24 anos alcançava 20,8%, segundo o Banco Mundial.
A economia é sustentada em grande parte por remessas de nepaleses que vivem no exterior — responsáveis por 33,1% do PIB — e pelo turismo, especialmente em torno do Monte Everest.
2. Revolta contra os ‘Nepo Kids’
Nas redes sociais, ganhou força um movimento contra os chamados ‘Nepo Kids’, filhos de políticos que ostentam estilos de vida luxuosos em contraste com a realidade da maioria da população. Vídeos e postagens com a hashtag #NepoKids viralizaram, denunciando casos de nepotismo e convocando a juventude a se mobilizar contra os privilégios da elite política.
3. Bloqueio das redes sociais
Em resposta às críticas e à crescente mobilização online, o governo bloqueou Facebook, Instagram, WhatsApp, YouTube e X. Ao todo, 26 plataformas ficaram fora do ar até a última quinta-feira (4).
A justificativa foi combater ‘notícias falsas e discurso de ódio’, mas a medida foi amplamente criticada por organizações de direitos humanos. Após a escalada da violência, o governo recuou e suspendeu o bloqueio.
4. Confrontos e destruição
A crise atingiu o ápice quando manifestantes entraram em confronto com a polícia no complexo do Parlamento, em Katmandu. Edifícios públicos foram incendiados, incluindo a casa do ex-primeiro-ministro Jhalanath Khanal. A esposa dele morreu em consequência das queimaduras.
O secretário-geral da ONU, António Guterres, pediu ‘investigação completa’ e ‘contenção para evitar uma nova escalada de violência’. Ele ressaltou que os protestos devem respeitar os direitos humanos, a vida e a propriedade.
5. Renúncia e incertezas políticas
Em meio ao caos, o primeiro-ministro KP Sharma Oli anunciou sua renúncia na terça-feira (09), alegando “situação extraordinária”. Antes dele, os ministros do Interior, Agricultura, Água e Saúde também haviam deixado seus cargos.
Com a ausência de um partido com maioria clara, a tendência é a formação de um governo interino. Alguns grupos da Geração Z, protagonistas dos protestos, podem participar das discussões sobre o futuro político.
Além da troca de liderança, manifestantes pedem uma reformulação da constituição de 2015, que pode ser alterada mediante aprovação do Parlamento.



