Mãe de coração e desejo genuíno de oferecer amor, cuidado e proteção a outra vida

Mãe de três filhos adotivos, Janice Couto, fala sobre sua experiência. “Ser mãe é mais que dar à luz, é uma jornada divinamente planejada, onde cada vínculo e momento são entrelaçados pelas mãos de Deus”

A jornada da adoção ultrapassa os limites de um processo judicial, é uma imersão nas relações humanas, permeada por afeto, amor e aprendizado mútuo. Ao quebrar os estigmas e rótulos associados a esse processo, abre-se espaço para compreender a riqueza e diversidade de caminhos que levam à parentalidade. Seja através da gestação tradicional, inseminação artificial ou adoção, cada trajetória é única e carrega consigo a promessa de recomeço e conexão familiar. É nesse sentido que hoje contaremos a história da laranjeirense, Janice Couto Nessa, mãe de três filhos, que não foram gerados em útero, mas sim no coração.

História
Janice é mãe de três filhos não biológicos, Anne Couto Nessa de 16 anos, Yasmin Luana Nessa, 11 e João Victor Couto Nessa de 12 anos, cada um com uma história única. Sua jornada como mãe começou quando tinha 29 anos e ainda era estudante. Ela acabara de concluir o curso de pedagogia e estava mergulhando em sua primeira pós-graduação quando se deparou com a oportunidade de adoção de Anne, então com apenas dois meses de vida e enfrentando graves problemas de saúde. “A Anne é um presente de Deus em minha vida, uma revelação que tive durante uma experiência na canção nova. Apesar de ser solteira, e todos estarem cientes das dificuldades, especialmente no processo de adoção, persisti, e hoje estou aqui com ela, finalmente tornando oficial essa linda jornada de amor e dedicação como mãe dela”, afirma Janice.
Quando Anne tinha oito anos, ela conheceu Emerson Andre Nessa, seu marido, que já tinha uma filha biológica, a Yasmin. “Deus traçou os caminhos da nossa família de forma única e especial. Desde quando namorávamos, Yasmin já se aproximava de mim e da Anne, mostrando um vínculo especial. Antes mesmo de nos casarmos, ela já estava morando conosco, como se soubesse que esse era o lugar onde deveria estar”.
De acordo com ela, juntos, eles construíram uma família. Mas o sonho de ter um filho biológico também fazia parte de seus planos. No entanto, o destino tinha outros rumos, e eles encontraram em João, um garoto em um abrigo no município de Araucária – PR, a oportunidade de expandir sua família mais uma vez. “Quando questionam por que não tive um filho biológico, a resposta é simples: Deus não permitiu. Nunca evitamos a possibilidade de ter filhos, sempre mantivemos uma relação sem restrições. No entanto, a gravidez nunca ocorreu, talvez devido aos meus problemas de saúde, como o da tireoide. Mesmo assim, continuamos com o desejo de formar uma família. O tempo passou, e em 2022, encontramos o João, no centro de acolhimento. Iniciamos o processo de adoção, que, felizmente, foi ágil e bem-sucedido”.

Apoio
A jornada da adoção não é isenta de desafios, e ela lembra que o casal enfrentou cada obstáculo com determinação e fé. Ainda enfatiza que o apoio da família e amigos foi fundamental nesse processo, oferecendo o suporte emocional necessário para superar as dificuldades. “Sempre contamos com o apoio da família e amigos. Nossa comunidade de fé também desempenhou um papel crucial, mantendo-se presente em orações e apoio emocional. O processo de adoção é desafiador, envolvendo uma série de emoções intensas, mas o suporte contínuo de nossos entes queridos e amigos da igreja nos fortaleceu ao longo do caminho”.

