Maio: mês marcado pela Luta Antimanicomial e da preservação humana nos tratamentos psicológicos

Os psicólogos Lucas Toledo e Taiane Barros expõem a história, as mudanças e os desafios que o movimento reivindica no Brasil e no mundo

Por Thamiris Costa

O mês de maio é marcado pela Luta Antimanicomial, um movimento importante para a defesa de tratamentos justos para pessoas com problemas de saúde mental, que defende a valorização do fator humano e a importância da dignidade. O responsável pelo início da reforma do sistema de saúde mental foi o psiquiatra Franco Basaglia, nascido em Veneza e diretor do Hospital Psiquiátrico de Gorizia em 1960, onde presenciou diversos abusos no tratamento de problemas mentais.

Por esse motivo, Basaglia resolveu fazer mudanças nas práticas no tratamento dos pacientes. Esse movimento ficou conhecido como “negação à psiquiatria”, responsável por dar origem à Luta Antimanicomial. Ele percebeu que a internação em manicômios e o isolamento só agravavam ainda mais a condição dos pacientes e acreditava que, por isso, era preciso mudar totalmente a estrutura psiquiátrica que até então era conhecida.

A partir disso, a Organização Mundial da Saúde (OMS) propôs um conceito multidimensional para compreender a complexidade de um tratamento saudável, que, segundo o psicólogo Lucas Toledo Barros, não inclui apenas o que conhecemos como fatores biológicos. “Também são considerados os fatores de ordem social, emocional e até mesmo espiritual-existencial – o que foi negligenciado nos tratamentos de doentes mentais por muitos anos”.

Assim, o tratamento manicomial deveria ser através atendimentos terapêuticos, que poderiam ser realizados em centros de convivências, comunitários ou até em ambulatórios. Basaglia revolucionou ao propor que o paciente não fosse mais tratado como objeto, sem direitos enquanto humano e cidadão. “Além disso, um tratamento de saúde humanizado pauta-se também em compreender a dinâmica da totalidade psicossocial de cada um”, ressaltou Lucas.

A Luta Antimanicomial no Brasil

No final da década 70, diversos movimentos relacionados à saúde mental fizeram denúncias de abusos que eram feitos em instituições psiquiátricas. “No Brasil, em Minas Gerais, tinha um lugar que se chamava “depósito de loucos” e lá colocavam pessoas que não se enquadravam no conceito de normalidade. Não havia testes regulares e, muitas vezes, internavam pessoas apenas  por seus trejeitos ou síndromes que não eram devidamente compreendidas na época”, explicou a psicóloga laranjeirense Taiane Franco Santos.

A partir disso, nasceram vários movimentos de profissionais da saúde mental que evidenciaram a necessidade de uma reforma psiquiátrica no Brasil. Um dos principais responsáveis pela iniciativa foi o Movimento Sanitário e o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental, que tinha a participação populacional e de familiares de pacientes.

Apenas em 18 de maio de 1987 foi realizado um encontro com grupos coniventes às políticas antimanicomiais. Inclusive, foi nesse mesmo encontro que nasceu a proposta de reforma no sistema psiquiátrico brasileiro e foi estabelecido que aquela data fosse o dia da Luta Antimanicomial.

Desafios

Apesar de todos os avanços através da luta antimanicomial, ainda há muito o que se fazer quando o assunto é a saúde mental. Infelizmente, o tabu em relação aos cuidados psiquiátricos ainda existe e pode haver resistência e estranhamento em relação aos tratamentos necessários.

“Teoricamente, o transtorno mental não é tratado da forma como deveria. Muitas vezes, quando a pessoa não consegue ter sucesso em um tratamento, logo já é encaminhada para a internação, sendo que hoje tentamos todas as possibilidades possíveis nos CAPS e nas unidades de saúde para que isso não seja necessário”, descreveu Taiane.

Por isso, é muito importante que todos nós sejamos semeadores de afeto através da boa informação. “É preciso, acima de tudo, arrancar de nossa sociedade as representações que estigmatizam a loucura, atravessadas por interesses econômicos e políticos. Os trabalhos da psiquiatra Nise da Silveira, no Brasil, e de Stanislav Grof, no exterior, mostraram evidências plenas sobre como tratamentos alternativos, menos supressivos e mais expressivos, podem produzir autonomia, sentido, bem-estar e, consequentemente, melhoras em relação aos diagnósticos”, concluiu Lucas.

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