Japão inicia auditoria no Brasil para habilitação da carne bovina
Paraná e outros quatro estados podem ser os primeiros beneficiados. Alta nos preços no mercado japonês favorece a negociação com produtores brasileiros
Técnicos do Ministério da Agricultura, Florestas e Pesca do Japão (MAFF) estiveram no Brasil na última semana com o objetivo de auditar o sistema de inspeção sanitária do país. A visita, que representa um passo estratégico para uma possível abertura do mercado japonês à carne bovina brasileira, era um movimento aguardado com grande expectativa pela agroindústria nacional.
Abertura pode ser parcial
Apesar do avanço nas negociações, a abertura do mercado japonês, caso aprovada, deve inicialmente contemplar apenas os Estados que já haviam sido reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA) como zonas livres de febre aftosa sem vacinação antes de 2025: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Acre e Rondônia.
O Ministério da Agricultura brasileiro, no entanto, pleiteia que o aval se estenda a todo o território nacional, já que o Brasil obteve da OMSA, no fim de maio, o reconhecimento como país livre da doença sem vacinação. A auditoria foi agendada estrategicamente para a segunda semana de junho, após a entrega oficial do certificado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva no último dia 6. Mesmo assim, os documentos enviados previamente aos japoneses se restringiram aos cinco Estados citados.
Exigência
Caso o Japão sinalize positivamente para a abertura parcial, a expectativa é de que as demais regiões do Brasil também sejam autorizadas futuramente. Para isso, será necessário que o rebanho dessas áreas seja renovado com gado nunca vacinado contra febre aftosa, o que demandará tempo e novas rodadas de negociação.
Decisão estratégica
Na avaliação da indústria brasileira, a opção japonesa por uma abertura restrita seria uma decisão estratégica. Atualmente, o Japão já importa carne bovina dos Estados Unidos, e um aval parcial ao Brasil poderia reduzir pressões políticas americanas, ao mesmo tempo em que oferece uma resposta positiva — ainda que limitada — aos interesses brasileiros e aos dos importadores locais.
Inspeções
Durante a auditoria, os técnicos japoneses visitaram unidades do Serviço de Inspeção Federal (SIF) e os sistemas de controle sanitário em alguns Estados, mas não chegaram a inspecionar frigoríficos. O objetivo foi avaliar a base do sistema brasileiro de vigilância sanitária, que, segundo fontes da indústria, já atende aos critérios técnicos exigidos pelo Japão.
Abertura parcial ainda em 2025
A expectativa da agroindústria é que a abertura para os cinco estados possa ser concluída ainda em 2025 ou, no mais tardar, no primeiro trimestre de 2026. A crescente alta nos preços das carnes no mercado japonês é vista como um fator que pode jogar a favor do Brasil nas negociações.
Próximos passos
Os técnicos japoneses devem emitir um relatório sobre a auditoria nos próximos meses. Se aprovado, o Brasil e o Japão deverão iniciar as discussões sobre os requisitos técnicos a serem incorporados no protocolo de exportação. A habilitação das plantas brasileiras será feita por pré-listing, dependendo da análise de risco conduzida pelos japoneses.