Bonsai: arte de paciência e perseverança
Há 20 anos, Pablo Macedo “passa o tempo” criando miniaturas de árvores e conta os segredos da técnica
Exóticos, formosos e distintos pela saudável parceria entre homem e natureza. Os bonsais são plantas anãs, que embora tenham na origem do termo o japão, começaram a ser cultivados na China, há cerca de 700 A.C..
No Brasil, a “arte” chegou junto com os imigrantes japoneses no início do século XX e é praticada como passatempo, ou, na linguagem popular, “hobbie”. Essas plantas, muito requisitadas para ornamentação, exigem paciência e dedicação constante de quem as adota.
Em Laranjeiras do Sul, encontramos um dos adeptos da prática. O comerciante Pablo Macedo, de 47 anos, há 20 reserva uma hora diária para cuidar de um plantel com mais de 1 mil plantas, entre bonsais e pré-bonsais.
Do “pingo” ao manancial
O pátio da residência de Pablo “tá” dominado por bonsais e apetrechos – ferramentas, potes, vasos, baldes e adubos.
Mas essa paixão pelas miniaturas de árvores surgiu do acaso. “Há uns 20 anos, fui levar minha filha numa consulta em Pato Branco e na volta passamos num viveiro. Lá, adquiri um bonsai de pingo d’ouro, que tenho até hoje. Comprei, mas não me despertou o interesse. Depois, quando fui numa pescaria – que não deu em nada -, colhi umas plantas que nasceram em meio às pedras e aí então resolvi estudar o assunto”.
Mas no início da década de 2000, a internet ainda engatinhava e o distanciamento de Laranjeiras do Sul para os grandes impedia que o conhecimento das técnicas dos bonsais fosse disseminado. As alternativas eram as revistas e os VHS – as populares fitas, já que os DVD’s também eram pouco populares.
O critério no cultivo
No quintal de casa, Pablo investe tempo e dinheiro e colhe beleza e satisfação. Com sabedoria de causa, ele já economiza no viveiro: de lá, só retira vasos e adubos. As mudas ele mesmo prepara.
“O bonsai varia muito de local para local. Na internet, você vê algumas pessoas indicando o cultivo sob base de areia, de pedras, de certas variedades de terras. Mas isso varia das condições climáticas de cada região. Aqui, aposto forte na adubação e na irrigação. Os bonsais me fascinam”.
A técnica
O bonsai consiste em plantar uma árvore de caule lenhoso numa bandeja ou outro recipiente semelhante. Para torná-lo “anão”, é necessário podar as raízes constantemente e mantê-lo na bandeja. Se transferido para o chão, o bonsai se desenvolverá e tornar-se-á uma árvore comum.
Você já deve ter visto na internet ou nos viveiros aqueles bonsais formosos, com frutas, não é mesmo? São lindos, mas o verdadeiro bonsai, cultivado no oriente, é feito do pinheiro-negro, uma planta nativa daquele continente.
Bonsais “nativos”
Pablo gosta de customizar a prática à moda da região: lapidar mudas de jabuticaba, pitanga e cereja-do-mato é o que ele mais gosta. “Pelo caule dessas árvores e também porque ficam formosas demais quando frutificam”, explica.
Além destas, Pablo tem no quintal miniaturas de macieiras, limoeiros, pereiras, laranjeiras e araçazeiros.
Complexos
Só que os bonsais possuem de bonitos possuem de complexos. Eles levam mais tempo para tomar forma do que uma árvore convencional, “A jabuticabeira, por exemplo, leva uns 15 anos”. E para que isso seja alcançado, necessita-se de cuidado diário na irrigação e constante adubação e manutenção. “Como fica num recipiente pequeno, a terra seca rapidamente com o sol e um dia sem água pode ser fatal para o bonsai”. O inverno é o momento certo para as podas.
Essa lentidão no desenvolvimento e a exigência de dedicação constante afugentam o interesse de muitos pelo bonsai. “O bonsai precisa de tudo o que uma planta normal precisa: de vento, chuva e de sol. O pessoal pergunta se pode cultivá-lo dentro de casa, eu digo que pode, mas não é o indicado, para não atrapalhar a fotossíntese. Aconselho a deixá-lo um dia dentro e outro fora de casa”.
Valorização
Depois que explicamos todo o cuidado necessário para criar um bonsai, você achará justo que alguns deles, os mais esplêndidos, sejam comercializados por um valor alto. Nas grandes centros, encontram-se plantas desta forma por valores milionários. E se os que geram frutos são os que mais chamam a atenção, é normal que haja uma valorização.
“Tenho uma jabuticabeira com 15 anos e que agora dá frutos. Pela idade, pelo vaso bom e pelos frutos, então essa árvore eu venderia por R$ 500, só que as pessoas não têm noção do investimento de tempo e de dinheiro”.
Pratique você
Na residência de Pablo Macedo, quando os bonsais frutificam, é expressamente proibido consumi-los. “As frutas são para ornamentação”, argumenta.
E se você chegou ao final desta matéria e está desejoso de cultivar bonsais – ciente dos desafios -, o Pablo coloca-se à disposição para orientar e tirar dúvidas através do WhatsApp – 42 9816-8414. Ele também comercializa as plantas.