Mães que voltaram à sala de aula
Estudantes do CEEBJA mostram que nunca é tarde para recomeçar e transformar sonhos em realidade
Por trás de cada abraço apertado e sorriso dedicado, reside um universo de trabalho muitas vezes invisível, de incontáveis desdobramentos e de desafios diários que moldam a jornada da maternidade. No entanto, para nove mulheres extraordinárias do Centro Estadual de Educação de Jovens e Adultos (Ceebja) de Laranjeiras do Sul, a maternidade não significou o fim de seus sonhos, mas sim um novo motor para impulsionar antigas aspirações, como a de retornar aos estudos. Em celebração ao Dia das Mães, o Jornal Correio do Povo compartilha relatos emocionantes de mães que, com garra e determinação, conciliam a complexa rotina familiar com a busca pelo conhecimento, mostrando que nunca é tarde para recomeçar e florescer.
Maria Izabel Viana
“Meu nome é Maria Isabel Galinski Viana. Aos 11 anos, a vida no campo me afastou da escola. Anos depois, como mãe e diarista, encontrei no CEEBJA a chance de acompanhar meu filho Vitor, diagnosticado com autismo. Estudar ao lado dele foi um desafio transformador, e o apoio da escola me ensinou sobre o autismo, vendo meu filho ganhar confiança. Conciliar tudo é difícil, mas vale a pena. Sonho em concluir o ensino médio e quem sabe fazer um curso. Minha história prova que a educação traz esperança em qualquer tempo.”
Natany Dudek Lima
“Sou Nathani Dudek Lima, 21 anos. Uma gravidez interrompeu meus estudos no CEEP. Mas a necessidade do ensino médio para o futuro me trouxe de volta ao CEEBJA no ano passado. Conciliar os estudos com meu filho pequeno no interior foi uma jornada solitária e desafiadora, superando a vergonha inicial e a saudade da sala de aula tradicional. Com o apoio da minha mãe e novas amizades, persisti. A rotina era pesada, entre cuidar do Thomas, ajudar em casa e vender doces, mas valeu a pena. Em breve concluo o ensino médio, abrindo portas para meus sonhos na Gastronomia ou Agronomia”.
Juliana Goulart
“Meu nome é Juliana Janete Florencio Goulart, 51 anos. A vida me levou para longe dos estudos ainda jovem, mas o desejo nunca se apagou. O incentivo do meu marido e de pessoas como a Mari me trouxeram de volta. Minha filha, que tinha dificuldades na escola, se sente mais segura me vendo estudar. Sou a única dos meus irmãos a retornar, e sonho com o futuro, talvez na pedagogia ou na área da beleza. Aprendi que nunca é tarde para recomeçar e não vou parar por aqui.”
Angelita Aparecida Gonçalves
“Sou Angelita, 45 anos. A pobreza me afastou dos estudos na juventude. Depois, a maternidade tornou tudo mais difícil. Foi minha filha, uma professora, quem me incentivou e me matriculou. Sinto falta do estudo, essencial em tudo na vida. Estou de volta à sala de aula e, se tiver oportunidade, quero cursar Engenharia de Alimentos. A maturidade me dá clareza dos meus objetivos, e o conhecimento é o melhor caminho. Minha filha é meu maior incentivo, mostrando que recomeçar nunca é tarde.”
Edilene de Oliveira
“Meu nome é Idilene de Oliveira, 38 anos. A perda dos meus pais e o diagnóstico de autismo do meu filho adiaram meus planos de estudo. Mas a necessidade de garantir um futuro melhor para nós dois me trouxe de volta ao CEEBJA. Conciliar a maternidade solo com os estudos EAD não é fácil, mas estou determinada a terminar. Quero fazer cursos na área de manicure. Meu filho, mesmo sem falar muito, me apoia à sua maneira. O EAD tem sido fundamental para minha rotina, e o apoio da escola é essencial para mães com filhos com necessidades especiais.”
Neucimara Aparecida Schroeder
“Meu nome é Neucimara, 46 anos. Parei de estudar há muito tempo por necessidade de trabalhar, mas após minha separação, vi a importância do ensino médio. Também faço por mim. Tenho dois filhos que me apoiam muito. Trabalho de manhã e estudo à tarde, e ainda faço um curso de velas. Não imaginava voltar a estudar, mas a vida me deu essa oportunidade. Meus planos são conseguir um bom emprego e talvez reabrir meu negócio. O apoio da escola é nota 10, me sinto acolhida como mãe e aluna.”
Adriana Gmoach
“Sou Adriana Gmoach, 50 anos. Aos 18, casei e depois, separada com um filho pequeno, precisei trabalhar para criá-lo sozinha. Meu sonho de estudar ficou para trás. Hoje, com meu filho adulto, percebi que era minha vez. Voltei a estudar perto da aposentadoria para me preparar para novas leis na minha profissão como CS na prefeitura. Estudo à noite, no meu ritmo. A internet facilita muito. Quero me aposentar e aproveitar a vida com qualidade, sem estresse, depois de criar meu filho e conquistar minhas coisas.”
Guiémili da Costa Siqueira
“Meu nome é Guiémili da Costa Siqueira, 22 anos. A gravidez aos 17 me fez abandonar os estudos por falta de apoio. Voltei no ano passado para dar um futuro melhor para minha filha de três anos. Crio ela sozinha com ajuda da minha mãe e avó. Escolhi estudar aqui pela rapidez do curso e pela proximidade com a escola da minha filha. Minha amiga Roseli me incentivou muito. A logística do transporte é um desafio, mas não me arrependo de voltar. Meu sonho é fazer faculdade na área de segurança pública. Me sinto muito acolhida aqui.”
Rosele Ferreira
“Meu nome é Rosele Ferreira, 33 anos. A situação familiar difícil me afastou dos estudos. Casei e fui impedida de voltar. Hoje, ver meus filhos me motiva a incentivá-los a não desistir. Voltar a estudar é me valorizar e buscar melhores oportunidades. A decisão veio do desejo de melhorar, superando sozinha as dificuldades. Conversei com meu marido, que me apoia agora, e meus filhos me incentivam muito. A escola para adultos facilitou meu retorno, e me sinto muito bem aqui. Valeu a pena cada esforço, e quero passar esse aprendizado para meus filhos.”
Mari Lucia Dalmolin (Pedagoga)
“Acredito que nosso trabalho no Ceebja busca, antes de tudo, ser humanizado. Temos um olhar sensível, especialmente para as mulheres e mães, que por diferentes motivos interromperam seus estudos. Nosso objetivo é acolhê-las, compreendê-las e oferecer um ambiente onde se sintam seguras para permanecer e concluir seus estudos, incentivando-as a ir além. Muitas vezes, o apoio que encontram aqui é o único que recebem. Ver essas mães, verdadeiras guerreiras, com audácia de estudar, reconectarem-se com seus sonhos e transformarem suas vidas é extremamente gratificante. Já vimos muitas se tornarem chefes de família, ingressarem na universidade e conquistarem seus objetivos.”