Federação versus Liga: o caso do Rio Grande do Sul

Para quem gosta de suspense e de esporte, os últimos acontecimentos envolvendo o futsal do Paraná têm sido um atrativo. Contrária à Liga Paraná, a Federação Paranaense de Futebol de Salão (FPFS) deu início a um processo disciplinar que pode multar e suspender aqueles clubes que disputam a outra competição. À revelia, alguns pediram desistência da Série Ouro e prometem, caso não haja um acordo com a Federação, deixá-la em definitivo. Outros, afirmaram recorrer para disputar os dois torneios. 

Anos atrás, um outro estado relevante para a modalidade, o Rio Grande do Sul, viveu uma situação parecida. A Liga Gaúcha foi fundada em 2017 e, inicialmente, ocorreu sem represálias da Federação Gaúcha de Futebol de Salão (FGFS). Durante as duas primeiras temporadas, inclusive, foi a substituta da Série Ouro do estadual, conforme explica o diretor de competições da FGFS, Bruno Kievel.. 

“Tínhamos três divisões. Então, criaram a Liga e pediram para gerenciar a Série Ouro. Nós aceitamos e seguimos organizando as Séries Prata e Bronze, o feminino e a base. Foi assim até 2018”.

Em 2019, a FGFS anunciou a retomada da Série Ouro. A decisão não agradou aos integrantes da Liga, que além de manterem o seu certame – agora sem a parceria da outra entidade -, criaram as Ligas B e C e também os torneios para as categorias de base. 

Sandro Gonçalves reporta, através do Blog do Sandro, o dia-a-dia do futsal gaúcho e recorda a ocasião. “A Federação passou a fazer um campeonato fraco, com uma Série Ouro com times da Bronze. Era previsível, no ano passado, que a Assoeva seria campeã. Não deu outra”. 

Nelson Bavier, ex-técnico do Marreco, é o presidente da Liga Gaúcha. “A Liga se fortaleceu, como alternativa. Dormimos em 2018 com 12 filiados e acordamos em 2019 com 95, unindo base e os campeonatos femininos e masculinos”. 


Filiado na Federação pode jogar a Liga?

Através do artigo 11º do regulamento geral de competições, a Federação Paranaense proíbe que seus filiados disputem sem autorização uma competição não organizada por ela. No Rio Grande do Sul, há quem opte por disputar apenas a Série Ouro da Federação, caso da Assoeva, uma das três forças da modalidade no estado. Atlântico e Carlos Barbosa optam pela Liga. Já o Passo Fundo participa das duas competições. 


Ligas Gaúcha e Paraná: diferenças

No RS, Liga não funciona no modelo de franquia/Foto: Rádio Planetário

Apesar do ideário independente, as Ligas de Paraná e Rio Grande do Sul possuem assimetrias relevantes. Na primeira, para integrá-la, é necessário comprar uma franquia de R$ 60 mil. Pode-se também alugar uma vaga por uma temporada, a R$ 12 mil – além do valor a ser acertado com o proprietário. 

O formato de ingresso na certame gaúcho é outro. “Quem tem interesse de jogar a Liga, precisa filiar-se. Não trabalhamos com o modelo de franquia e sim com taxas de inscrição e de atletas”, explica Nelson. O modelo se assemelha ao utilizado pela FPFS. 


Enfraquecimento da Federação

FGFS tenta restituir o estadual organizado por ela/Foto: Seu time tá na Rede

Quatro anos após o início da Liga, Bruno Kievel admite: a Federação foi enfraquecida. “Perdemos em níveis técnico e quantitativo. Em 2019, por exemplo, realizamos a Série Ouro, apenas. Mesmo com a pandemia, neste ano, conseguimos retornar com a Prata. Durante esses anos, tivemos uns 30 clubes nos deixando, mas cerca de 10 retornaram. A gestão anterior da Federação não era transparente e tinha uma comunicação defasada”, argumenta o diretor de competições da entidade. 

Hoje, a Liga Gaúcha tem três divisões: A, B e C. No ano passado, os certames tiveram 12, 16 e 24 integrantes, respectivamente. 


Adeus, Copa do Brasil

Quem deixar de disputar as competições organizadas pela FPFS ficará impossibilitado de disputar torneios organizados pela Confederação Brasileira de Futebol de Salão (CBFS). Na Copa do Brasil deste ano, por exemplo, o Paraná é representado por Dois Vizinhos e Pato. Ambos duelarão pelas quartas de final do certame. O estadual também é o caminho para a Taça Brasil, que leva à Libertadores. 


Técnico gaúcho campeão no PR opina 

Para Cigano, futsal gaúcho perdeu força nos últimos anos. Paranaenses devem buscar diálogo, de acordo com o técnico
Foto: Rádio Cultura Foz

Cigano, técnico gaúcho campeão da Série Ouro de 2018 pelo Foz Cataratas, acredita que o nível do futsal no Rio Grande do Sul decaiu. “Ainda dependemos de Carlos Barbosa, Atlântico e Assoeva. Com a vinda da Liga, as brigas foram grandes – sei pois participei das reuniões da formação dela. Parecia ser um feito grande, pois imaginávamos ter autonomia para fazer os campeonatos e, numa altura, não tivemos tudo o que esperávamos. Praticamente todos os clubes migraram para a Liga. Depois, houveram brigas com o presidente da Federação e alguns clubes voltaram para ela. Na Federação, temos a vaga para a Taça Brasil, que passa a ser um atrativo, coisa que a Liga não tem. Agora as brigas cessaram, e cada um vai tocando à sua maneira, mas não temos a união que o futsal merece”. 

O treinador disse que vem acompanhando o caso do futsal paranaense. Ele defende a manutenção das equipes disputando as duas competições. “É uma pena que isso se concretize no Paraná, pois para mim, é onde existe o melhor futsal do Brasil. Trabalhei no Foz e via as coisas funcionando bem da base ao profissional. A Prata e a Bronze são estruturadas. Acho que o presidente da Federação deveria conversar com os clubes e entrar em um consenso, pelo futsal. Às vezes damos um passo para ser modalidade olímpica e dois para trás”.  


Futsal paranaense no futuro: o que pode acontecer 

Se nenhuma reviravolta ocorrer, a Série Ouro de 2021 deve ser bem diferente das edições anteriores. Sem Cascavel, Campo Mourão, Foz Cataratas e Marreco, quatro dos seis representantes do estado na Liga Nacional, os clubes de menor expressão temem por um campeonato sem grandes atrativos. Por outro lado, muitos não teriam condições de comprar a franquia da Liga Paraná no valor atual. 

Cristiano Bortolon, presidente da Liga Futsal Paraná, projeta o ano que vem com 80 equipes nas categorias de base e franquias ao alcance dos clubes pequenos. “Teremos também o feminino e estamos estudando a criação da Liga B, onde, no futuro, para um clube disputar a Liga A, precisará passar pela B. Devemos ter valores acessíveis para que mais clubes possam associar-se”.  

LFP planeja 2021 com categorias de base, Liga B e feminina
Foto: Reprodução

 

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