Refugiados da Venezuela passam por Laranjeiras do Sul

A dupla fugiu do país onde nasceu há quase dois anos devido à crise, e já passou por quase todos os países da América Latina, destacando o povo brasileiro como de grande coração

Dois refugiados da Venezuela estão passando por Laranjeiras do Sul nessa semana. Há um ano e meio viajando pelas estradas da América Latina, já cruzaram metade do continente fugindo do regime venezuelano, em busca de uma vida melhor.

Emigrar para outro país por necessidade é horrível, disse Miguelangelo Castro, uma das vítimas, ou ‘Miguel’, como é chamado pelo amigo. Trabalhei duro porque queria poder dar uma vida boa à minha família, ter uma casa, ser alguém na vida, e da noite para o dia o governo me deixou sem possibilidade, sem esperança de nada, contou.

Espero que nunca passem pelo que estamos passando, é muito feio você estar vestido com tudo que tem e depois não ter mais, repentinamente, da noite para o dia. Não foi a longo prazo ou a curto prazo, foi da noite para o dia! É um choque!

Perseguição

Não temos fotos dos personagens na matéria porque, de acordo com eles, o Governo está procurando os fugitivos, que são considerados traidores da pátria. Por esse motivo, também, evitaremos colocar o nome completo de Miguel e o nome do companheiro. Para voltar ao país, caso queiram, é necessário pagar 5 mil dólares ou 3 anos na prisão, segundo eles.

Inflação

Para se ter uma ideia, 1 dólar corresponde a 74.046,50 Bolívar venezuelano. 5 mil dólares, portanto, corresponde à 370.232.500,00 bolívar venezuelano.

De acordo com Miguel, o salário mínimo na Venezuela corresponde a R$10. Para agravar a circunstância, uma cesta básica custa R$40! Ele descreve a situação como absurda. Em junho do ano passado, de acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), a inflação já havia ultrapassado 1 milhão por cento.

Comunismo

Miguel deixou uma mensagem durante a entrevista, criticando o regime venezuelano, considerado tirano por ele.  Na Venezuela somos um dos países mais ricos do mundo, e você acredita que da noite para o dia o País se converteu em uma miséria, por causa um governo de merda, que só pensa nele e em nada mais, disse.

Se o comunismo fosse algo bom, se preocuparia com o seu povo, não permitiria que seu povo emigrasse, passasse fome e frio,

Não tenham a consciência enganada por causa de um vagabundo que te dá uma casa, um emprego, sobe o salário mínimo. Isso tudo é uma farsa. O comunismo compra a consciência primeiro, ataca a classe mais vulnerável, a classe mais pobre, argumentou.

Agora te ajudam, compram sua consciência, depois vem o comunismo, a tortura, a fome, finalizou.

Brasil, uma pátria acolhedora

Como já relatado, a dupla transpassou quase toda a América Latina. Dos vários países em que estiveram, Miguel conta ter um apreço especial pelo Brasil. Já passamos pela Colômbia, Equador, Bolívia, Peru e, na verdade, nenhum desses países nos tratou da mesma forma que aqui no Brasil. É uma nação que nos ofereceu muitas oportunidades, não faltou comida e refugio.

Eu agradeço o Brasil, porque no resto dos países nos trataram com muita discriminação. O povo Colombiano também nos tratou bem. São os dois melhores países da América, tem um povo de coração muito grande, disse.

Família

Grande parte do trajeto, no entanto, eles não estiveram sozinhos, viajavam com outros familiares. Através de um amigo, ficaram sabendo de possibilidade de emprego no Nordestre brasileiro e, emprestando dinheiro, foi possível enviar toda a família para o local, mas ainda faltaram as duas últimas.

Nessa circunstância, separaram-se de suas famílias e seguem a viagem andando, com o destino já traçado, na esperança de poder vê-los novamente e buscando agradecer o apoio prestado, tanto pelo emprego quanto pelo empréstimo.