Torcedores do Paraná que moram em Laranjeiras veem com preocupação o futuro do clube. Rebaixado no fim de semana para a Série D, o Tricolor afunda ainda mais no poço em que imaginava ter encontrado o fundo no ano passado. Após a inédita queda para a terceira divisão do Brasileiro, a equipe não conseguiu fazer valer a força da camisa. Ficou atrás, entre outros, de Ituano, Mirassol, Novorizontino, São José/RS e Ypiranga/RS, e em 2022 vai pisar no último degrau do futebol nacional.
Torcedores em Laranjeiras do Sul
Natural de Curitiba, o comunicador Cesar Minotto trás no sangue o amor pelo clube. Amor existente antes mesmo da fundação do Tricolor. O avô Apolinário e o pai, Miguel, eram torcedores do Ferroviário, clube que deu origem ao Colorado, que por sua vez se uniu ao Pinheiros na fusão que resultou no Paraná.
“O Paraná nos deu muitas alegrias na década de 1990, mas infelizmente de 2008 em diante vem decrescendo. É lastimável o que está acontecendo. Como torcedor há 40 anos, vejo que nos encaminhamos para o fim”, diz.
O professor Nilton José Costa torcia para o Colorado e depois abraçou o Paraná. Não abandonou o time na Série C: assinou a plataforma de transmissão e viu todos os jogos. “Nas primeiras partidas, vi que seria difícil. O Paraná está desacreditado entre seus torcedores e perante o cenário nacional. Um time que já jogou a Libertadores da América.” Ele nunca acompanhou uma Série D. “Torço que consigam uma parceria estruturada. É a única chance de entrar na Série D. Com as próprias pernas, não há condições.”
Minotto mora em Laranjeiras desde 2004, mas nem a distância apagou a paixão pelo Tricolor. Assim como Nilton, ele costuma acompanhar o time quando este vai a Cascavel ou Prudentópolis. Nestas viagens, levou desde pequenos os filhos Júlio e Lucas. O primeiro, entretanto, virou santista, num processo que, para Cesar, reflete a decadência paranista.
Série D
Para quem torce para Flamengo, Santos, São Paulo e outras grandes forças, é difícil enxergar dificuldade na última divisão. Entretanto, diversos críticos apontam a “dezona” como o certame mais difícil de ser disputado. A razão: o formato. Além de reunir 64 clubes de todos os estados do país, a Série D não ocorre em pontos corridos. Após uma fase de grupos, os classificados ainda precisam superar três mata-matas para alcançar o acesso.
Prova do grau do desafio são as camisas tradicionais que chegam até ela e não conseguem sair. O caso mais notório é o da Portuguesa de Desportos/SP. A Lusa chegou à “D” em 2017, numa participação inédita. Não subiu. Como não integrava (e ainda não integra) a Série A1 do Campeonato Paulista, ficou sem disputar o Campeonato Brasileiro por três anos. Campeã da Copa Paulista de 2020, voltou nesta temporada. Passou da 1ª fase, mas parou no Caxias/RS.
Outros exemplos de clubes tradicionais são: América/RN (desde 2017), ABC (desde 2020), Joinville (desde 2019) e Caxias (desde 2016). O Santa Cruz já caiu duas vezes. Da Série A, em 2006, chegou à “D” em 2009. Após o acesso em 2011, escalou a elite, alcançada em 2015. Desde então, desceu a ladeira e caiu junto com o Paraná no fim de semana.
O cenário descrito pode ser considerado pessimista, mas é real e preocupa os paranistas. “É difícil demais voltar a ser o que era. O Paraná Clube tem a maior parte do patrimônio penhorado pela Justiça. O rebaixamento para a Série D torna tudo mais complicado. Que empresa, tirando parceiros de Curitiba, vai investir numa equipe de quarta divisão? Vejo que o futebol profissional do Tricolor se encaminha para o fim”, lamenta Minotto.
Presença no Brasileirão condicionada ao estadual
Se não subir em 2022, o Tricolor terá a participação no Campeonato Brasileiro condicionada ao estadual. A partir de então, precisará ficar entre as três melhores campanhas do Paranaense, excluindo aqueles que já possuem divisão nacional – atualmente Athletico, Coritiba, Londrina e Operário.
História
O Tricolor da Vila nasceu em 1989 de uma fusão entre Colorado e Pinheiros. Nos primeiros 18 anos de existência, foi fenômeno dos gramados. Venceu o Campeonato Paranaense por sete vezes (1991, 1993, 1994, 1995, 1996, 1997 e 2006). Como a quarta divisão só foi criada em 2009, conseguiu o acesso à Série B já em 1991. Na temporada seguinte, além do título da segundona, assegurou a volta à elite.
Permaneceu na Série A por 15 temporadas seguidas, até cair em 2007. Desde então, começaram a surgir os problemas financeiros que são cruciais dentro dos gramados. Caiu para a segundona do estadual em 2011, mas manteve a pose na Série B. Foi rebaixado no no mesmo ano em que voltou ao Brasileirão da Série A, em 2018. São três quedas nos últimos quatro anos.