Significado
Para Janice, ser mãe vai além dos laços sanguíneos. É sobre gerar no coração, nutrir com amor e proteger com dedicação. Ela desafia os estereótipos e mostra que a adoção é uma expressão poderosa do amor humano. “Refletindo sobre o significado de ser mãe, sempre lembro de uma apresentação especial que minha filha, Yasmin, fez há dois anos. Aquelas palavras tocaram meu coração de uma maneira única, revelando a beleza e a profundidade dos laços familiares. Para mim, ser mãe vai além do simples ato de dar à luz, é uma jornada divinamente planejada, onde cada vínculo e cada momento são entrelaçados pelas mãos de Deus. Nossa família não é apenas o resultado do amor e do cuidado que compartilhamos, mas também é um projeto divino, desenhado com propósito e intenção. A cada dia, testemunhamos como esses laços são fortalecidos, e reconhecemos que estamos aqui hoje não apenas por acaso, mas como parte do plano de Deus para nós”, afirma.

Inspiração
Janice deixa uma mensagem para outras mães, sejam elas biológicas ou adotivas: “Quando um filho é gerado no coração, ele é gerado com amor genuíno, um amor que não se desvanece, que é completo e eterno. Quem adota não gera na barriga, mas sim no coração, onde esse amor floresce. A adoção é uma jornada enriquecedora, gratificante e profundamente significativa. Vale a pena embarcar nessa jornada, pois há muitas crianças que precisam do aconchego, do carinho materno e de um lar amoroso. Se a vontade de adotar floresceu em seu coração, siga em frente, pois essa decisão vale a pena em todos os sentidos”.
Além disso, a mãe ressalta a importância de reconhecer a beleza da adoção e combater estigmas sociais. Para ela, ser adotado é motivo de orgulho, pois significa ser amado, desejado e planejado. “A adoção é verdadeiramente bela, não há nada nela que deva causar vergonha. Ela é bela porque nasce do desejo genuíno de oferecer amor, cuidado e proteção a outra vida. Quando uma pessoa, um casal, sente esse chamado no coração, é como se uma fonte infinita de amor e proteção se derramasse, pronta para acolher uma criança, um adolescente, em seu seio. É essa explosão de amor, essa dedicação incondicional que torna a adoção uma jornada verdadeiramente admirável e maravilhosa”, afirma.

Projeto “Quem cuida de mim”
De acordo com a mãe, ela foi a idealizadora de um projeto chamado “Quem Cuida de Mim”, que surgiu como uma resposta amorosa e inclusiva às complexidades enfrentadas por muitas crianças e adolescentes em meio às celebrações tradicionais, como o Dia dos Pais. “O projeto teve início quando eu ainda cuidava sozinha da Anne, sem a presença do pai. Em datas como o Dia dos Pais, era doloroso, pois enquanto outras crianças celebravam com seus pais, a Anne não tinha esse suporte. Ela ficava excluída das atividades na escola, dos momentos de diversão e dos laços paternos que muitas outras crianças desfrutavam”.
A necessidade de encontrar uma solução para esse sofrimento pessoal levou Janice a criar o projeto que visa reconhecer e celebrar não apenas as figuras parentais tradicionais, mas também aqueles que desempenham papéis de cuidado significativos na vida das crianças, sejam avós, tios, tias, madrinhas ou outros membros da comunidade. “A essência do projeto é reconhecer e honrar o papel vital desempenhado por essas figuras de cuidado, independentemente de suas relações biológicas. É uma oportunidade de educar e sensibilizar as crianças sobre a diversidade de estruturas familiares e a importância do apoio emocional e prático que recebem”, afirma Janice.
Sobre a relevância de trazer essa conversa para as comunidades, ela destaca: “eu estou percorrendo nas comunidades, onde algumas pessoas estão compartilhando essa perspectiva. É crucial dedicar tempo e esforço para apoiar quem cuida das crianças. Isso é fundamental.”
Além disso, o projeto também busca transmitir uma mensagem de amor e aceitação para as crianças e adolescentes que podem não ter a presença da mãe biológica, mas que têm figuras de cuidado igualmente valiosas em suas vidas. “E também dizer pra essa criança, ou pra esse adolescente, que mesmo que ela não tenha a figura da mãe biológica, ela tem a figura de uma mãe do coração, de alguém que cuida dela”, finaliza.