‘Parece leite mas não é’ como crise “empobreceu” a fórmula dos produtos lácteos do Brasil
Versões de lácteos adulterados começaram a aparecer nos mercados brasileiros
Os consumidores brasileiros puderam notar que nos últimos meses, ocorreu uma mudança importante nos produtos lácteos, especialmente em marcas de leite condensado. Junto ao produto tradicional, as gôndolas dos supermercados foram inundadas por uma nova versão do produto. Na parte inferior do rótulo, é possível entender melhor a diferença entre as opções: enquanto a convencional está escrito do leite condensado (integral ou desnatado), a outra é uma ‘mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido’.
Outros produtos
E esse não foi o único produto lácteo a apresentar uma nova fórmula nos últimos meses, de acordo com especialistas e relatos dos consumidores, houve um aumento na oferta de opções que substituem parte do leite por outros ingredientes, como o soro de leite, o amido, o açúcar, a gordura vegetal e os aditivos químicos, como conservantes e aromatizantes.
Algumas marcas, por exemplo, transformaram o creme de leite em ‘mistura de creme de leite’. Já o queijo ralado virou ‘mistura alimentícia com queijo ralado’. O doce de leite, por sua vez, foi substituído pelo ‘doce de soro de leite sabor doce de leite’. Em alguns mercados, até o leite tradicional disputa com novas bebidas lácteas.
Opção está dentro da lei
A venda dessas opções está regulamentada nos órgãos competentes, como o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) ou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), e, a princípio, não fere nenhuma lei. De acordo com os especialistas, o grande problema, é que vários desses alimentos lácteos alternativos têm uma embalagem muito similar à original, trazem no rótulo elementos que remetem ao leite e são colocados nas mesmas prateleiras que os produtos tradicionais. E nem sempre as novas opções são muito mais baratas ou a diferença em relação aos itens convencionais é de apenas alguns centavos.
O que está por trás do fenômeno
As movimentações recentes da indústria dos produtos lácteos têm a ver com a crise financeira, a inflação e a escassez de matéria-prima no mercado.
A pesquisadora Kennya Beatriz Siqueira, da Embrapa Gado de Leite explica que toda a cadeia produtiva sofreu com o aumento dos preços: os custos da ração que alimenta as vacas, da energia elétrica que mantém o funcionamento dos currais e do próprio combustível que transporta esse alimento subiram consideravelmente. “Nos últimos dois anos, tivemos um aumento de 62% no custo de produção do leite”, calcula. E completa que “Por conta disso, muitos produtores se desfizeram de parte do rebanho e venderam as vacas menos produtivas para os abatedouros”.
O meio do ano ainda é o período de entressafra do leite, já que as pastagens não estão boas por causa do clima seco e da temperatura fria. A união desses fatores fez com que o leite (e os produtos lácteos no geral) se transformassem nos principais vilões da inflação durante os últimos meses.
De acordo com o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA), o leite longa vida acumula uma alta de 57% no ano. Outros itens também registraram uma subida considerável. Apenas em julho, houve um aumento de 19% no leite condensado, 17% na manteiga, 16% no queijo e 14% no requeijão.
