Em um diálogo entre praticantes e o setor público, demandas serão atendidas e Laranjeiras receberá, além de incentivo, manutenção da pista do lago e uma outra novinha
Por Thamiris Costa
A vitória da Rayssa Leal, de 13 anos, na modalidade de street skate na Olimpíadas encantou o mundo na última semana, reacendendo debates sobre o histórico do skate no Brasil, a necessidade de incentivá-lo mais como esporte e não apenas hobby, políticas públicas e até mesmo sobre o paradigma do gênero na infância.
Depois do ocorrido também não houve desacordo entre esportistas no que se refere à cena do skate pós ‘fadinha’, que marcou a prática de tal que forma que, daqui para frente, as pessoas enxergarão a modalidade com outros olhos. Para Rafael Nascimento, secretário de Esportes de Laranjeiras, ver a Rayssa no topo estimulou meninos e meninas a se enxergarem seguindo esse caminho, possibilitando-os sonhar.
Nesse sentido, o Correio do Povo buscou entender as demandas e expectativas dos skatistas da cidade, fazendo uma ponte entre a comunidade e o setor público – que já tem planos para a pauta. “Nós temos uma gestão que entende a grande abrangência que o poder público possui. A pista que temos aqui, feita há dez anos, foi realizada na prefeitura do Berto Silva; mas sabemos que o skate se modernizou com o tempo e que precisamos nos adaptar a isso”, explicou Rafael.
Incentivar é primeiro passo
Ainda que com a pandemia a pista de skate e qualquer outra prática esportiva tenha ficado limitada e, em alguns momentos, até interrompida; agora, com o retorno gradual das atividades e a reabertura do parque, é possível observar a dimensão do público do skate de Laranjeiras, que conta com crianças, adolescentes e adultos.
Um dos jovens, de 18 anos, contou que sua paixão pela atividade começou quando ele ganhou o primeiro skate, com cinco anos. “Não era um skate profissional, mas foi o primeiro passo para que eu começasse a querer isso para mim. Minha mãe, apesar de ter presenteado, não imaginava o quanto aquilo mudaria minha vida e hoje não me apoia mais. O skate me ajuda em dias tristes, melhora meu humor e até minha expectativa de vida. Eu entro triste na pista e saio sorrindo, entende?”, detalhou ele.
A falta de apoio é realidade para muitas crianças e, para o secretário, faz parte de um dos pontos principais que precisa ser alterado para que haja o desenvolvimento do skate na cidade. “Quando a Rayssa apareceu a gente achou magnífico, mas vimos ela no topo; não temos nem ideia do que ela passou para chegar nesse ponto”, continuou. “Para que isso se tornasse possível, ela precisou de todo um investimento em torno. Investimento não apenas público, mas uma cadeia de pessoas acreditando no projeto”.
Em diversas entrevistas, a mais nova medalhista olímpica agradeceu o incentivo recebido dos pais e ressaltou o quanto foi difícil enfrentar as desmotivações de outros familiares e até mesmo o precário cenário do skate em Imperatriz, no Maranhão, cidade em que nasceu.
Por meio de suas redes sociais, ela publicou: “Quero deixar aqui meu repúdio a @prefeituradeimperatriz pela falta de manutenção da pista. Cheguei de viagem e tive que treinar com a pista cheia de buracos. Secretaria de Esporte, não existe só o futebol como esporte”.
Demanda dos skatistas de Laranjeiras
Em Laranjeiras do Sul, os skatistas comentam que a manutenção da pista também é uma demanda. “Antigamente muita gente andava de skate, mas muitos foram desistindo. Muitos fatores podem ter levado a isso, o estado da pista, por exemplo, com muitas rachaduras”, contou o skatista que prática a atividade na cidade há 16 anos.
“A pista tem uma estrutura que deveria ser mais street, mas nessa temos mais essa pegada da ‘rampa’. Ninguém que anda de skate fica só indo e voltando na rampa, a gente usa a pista para tentar trick [nome dado para manobras], por isso, seria interessante que na modernização dela abrangesse mais obstáculos como caixotes, corrimãos, escadas etc.”, adicionaram os jovens.
Próximos passos da secretaria de Esporte
O secretário de Esporte, que também entrou em contato com alguns skatistas, pontuou alguns importantes próximos passos que serão realizados para o desenvolvimento da atividade na cidade, tais como: readequação na pista do lago e uma pista nova. Segundo ele, uma reunião com a secretária de Engenharia e de Obras já estão previstas e nela será discutido os custos e os locais onde a pista poderá ser feita.
“O skate tem tudo para dar certo e em Laranjeiras do Sul. Não de um dia para a noite, mas organizando corretamente, podemos ir longe. Além da pista de skate nós pensamos em escolinhas de skate, assim como temos de futebol, de vôlei, basquete e artes marciais”, responde Rafael. “Além disso, também temos que pensar uma organização dos praticantes, de modo que os auxilie a se enxergarem como atletas, ou seja, com compromissos a cumprir; desmitificando a imagem que skatistas tinham há 30 anos”.