Doação de medula óssea: como funciona e quais os critérios para ser um doador

No Brasil, mais de 650 pessoas aguardam na fila por uma doação que não seja de um parente. Saiba o que é necessário para se tornar um doador e os passos do procedimento

Segundo dados do Registro Nacional de Medula Óssea (Redome) cerca de 650 pessoas aguardam na fila pela doação de medula no Brasil, que não seja de um parente. Em contrapartida, o índice de doadores voluntários cadastrados vem aumentando consideravelmente. Em comparação, no ano de 2000 o Instituto Nacional do Câncer (Inca) registrou 12 mil inscritos, sendo que dos transplantes de medula feitos, somente 10% dos doadores eram cadastrados no Redome. Atualmente, são mais de 5,5 milhões de doadores inscritos, tornado o Brasil o terceiro maior banco de dados do gênero no mundo, atrás de Estados Unidos e Alemanha.

“A chance de se identificar um doador compatível, no Brasil, na fase preliminar da busca, é de até 88%, e ao final do processo, 64% dos pacientes têm um doador compatível confirmado”, afirma o instituto.

Conhecida como tutano, essa medula é um tecido líquido-gelatinoso que fica no interior dos ossos, onde são produzidos os componentes do sangue: hemácias (glóbulos vermelhos), leucócitos (glóbulos brancos) e plaquetas. Através das hemácias, o oxigênio é levado dos pulmões para as células do organismo e o gás carbônico é levado destas até os pulmões, para ser expirado. Os leucócitos são os agentes de defesa do organismo, servindo para combater infecções. E as plaquetas fazem parte do sistema de coagulação do sangue.

Procedimento

A doação de medula óssea é feita em um centro cirúrgico, com uso de anestesia peridural ou geral, durando cerca de 90 minutos e internação de 24 horas. Durante os três primeiros dias depois da doação, o paciente pode sentir um desconforto localizado, leve ou moderado, sendo amenizado com analgésicos e medidas simples de controle da dor. É comum que os doadores voltem a praticar as suas atividades comuns após a primeira semana de doação.

Para os interessados em doar, é necessário ir até o hemocentro do estado e agendar uma consulta de esclarecimento sobre a doação de medula óssea. É preciso ter entre 18 e 55 anos de idade e ter boa saúde. O voluntário terá que assinar um termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE) e também preencher uma ficha com informações pessoais.

O próximo passo é a retirada de uma pequena quantidade de sangue (10 ml). Para isso o voluntário tem que apresentar o documento de identidade. Depois, o sangue será analisado através do exame de histocompatibilidade (HLA), que identifica características genéticas que possam ser cruzadas com os dados de pacientes que precisam de transplantes, a fim de atestar a compatibilidade.

Os dados pessoais e o tipo de HLA do voluntário serão, então, incluídos no Redome. Dados que devem estar sempre atualizados, pois, se houver um paciente com possível compatibilidade, este voluntário vai ser consultado para decidir quanto à doação. São pedidos outros exames, necessários para a continuidade do processo, além da avaliação clínica de saúde. E então, ao fim dessas etapas, o voluntário é considerado apto para doar.

Dúvidas quanto ao procedimento

Para quem fica insegura em doar, o Inca reforça que, de acordo com relatos médicos, problemas graves com doadores durante e depois do procedimento são raros e limitados a ocorrências controláveis e o estado de saúde do doador é sempre verificado. “Em alguns casos, é relatada pequena dor no local da punção, dor de cabeça e cansaço. Por volta de 15 dias, a medula óssea do doador estará inteiramente recuperada”, explica o instituto.

Outra coisa rara no procedimento é a rejeição, mas pode acontecer. Por conta disso, há a preocupação com o processo de seleção do doador adequado e o preparo do paciente. São levadas em conta o estágio da doença, o estado geral e as boas condições nutricionais e clínicas do paciente e do doador.

“Os principais riscos se relacionam às infecções e às drogas quimioterápicas utilizadas durante o tratamento. Com a recuperação da medula, as novas células crescem com uma nova ‘memória’ e, por serem células da defesa do organismo, podem reconhecer alguns dos seus órgãos como estranhos. Essa complicação, chamada de doença do enxerto contra hospedeiro, é relativamente comum, de intensidade variável e pode ser controlada com medicamentos adequados”.