Com aumento dos custos, estudantes revelam dificuldades de permanecer na UFFS

A discussão principal refere-se aos impasses para locação de imóveis, que tiveram um aumento de mais de 66% entre os anos de 2016 a 2021, e grande redução de oferta

Por Thamiris Costa

Alegando dificuldades de permanência na Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), campus Laranjeiras do Sul, um grupo de estudantes está questionando o aumento do custo de vida na cidade em comparação ao valor máximo que a instituição disponibiliza através dos auxílios socioeconômicos. Ao todo, os recursos repassados para os Institutos Federais de Educação (IFES) provém, em grande maioria, do Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAES), destinados pelo Governo Federal, por intermédio do Ministério da Educação.

Como a universidade é multicampi e possui mais de 7 mil alunos de graduação, o recurso é reservado aos seis campis e chega até os alunos através de editais específicos de análise de público-alvo e demanda. “Tais como: auxílios socioeconômicos, ingresso, emergencial, Permanência dos Povos Indígena (PIN), Restaurante Universitário (RU), Bolsa Monitoria e Bolsa Monitoria de Saúde. Somente no ano passado, foram remetidos um montante de R$ 9.175.203,80 à Assistência Estudantil”, relata o assistente social da UFFS Wilian Przybysz.

Pandemia, inflação e custo de vida

Dentre os problemas levantados, a discussão principal refere-se aos impasses para locação de imóveis na cidade, que, segundo Relatório de Pesquisa de Aluguéis de 2021, realizado pelo Departamento de Assuntos Estudantis (DAE) com a Pró-Reitora de Assuntos Estudantis (PROAE) da UFFS, obteve um aumento de mais de 66% nos valores entre os anos de 2016 a 2021, e grande redução de oferta.

 “Com a chegada da pandemia ficou ainda mais custoso alugar moradia. Devido ao aumento dos preços e o cancelamento das aulas presenciais, muitos estudantes tiveram que desistir de seus cursos. Com isso, diminuíram também as repúblicas – que são opções primordiais para estudantes de baixa renda dividirem os alugueis”, relata a estudante de ciências sociais Carolina Cristina Sandoli.

Entretanto, entender os motivos do aumento dos gastos da população, de modo geral, não é tão simples quanto parece. Para Plínio de Arruda Sampaio Jr., professor aposentado de Economia da Universidade Federal de Campinas (Unicamp) e contribuinte do Grupo de Pesquisa em Desenvolvimento Regional (GPDR) da UFFS, a confusão começa quando não se compreende corretamente termos como “inflação” e “custo de vida”.

Conforme ele explica, a inflação aumentou por um problema externo, temporário e conjuntural, impulsionado pela pandemia de Covid-19. “E, embora as mídias alarmem para o ‘fantasma inflacionário’, analisar a elevação de todos os preços da economia é diferente de verificar os índices de custo de vida. A inflação contempla o custo de vida, mas é muito mais ampla. O custo de vida refere-se aos preços que afetam diretamente produtos da cesta básica”.

A diferença é melhor visualizada quando percebe-se que, a partir do monitoramento realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), os custos de vida, que incluem os preços dos aluguéis, já vem crescendo mais de 20% nos últimos anos; afetando especialmente o poder de compra da população mais vulnerável. Já a inflação, por sua vez, teve uma elevação moderada e justificável, de cerca de 8 a 9%. “A elevação foi intensificada no Brasil porque nossa gestão política, ao invés de amortizar a inflação através da valorização do câmbio, controle de estoques e administração da seca, só repassou os valores para os consumidores através de políticas fiscais e monetárias restritivas”, continuou o professor. 

Análises socioeconômicas

Conforme demonstra Wilian, apesar de fatores como o custo de vida serem considerados nas análises socioeconômicas, o que determina o valor repassado aos alunos depende muito mais da verificação de necessidade individual de cada um, calculada a partir do Índice de Vulnerabilidade Social (IVS). “Deste modo, quanto maior for o gasto com moradia, maior é a incidência no IVS e, por consequência, quanto mais vulnerável socioeconomicamente for o estudante, maior é o valor dos auxílios que ele recebe”.

Nesse sentido, os recursos, antes de chegar aos estudantes, primeiro dependem do orçamento definido pela União, que passam por pesquisas de preços médios (como de valores de locação nos municípios) e sua distribuição aos acadaêmicos ocorre conforme as demandas específicas. Além disso, nem todos os podem receber os auxílios, mas somente os que precisam de suporte financeiro devidamente comprovado.

“Vale destacar, portanto, que o problema que vivenciam hoje os acadêmicos de Laranjeiras do Sul é reflexo de uma situação que já ocorria no Brasil antes mesmo da pandemia; que, por agravar o processo, tornou os efeitos mais visíveis. A discussão levantada pelos alunos é essencial para que o assunto seja descavado e discutido em instancias que estão acima da UFFS do município apenas”, ressaltou Gabriel dos Santos, estudante de filosofia da UFFS de Chapecó.

A diminuição de oferta

Muitas razões podem justificar a dificuldade que os alunos se deparam ao procurar moradias disponíveis na cidade para a alocação. Ainda pela pesquisa de 2021 realizada pela DAE, foram consideradas entre as possibilidades a locação direta, em que proprietários optam por ofertar sem o intermédio de imobiliárias; o período de pandemia, que afetou a economia como um todo; a baixa divulgação em sites e outros.

Porém, os acadêmicos de Laranjeiras relatam mais uma questão. “Já houveram momentos em que me negaram casa por ser estudante da UFFS. É uma situação recorrente na cidade que dificulta muito a nossa permanência. A impressão que dá é que falta confiança por parte dos locadores nos estudantes que vem de fora, o que, no final das contas, desanima por completo”, conclui Carolina.

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