Ações municipais de agroecologia colocam Paraná em primeiro lugar

Pesquisa foi realizada pela Articulação Nacional da Agroecologia (ANA) em 26 estados. Das 725 ações levantadas, 147 estão no Paraná

O Paraná tem o maior número de municípios com ações de apoio a processos agroecológicos entre 26 estados pesquisados pela Articulação Nacional da Agroecologia (ANA). O levantamento Municípios Agroecológicos e Políticas de Futuro apontou que há 147 políticas públicas, ações, programas ou legislações de apoio à agricultura familiar, produção sustentável ou segurança alimentar e nutricional no Estado.
O segundo lugar coube a Santa Catarina, com 81 ações municipais, seguido do Rio Grande do Sul, com 54. Dessa forma, a Região Sul do País concentrou mais de 39% de todos os atos relacionados à agroecologia no País. A quarta colocação estadual é do Maranhão, com 43. O trabalho envolveu 34 pesquisadores por dois meses e reuniu informações de 725 iniciativas em 41 temas.
“Analisamos esses dados de forma muito positiva, pois o Estado tem como meta atingir 100% da merenda escolar orgânica nos próximos dez anos, e as ações e iniciativas dos municípios serão fundamentais nesse processo”, disse o secretário estadual da Agricultura e do Abastecimento, Norberto Ortigara. “O desafio é enorme, mas, junto com os municípios, temos uma oportunidade de ampliar a produção agroecológica e orgânica, respondendo até a um apelo que cresce no mundo.”


UFFS

O campus da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) em Laranjeiras desenvolve projetos agroecológicos em cinco municípios – Goioxim, Quedas do Iguaçu, Palpital, Laranjal, além de Laranjeiras. 
O professor Julian Perez Cassarino desenvolve na Universidade o Centro Vocacional Teclogócico em Agroecologia e Cooperativismo, que envolve estudantes dos cursos de graduação em Agronomia e Engenharia de Alimentos e do mestrado em Agroecologia. “Os projetos acompanham grupos agroecológicos de toda a Cantu e regiões próximas em várias temáticas. Os grupos são vinculados à Rede Ecovida de Agroecologia, que existe há mais de 20 anos no sul do Brasil e agrega mais de 5 mil famílias de agricultores ecológicos e representa cerca de 20%  de todos os empreendimentos orgânicos certificados no Brasil”, explica. 
Julian atua com sistemas agroflorestais, atuando junto dos produtores no manejo, convervação, processamento e comercialização de frutas nativas e crioulas. 
“Há mais de 4 anos estamos produzindo produtos de frutas congeladas, como guabiroba, uvaia, araçá, açaí, cereja-do-mato, jerivá, jabuticaba, butiá e outros, além das frutas crioulas, como goiaba, limão caipira, tengerina, banana e mamão”.

Este projeto, inclusive, é detentor da marca “Sabores da Agrofloresta: a fruta camponesa”. Em 2021, através de uma parceria com a Sorveteria Q-Delícia, começará a comercialização de picolés e polpas em comércios de Laranjeiras. “Os picolés são feitos a partir das frutas que os agricultores produzem em suas propriedades”. 

De acordo com o professor, através deste trabalho é possível valorizar as àrvores de frutas nativas e ciroulas, fazendo com que os agricultores se interessem pela preservação e no plantio dessas espécies. “Também resgatamos a cultura alimentar da região, resgatando o consumo de frutas que vem se perdendo ao longo do tempo, além de oferecer alimentos saudáveis à população”.


Século 21

Para o engenheiro agrônomo Laércio Meirelles, um dos coordenadores do levantamento Municípios Agroecológicos na região Sul e membro do Núcleo Executivo da ANA, os números mostram que é possível atingir a meta. “O Estado intervir para estimular a produção orgânica, com todos os benefícios ambientais, sociais e culturais que ela traz, e ainda retirar essa produção do campo e entregar para as crianças que não teriam acesso por outra via é século 21”, disse.
A pesquisa identificou que as 725 iniciativas foram desenvolvidas em 530 municípios brasileiros. No caso do Paraná, foram citados 85 municípios com políticas públicas voltadas à agroecologia. O estudo também destaca dez iniciativas paranaenses em restrição/regulamentação do uso de agrotóxicos. O segundo lugar é de Santa Catarina, com duas.
“O trabalho de agroecologia no Paraná não é fruto do acaso, é uma construção com mais de três décadas”, afirmou Meirelles. “O trabalho com agroecologia ainda é um trabalho contra a corrente. Precisamos que centros de pesquisas, que universidades, que empresas de extensão rural assumam a agroecologia como a agricultura que vai ser parte das respostas socioambientais que o planeta exige pelo momento que passa.”


Ações municipais

Na região Sul do Brasil, as principais ações encontradas pelos pesquisadores estão relacionadas ao fomento à produção, educação alimentar e nutricional, alimentação escolar, apoio a feiras e circuitos curtos de comercialização, além do incentivo à agricultura urbana e periurbana.
O município de Fazenda Rio Grande é citado na análise sobre comercialização, circuitos curtos e compras institucionais, em razão da Lei 873/2011. Por ela, criou-se o Programa Municipal de Compra Direta Local dos Produtos da Agricultura Familiar.
O município de Pinhão é lembrado para destacar a criação do Vale Feira, um instrumento na Política de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. As famílias que aderem ao programa separam adequadamente os resíduos domésticos e estão em dia com a taxa de lixo recebem o Vale Feira. Ele corresponde ao mesmo valor da taxa e só pode ser usado na feira livre do município.
 

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