Entenda a história do penteado milenar muito popular ainda nos dias de hoje
Por Thamiris Costa
As formas de se usar o cabelo, seja com penteados, cortes, colorações ou outros, acompanham a história das civilizações humanas. Por isso, quando falamos de cabelo, evidenciamos também determinados períodos no tempo e diversas maneiras culturais de expressão ao redor do mundo. Uma delas são os dreadlocks, que reúnem estilo, negritude e história em um penteado milenar que, para alguns é símbolo de resistência e, para outros, elevação da autoestima através da estética.
Origem
O dread é um penteado que entrelaça os cabelos em uma forma cilíndrica que ficou mundialmente conhecido através do Bob Marley, grande representante do reggae jamaicano, que, juntamente com sua arte, levou a mensagem da filosofia de vida rastafari de paz, amor e igualdade. Porém, ao contrário do que se pensa, os dreads não surgiram na Jamaica. Registros mostram que esses cabelos já eram usados desde a antiguidade bíblica e pré-bélica na Angola, Quênia, Tanzânia, Namíbia, Etiópia e Índia.
Na África, os Zimba, afirmam terem adotado o cultivo dos dreads desde o nascimento da sua cultura. Com uma população estimada em 50 mil pessoas, eles vivem na Angola e se destacam pela prática única de utilizar os dreadlocks, feitos com barro, para representar estado civil das mulheres da comunidade. Quando solteiras, as moças andam com as madeixas viradas para frente, cobrindo quase o rosto inteiro, e, depois que se casam, jogam os dreads para trás.
Significados
Civilizações a frente, os dreadlocks ganharam outro sentido: guerreiros africanos do Quênia começaram a usar os dreads como forma de intimidar os inimigos e para representar liderança dentre o próprio grupo. É nesse momento que nasce a expressão “dreadfull” que significa “pavor total”. Ou seja, o pavor era justamente a imagem que causava os locks, especialmente pelo poder intimidador de manter os cabelos de forma livre, sem preocupação estética.
Já na América Central, no Caribe, e mais precisamente na Jamaica, os dreads chegam no pós-escravidão. O movimento rastafari que nasceu na África no século XX se caracteriza pela adoração de Haile Selassie, considerado ressurgido de Yahsya (Jesus Cristo), e teve sua ascensão mundial a partir da influência de Bob Marley. Com isso, os descendentes dos escravizados passaram a usar os dreads como forma de demonstração da liberdade e da luta do negro em busca da afirmação de sua cultura. Além de se tornar, também, forte elemento estético.
Autoafirmação de identidade
A partir dos anos 2000 os dreadlocks receberam uma demanda não mais essencialmente restrita a prática religiosa ou pela força representativa de um movimento social. Adotado por muitos jovens, o penteado passa a atrair por sua criativa flexibilidade e variações no modo de uso e, em muitos casos, é um caminho que as pessoas encontram para alcançar uma espécie de aceitação individual e autoconhecimento.
Existe ainda um movimento de utilização do Black Power (cabelo afro) e dos dreads como forma de resistência, mas atualmente muita gente os buscam primeiro por outros motivos e somente depois que usam que acabam se conectando com questões sociais. Especialmente porque esses penteados ainda carregam muito estigma e repressão.
Um dos principais motivos do aumento da busca pelos locks está relacionado ao crescente movimento de transição capilar, pois a aceitação do cabelo leva muitas pessoas a verem nos dreads um fortalecedor da identidade. De acordo com o Google, pesquisas sobre transição e cabelo crespo se tornaram relevantes a partir de 2013 e aumentaram mais de 2.300% até 2019.