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A Consolação da Filosofia

Sugestão de boa leitura

Anício Mânlio Torquato Severino Boethius (480-524) foi um filósofo, poeta e político romano que viveu na época marcada pelo declínio do Império Romano. Boécio tinha grande apreço pela cultura e literatura grega e tinha como grande meta de vida traduzir para o latim a obra completa dos filósofos gregos Platão e Aristóteles. Anício tinha senso e valores de justiça muito apurados, também por isso, condenava a exploração dos pobres. Era considerado sábio e sua cultura tida como profunda, provocava grande admiração e, por isso não tardou a ascender na escala social ao tornar-se cônsul e membro do Senado aos 30 anos durante o reinado de Teodorico, o Grande. Casado com Rusticiana, filha de seu mentor Quinthus Aurelius Symmaehus chegou a ver seus dois filhos serem alçados ao Senado. Vivia momentos de profunda felicidade até que a Roda da Fortuna girou.

            Em 522, motivado por seu apurado senso de justiça defendeu o senador Albino que havia sido acusado de conspiração para restaurar a república. O senador Albino desejava aquilo que era vontade de grande parte do povo, a reunificação do Império Romano e o retorno dos dias gloriosos. Ao assim agir, Boécio foi acusado como traidor e preso, porém, ao contrário daqueles que em tal desgraça caíam, não foi executado rapidamente. Encerrado durante longo tempo em uma masmorra imunda, ele que era bem nascido, filho de família importante, sendo que também seu pai fora cônsul, passava por sessões de torturas diárias. Seus familiares e amigos fizeram o que era possível para livrá-lo, em vão. Políticos de mau caráter e de atitudes desonestas testemunharam falsamente contra ele. As calúnias aventadas contra ele agravaram sua situação. Aqueles que lhe julgavam estavam mais interessados em sua condenação do que na aplicação da Justiça.

            Afastado de sua família, com uma rotina diária terrível de humilhações e dores resultantes das torturas na masmorra, resolveu recorrer à mulher mais bela, porém austera, que em sua vida conheceu, a Filosofia. Por meio de tabuinhas e uma cunha registrou suas elucubrações filosóficas, tendo o cuidado de entregar tais tabuinhas a parentes, nela a sua obra-prima: “A Consolação da Filosofia”. Enquanto esperava o dia da sua execução, procurou atingir um estágio de grande elevação filosófica e psicológica, certamente para evitar que fraquejasse ou enlouquecesse e visando manter elevado seu moral e alcançar a felicidade, a paz, e assim, se preparar para confrontar a morte. Ao terminar o livro, estava num estado de profunda paz. Apesar de sua família ter se convertido há um século ao cristianismo, a Igreja Católica Romana e a Igreja Católica Ortodoxa foram muito cuidadosas e somente o declararam mártir em 1800, quando foi beatificado por ambas. Tal cuidado se deve ao fato de que sua obra é a mais pura expressão da cultura greco-romana e apesar de sua imensa fé em um deus, jamais deixa claro ser o deus cristão.

            A obra é escrita na forma de prosa, mas poeta que era, Boécio entremeia poesias atinentes ao tema em reflexão. É interessante observar que ele não tinha obras à sua disposição para consultas na masmorra. A obra que produziu é resultado de suas leituras anteriores à prisão e de sua reflexão. Na obra poetizou suas dores, as injustiças sofridas, a fortuna dos desonestos e entabulava diálogos com a Filosofia, bela e austera, ela não tinha receio em lhe dar reprimendas afirmando-lhe que todo homem que abraça a Filosofia é um estranho no mundo a ser violentamente rejeitado, mas, que ele não pertencia a esta pátria, mas, à pátria da Filosofia e, esta não bane seus filhos. Boécio aconselhado pela Filosofia chega à conclusão que o Universo é cosmo, ou seja razão, ordem, e não caos, e que a desordem emocional é o esquecimento de quem ele realmente é. Também concluiu que não se deve dar valor demais ao que lhe pode ser retirado e que aquilo que realmente é dele ninguém pode tirar. A falibilidade da Justiça lhe tirou a vida, mas a Filosofia que Boécio trouxe à luz é cosmo a se contrapor ao caos das mentes rasas e de suas rasas visões de mundo em todos os tempos. De seu sofrimento, Boécio deixou um legado de luz para a humanidade.

Sugestão de boa leitura:

Título: A Consolação da Filosofia.

Autor: Boécio.Editora: WMF Martins Fontes, 2012, 2ª edição, 4ª reimpressão,  200 pá