Laranjeiras: Dra. Gisele Peres analisa o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência
“É claro que é altamente perceptível que as mulheres não são valorizadas na área da ciência, até porque muitas das instituições ou órgãos são formados por homens!”, destaca doutora em Química Gisele Louro Peres, professora na UFFS
Hoje, 11 de fevereiro é o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data foi escolhida para celebrar a contribuição das mulheres para o avanço da ciência e tecnologia e para destacar a necessidade de garantir a igualdade de gênero e a inclusão na área. Visa ainda sensibilizar a comunidade científica sobre como a equidade entre os sexos pode contribuir para um futuro mais justo.
O Jornal Correio do Povo do Paraná entrevistou a doutora em Química Gisele Louro Peres, professora na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), sobre este dia de reflexão e (falta de) reconhecimento.
JORNAL CORREIO DO POVO DO PARANÁ: Qual a importância do Dia Internacional das Mulheres e Meninas na ciência, para a comunidade científica e para a sociedade, na sua opinião?
DOUTORA GISELE LOURO PERES: A importância se dá pelo fato de que ao menos temos um dia do ano, em que a sociedade e a comunidade MASCULINA da voz e visibilidade para nós mulheres pesquisadoras. Um momento, em que “alguns” homens param para refletir e entendem o papel da importância que as mulheres representam para o desenvolvimento da ciência, da sociedade e da humanidade.
CORREIO DO POVO: Como você vê a representatividade das mulheres na ciência e como promover a igualdade neste campo?
DOUTORA GISELE: A representatividade das mulheres na ciência tem aumentado, mas a passos muitos lentos. Historicamente, muitas mulheres só foram reconhecidas por suas contribuições à ciência, após décadas.
O prêmio Nobel é um exemplo claro disso! É o prêmio mais prestigiado dentro da ciência. Ele reconhece pessoas e instituições que realizaram pesquisas, descobertas ou que fizeram contribuições para a humanidade, em diferentes áreas como literatura, medicina, física, química, ativismo pela paz, entre outros.
Até o ano de 2022, foram concedidos 954 prêmios a pessoas e 27 instituições. Destes 954, apenas 61 mulheres receberam o Nobel, ao longo de 121 anos de premiação.
É claro que é altamente perceptível que as mulheres não são valorizadas na área da ciência, até porque muitas das instituições ou órgãos são formados por homens! Ou seja, o patriarcado permanece dominante em todas as instâncias, onde a desigualdade de gênero é tristemente observada por toda a sociedade.
Isso que não estou nem falando das mulheres negras, que é o meu caso, onde os números são ainda mais assustadores. Só iremos conseguir ter maior representatividade feminina quanto tivermos políticas públicas socioeconômicas que viabilizem espaço para as mulheres. Infelizmente, é necessário ter leis que determinem o quantitativo.
CORREIO DO POVO: Como você acredita que podemos incentivar mais meninas a seguir a carreira científica?
DOUTORA GISELE: É muito importante ter cada vez mais projetos que promovam a inserção das meninas no âmbito científico, principalmente, no âmbito escolar. Obviamente, que atualmente temos tido um maior incentivo por órgãos governamentais para estimular a ciência nas escolas.
Mas é pouco, precisamos de mais! É importante que empresas privadas também colaborem com isso. Aproveito a oportunidade para convidar a todos que estão lendo esta matéria para conhecerem o canal Química em Arte, no Youtube, do qual sou coordenadora.
O Química em Arte é um projeto institucional, da Universidade Federal da Fronteira Sul, com possui três ações. A primeira é ‘Mulheres na Ciência’: “que comece o matriarcado”. Neste espaço, eu entrevisto Mulheres na Ciência, onde é realizado um documentário da vida, trajetória científica e dificuldades de mulher cientista, dando voz, visibilidade e reconhecimento à inúmeras mulheres que muitas vezes não recebem crédito em suas próprias instituições de trabalho.
Já na ação, ‘Elas em Arte’, entrevistamos mulheres que não são cientistas, mas que colaboram para o desenvolvimento da sociedade, trazendo para a conversa alguns temas polêmicos, como violência contra mulher, empoderamento feminino, as dificuldades de ser mulher, mãe e profissional, autoconhecimento, entre outros.
E por último, mas não menos importante, temos a ação: ‘Sarau Química em Arte’. Neste espaço, o prof. Dr. Martinho Machado Junior entrevista artistas e pessoas da comunidade de várias áreas, seja música, arte, dança e poesia. Tudo vinculado à cultura de nosso país.
CORREIO DO POVO: Você tem alguma mensagem especial para compartilhar com meninas e mulheres que estão interessadas em seguir carreira científica?
DOUTORA GISELE: Meninas e mulheres nunca desistam dos seus sonhos! A caminhada não é fácil… por vezes… nos desanimamos, mas lembrem-se sempre das MILHARES de mulheres que vieram antes nós, e das MILHARES de mulheres que estão caminhando conosco, em diversas partes do mundo, em busca dos seus sonhos e suas conquistas! Não desistam por elas, e nem por VOCÊS!