“Quando eu decidi ser professora, me desafiei a ser diferente. Não ensinar datas, não me prender a períodos. Literatura não tem nada a ver com isso. Esquece datas. Não mate a poesia com datas, fale do poema. A poesia não está na linha do tempo, ela está na história, na história do poeta, na história da sociedade”, conta Silvana Schilive, professora Nova Laranjeirense
Por Thamiris Costa
Os poetas, assim como os filósofos, estimulam as pessoas pensarem por elas mesmas, para além do conhecimento técnico. Não é a toa que o filósofo prussiano Immanuel Kant exprimiu que “não se aprende a filosofia, se aprende a filosofar” – prática indissociável ao poeta.
Motivados pela vida, pela morte ou até mesmo pelos constantes questionamentos que acompanham esses dois polos, alguns professores saem da margem e lecionam utilizando a criatividade, como é o caso da professora de língua portuguesa de Nova Laranjeiras, Silvana Marcia Schilive.
“Quando eu decidi ser professora, me desafiei a ser diferente. Não ensinar datas, não me prender a períodos. Literatura não tem nada a ver com isso. Esquece datas. Não mate a poesia com datas, fale do poema. A poesia não está na linha do tempo, ela está na história, na história do poeta, na história da sociedade”, conta Silvana.
Jovem, sonhadora e inquieta, a professora levou a sério seu compromisso com o diferente e com o que se propõe ensinar, criando um alter ego que, de forma divertida, descontraída e muito profunda, se expressa na figura de uma senhorinha, a Vovó Totonha. “Eu decidi criar essa personagem após um convite da secretaria de Saúde de Nova, que precisava incentivar idosos que se negavam a tomar a vacina contra a gripe, já que havia um boato de que quem tomasse a dose poderia morrer”, detalhou ela.
A personagem
A Vovó Totonha carrega uma mala cheia de livros de poesia (que representa a bagagem de conhecimentos que ela acumulou ao longo da vida) e uma boneca, a Manuela. Em uma doce relação que se desenvolve a partir de diálogos entre a senhora e Manuela, a poesia sai do livro para o cotidiano. “É nesse encontro que surge Helena Kolody, Cecília Meireles, Cora Coralina, Vinicius de Moraes, Mário Quintana e tantos outros”, relata.

“Os diálogos vão costurando retalhos poéticos, transformando uma alegre apresentação teatral em uma diversão, onde um simples versinho dá base para uma conversa enorme. E é assim que acontece a história: em cada dia, um verso; em cada parágrafo, um ano; e assim acontece a vida de cada um. A minha e a sua. E essa é a da Vó Totonha”, detalha a poeta.
O papel do poeta sobre o senso comum
A partir da colocação do pensador Gilles Deleuze, que dizia que o papel do artista e do filósofo é de “rasgar o guarda-sol que abriga os homens”, abrindo fendas nas opiniões prontas, em que o guarda-sol é como um conceito pré-concebido – assim como os boatos sobre vacinação causar mortes -, o papel da professora poeta, ou da poeta professora, em “rasgar o guarda-sol” foi de tomar uma atitude crítica e filosófica das coisas, indagando a realidade e mostrando novas formas de enxergá-la.
E, após a abertura na fenda “dos guarda-sóis das opiniões formadas”, continua Gilles, “segue a massa dos imitadores, que remendam o guarda-sol com uma peça que parece vagamente com a visão; e as massas preenchem a fenda com opiniões. Será preciso sempre outros artistas para fazer outras fendas e restituir assim a incomunicável novidade que não mais se podia ver.”