Em combate à exploração sexual infantil psicóloga Nezia dos Santos fala sobre sinais para se preocupar

“Preste atenção às mudanças comportamentais. Pode ser alteração de humor, retraimento, extroversão, agressividade repentina, vergonha excessiva ou até pânico. Vale ressaltar sempre ao menor que crianças e adultos não devem manter segredos”, enfatiza a psicóloga

O dia 18 de maio é instituído como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Essa data, que traz consigo uma triste memória da menina Araceli, tem como objetivo conscientizar a população sobre a importância de prevenir e denunciar casos de abuso e exploração sexual envolvendo crianças e adolescentes.

De acordo com informações do “Disque 100”, serviço criado pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, em 2016, foram registrados mais de 77 mil relatos de violação dos direitos infanto-juvenis somente no Brasil. Conforme dados do Ministério da Saúde, entre 2011 e 2017, 70% das 527 mil pessoas estupradas no Brasil anualmente, em média, eram crianças e adolescentes. Além disso, 51% das que foram abusadas têm entre um e cinco anos.

O Correio do Povo conversou com a psicóloga Nezia dos Santos a respeito de cuidados necessários para prevenir casos de abuso infantil.

Origem

A data escolhida para o dia de combate foi instituída em 2000 pelo projeto de lei 9970/00. A escolha se deve ao assassinato de Araceli, uma menina de oito anos que foi drogada, estuprada e morta por jovens de classe média alta, no dia 18 de maio de 1973, em Vitória (ES). Esse crime, apesar de sua natureza hedionda, até hoje permanece impune como é possível conferir na página 3.

Hoje, 21 anos depois de instituída, a data é usada para lembrar da responsabilidade em proteger e cuidar das crianças e adolescentes. O abuso e a exploração sexual são formas de violência silenciosas e cruéis que, muitas vezes, ocorrem no âmbito familiar ou são praticadas por pessoas conhecidas das vítimas.

“Geralmente as vítimas apresentam um conjunto de indicadores, nos quais a criança deve passar por avaliação especializada, caso apresente algum desses sinais. Essas contribuições que eu passo dizem respeito também à contribuição da psicologia no combate ao abuso sexual infantojuvenil” diz a psicóloga.

“Lembre-se de que, em quase todos os casos, a vítima tenta se manifestar de sua maneira. Faça com que eles se sintam ouvidos, acolhidos, sem julgamento. Qualquer pessoa que suspeitar de algo pode denunciar pelo Disque 100 e também entrar em contato com o Conselho Tutelar”, ressalta Nezia.

Cuidados necessários

A psicóloga exemplificou algumas mudanças no comportamento da criança. “Primeiro, preste atenção às mudanças comportamentais. Pode ser alteração de humor, retraimento, extroversão, agressividade repentina, vergonha excessiva ou até pânico. Essa mudança costuma ocorrer de maneira imediata e inesperada, e em algumas situações, pode ter relação à uma pessoa ou alguma atividade específica. Depois, preste atenção às proximidades excessivas. A violência costuma ser praticada por pessoas da família ou próximas da família”, afirma Nezia.

Conforme a psicóloga, na maioria dos casos, o abusador muitas vezes manipula emocionalmente a criança, que não percebe estar sendo vítima. Com isso, ela costuma ganhar a confiança fazendo com que essa criança se cale.

“Em seguida, preste atenção em silêncios predominantes. Isto é, manter a vítima em silêncio.

O abusador costuma fazer ameaças e violência física, além das chantagens. É normal também que use presentes, dinheiro ou outro tipo de material para construir uma boa relação com essa vítima”.

Nezia ainda explica que é essencial explicar para a criança que nenhum adulto ou criança mais velha devem manter segredos. Elas têm que ter uma pessoa de referência com quem possam compartilhar histórias de sua vida, como o pai e a mãe, por exemplo.

“Uma criança vítima de violência, de abuso ou de exploração apresenta alterações de hábitos repentinos, sonolência, falta de concentração, descuido com a aparência, são indicativos de que algo está errado. E por último, comportamentos sexuais. Crianças que apresentam interesse por questões sexuais ou que façam brincadeiras de cunho sexual e que usam palavras ou desenhos que se referem a partes íntimas podem estar indicando uma situação de abuso. Observe, fique atento, faça bonito e denuncie”, finaliza Nezia.

Denúncias

O abuso e a exploração sexual estão entre as denúncias mais frequentes. No Paraná, por exemplo, o Disque Denúncia 181 recebeu 1.422 registros de violência contra crianças em 2021, sendo 338 casos relacionados a abuso ou exploração sexual.

E justamente ela, a denúncia, é a ferramenta essencial para o combate à exploração sexual infantil. No Paraná, o canal de denúncias é o 181, que permite que os cidadãos relatem casos de forma anônima e sigilosa. As informações recebidas são repassadas para as forças policiais de maneira privada, garantindo a proteção do denunciante e das informações. Desde 2016, foram registradas 8.895 denúncias relacionadas à violência contra crianças e adolescentes no estado.

Nesse contexto, a escola desempenha um papel privilegiado na rede de atenção ao público infanto-juvenil. A campanha mencionada busca auxiliar as instituições escolares na identificação e encaminhamento adequado das notificações de casos suspeitos de abuso e exploração sexual. Além disso, incentiva a abordagem desse tema em sala de aula e junto à comunidade escolar.

Profilaxia: educação sexual

A educação sexual desempenha um papel crucial na prevenção de estupros e abusos sexuais contra crianças e adolescentes. Ao fornecer informações adequadas sobre seus corpos, relacionamentos saudáveis e limites, é possível capacitar as crianças a reconhecerem situações de perigo, a expressarem seus sentimentos e a buscarem ajuda quando necessário. A conscientização sobre a importância do consentimento e o estabelecimento de diálogos abertos desde cedo são essenciais para a proteção das crianças.

A psicóloga Nezia dos Santos destaca a importância da educação sexual no combate à exploração sexual infantil: ” Lembre-se de que, em quase todos os casos, a vítima tenta se manifestar de sua maneira. Faça com que eles se sintam ouvidos, acolhidos, sem julgamento. Qualquer pessoa que suspeitar de algo pode denunciar pelo Disque 100 e também entrar em contato com o Conselho Tutelar.”

No Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, é essencial reforçar a importância de proteger e garantir os direitos desses grupos vulneráveis. A conscientização, a prevenção e a denúncia são fundamentais para combater essa violência silenciosa e promover um ambiente seguro para as crianças e adolescentes crescerem e se desenvolverem plenamente.