Um em cada quatro adolescentes brasileiros já sofreu bullying; entenda os riscos
Psicóloga Jessika Martins alerta para impactos profundos no desenvolvimento; sinais incluem isolamento, queda de rendimento e alterações emocionais
A fase da infância é repleta de novidades, dúvidas e descobertas. É nesse período que o indivíduo aprende a identificar-se como sujeito único, conhecendo e formando sua personalidade. No entanto, experiências negativas como o bullying podem interferir diretamente nesse processo, abalando a autoestima, a autoconfiança e a visão que a criança tem de si mesma.
De acordo com a psicóloga Jessika Martins, quando há bullying, “há uma quebra de expectativas sobre si mesmo, seu valor, sua imagem e questionamentos sobre ser e não ser”.
Sinais que os pais não podem ignorar
Muitas vezes, os adultos não percebem que os filhos estão sendo vítimas de bullying. No entanto, os sinais podem estar presentes em mudanças bruscas de comportamento: isolamento, queda no rendimento escolar, oscilações de humor, alterações no apetite e no sono, recusa em frequentar determinados locais e até regressões no desenvolvimento infantil.Cada faixa etária reage de uma forma. No pré-adolescente, por exemplo, é comum o isolamento, a vergonha e a insegurança em relação ao outro. Já nas crianças menores, podem surgir regressões na fala, no desenvolvimento intelectual, apego excessivo aos pais, medos, choro frequente e outras alterações emocionais.
O impacto na autoestima e na saúde mental
O bullying não é apenas uma fase passageira. Ele deixa marcas profundas na autoestima,
levando a vítima a sentir-se desvalorizada. Esse cenário abre espaço para crenças de desmerecimento e consequências sérias, como ansiedade, depressão e transtornos alimentares.“Os filhos formulam o seu próprio valor a partir dos pais, do amor que lhe ofertam, do tempo disposto a eles, da forma de tratamento”, ressalta Jessika. O acolhimento, o afeto e o apoio familiar são fundamentais não apenas após uma situação de bullying, mas de forma contínua, como forma de ensinar os limites do que pode ou não ser aceito.
Bullying no Brasil
A preocupação é reforçada por dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE/IBGE, 2019), que apontou que 23% dos estudantes brasileiros de 13 a 17 anos relataram ter sofrido bullying. Além disso, o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) alerta que a violência entre pares é um dos principais fatores de evasão escolar e de problemas de saúde mental entre adolescentes.
O papel dos pais e responsáveis
O envolvimento da família nos diferentes contextos em que a criança está inserida – escolar, social e virtual – é determinante para identificar sinais e acompanhar experiências. Essa proximidade fortalece o vínculo de confiança entre filhos e responsáveis, permitindo que os jovens se sintam seguros para falar sobre suas dificuldades. Jessika reforça ainda a importância de verbalizar afeto e reconhecimento. “Conversem com seus filhos sobre sua importância, suas qualidades, suas bem-feitorias. Falem sobre a liberdade de se expressar, explicando também os limites entre expressão e desrespeito. O respeito e o valor são fortalecidos pela principal fonte de nutrição: o amor”.