O castigo e o milagre

“Nessa mesma ocasião vieram alguns dar-lhes notícias dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com o dos sacrifícios que eles ofereciam. Disse-lhes Jesus: Cuidais que esses foram maiores pecadores do que todos os outros galileus, por haverem sofrido essas coisas? Não, eu vo-lo digo; mas se não vos arrependerdes, todos perecereis do mesmo modo. Ou cuidais que aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, foram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? Não eu vo-lo digo; mas se não vos arrependerdes, todos perecereis semelhantemente.” (Lucas XII, 1-5).

“Saíram os fariseus e começaram a discutir com ele procurando obter dele um sinal do Céu, para o experimentarem. Ele, dando um profundo suspiro em espírito, disse: Por que pede esta geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração nenhum sinal será dado. E deixando-os, tornou a embargar e foi para o outro lado.” (Marcos, VIII, II-13)

O espírito sectário não tem senso íntimo, sua religião é fundada no castigo e no milagre.

Indivíduos são canonizados porque fazem milagres!

Indivíduos são excomungados porque um castigo dos Céus vitimou!

O raio é um instrumento da “vingança divina”, os desastres são promovidos “por Deus” para castigar os herejes. Há santos canonizados pela virtude dos seus dons psíquicos e outros indivíduos excomungados por serem portadores dos mesmos dons.

Hoje, como ontem, “galileus” que morrem sob torres de Siloé são cheios de pecados, e “galileus” que vivem sobre torres de Siloé são cheios de virtude.

Têm boa casa, bons carros, ricas jóias, bons vestuários, bons manjares; são “escolhidos de Deus” e vivem num paraíso, que lhes foi doado pelos Céus, onde têm influência capaz de movimentar a Terra! Enquanto os modestos, os humildes, os simples que mourejam na vida para cumprir seus deveres são heréticos (infiéis), desprezados pela Divindade, sem noção do bem, do belo, da justiça, da Religião.

Um filho do povo agita-se e fala, movido pelo espírito: é um louco, embora suas palavras sejam de amor e de justiça; uma pessoa religiosa cai em estado convulsivo com o corpo cheio de estigmas: é uma santa! As notícias voam! (Milagre!).

Ó Senhor! Onde está o domínio da tua Lei, poder da tua Verdade!

“Os temos de transformação, e o Espírito aí está, acelerando a ação da Verdade. Breve o mundo se libertará do castigo e do milagre.”

O senso humano é de tal modo frágil, e tem sofrido, além de tudo, tão dura pressão, que mal entrevê, em meio dos grilhões que ainda o prendem, os influxos da Verdade que nunca abandonaram a Humanidade. Daí as imagens desnaturadas pela miopia dos “videntes” e traduzidas em castigo e milagre!

O sobrenatural, sob todos os pontos de vista, tem aterrorizado a Humanidade, venha ele em forma de castigos, venha em forma de milagres. E o senso íntimo está tão impregnado de sobrenatural que não pode dispensar castigos, nem excluir milagres!

Aos dezoito galileus que pereceram não faltou a crença no castigo, que lhes viesse cobrar os pecados que deviam; a Jesus, depois de tantos feitos gloriosos, os judeus pediam milagres, para reforçarem a sua crença esdrúxula e ignorante, sem sanção da razão, sem consentimento do coração, sem o apoio de fatos!

Fez bem Jesus em não ouvir aquela geração extraviada e endurecida, que insistia em permanecer na larva da ignorância em que vivia.

Livro: O ESPÍRITO DO CRISTIANISMO. Cairbar Schutel. Casa Editora O Clarim – Matão SP. 6ª ed. 1980. Pág.

Manoel Ataídes Pinheiro de Souza. Sociedade Espírita Amor e Conhecimento, Guaraniaçu – PR.

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