Estudo aponta que 20% da população precisa de fisioterapia pélvica

A fisioterapeuta Carolina Orsi aponta os sintomas e os benefícios da prática. “Incontinência urinária, dores ao evacuar ou durante relação sexual são alguns sinais comuns da disfunção”

No vasto cenário da saúde, uma porcentagem significativa da população brasileira encontra-se suscetível a uma necessidade frequentemente negligenciada: a fisioterapia pélvica. Estimativas revelam que cerca de 20% dos brasileiros enfrentarão, em algum momento de suas vidas, desafios relacionados ao assoalho pélvico, desencadeando a importância crucial dessa especialidade da fisioterapia. Homens e mulheres de diversas faixas etárias são impactados por disfunções pélvicas, contudo, é notável a prevalência maior entre as mulheres, especialmente após o período delicado do parto.

Neste contexto, o Jornal Correio do Povo entrevistou à fisioterapeuta do Espaço Saúde e Movimento de Laranjeiras do Sul, Carolina Orsi Vieira Marcolin, formada há 12 anos e há sete, concentra a prática nesta especialidade. Ela aponta a necessidade e os benefícios que a fisioterapia pélvica oferece, independente do sexo ou idade. “Dores consideradas comuns são sinais de alerta”, indica Carol.

O que é?

A fisioterapia pélvica é uma especialidade dedicada à prevenção e tratamento de disfunções na região pélvica. A pelve é composta pelos ossos do quadril, popularmente conhecida como bacia, ligamentos e um conjunto de 13 músculos denominados músculos do assoalho pélvico. Essa área inclui também órgãos como a bexiga, o intestino e, no caso das mulheres, o útero. Qualquer disfunção nessas estruturas é abordada pela fisioterapia pélvica.

De acordo com Carolina, a abordagem engloba a saúde miccional, sexual e intestinal. Na saúde miccional, são tratados problemas como incontinência urinária, sensação de urgência miccional, prolapsos (queda dos órgãos) e outras questões relacionadas à bexiga. Na saúde sexual, a fisioterapia pélvica trata de questões como dor durante a relação sexual, vaginismo, espasmos musculares e diminuição da lubrificação. Já na saúde intestinal, são abordados problemas como constipação e incontinência fecal. “Situações consideradas comuns, como não segurar xixi, dor ao evacuar e ao ter relações sexuais, merecem atenção. Por trabalhar o assoalho pélvico, todos esses fatores desconfortáveis são melhorados”, afirma a fisioterapeuta.

Ela destaca que é importante notar que a fisioterapia pélvica não se restringe apenas a mulheres, pois homens e crianças também podem apresentar disfunções pélvicas. “Isso inclui casos como enurese noturna, o xixi na cama em crianças, infecções urinárias recorrentes e dificuldades para evacuar. Portanto, a fisioterapia pélvica é uma abordagem abrangente que atende a diversas faixas etárias e gêneros”, explica.

Mais sinais

A fisioterapia pélvica é indicada quando ocorrem escapes de urina ao tossir, espirrar; dificuldade para evacuar; dor ou desconforto na relação sexual; ou qualquer tipo de dor na pélvis. “É importante não normalizar esses sintomas, e qualquer sinal de dor deve ser considerado um alerta para buscar assistência”, afirma a fisioterapeuta.

Outro exemplo é uma mulher que percebe uma sensação de peso no canal vaginal pode estar experimentando um prolapso da bexiga. Essa sensação de peso, semelhante a um bolo no canal, é um indício de que a pessoa pode necessitar de fisioterapia pélvica para tratar o prolapso.

Dificuldades significativas durante a evacuação, como passar vários dias sem ir ao banheiro e sentir uma evacuação incompleta ao fazê-lo, também são alertas. Fezes endurecidas ou em forma de pelotas indicam a necessidade de avaliação.

“Esses são alguns dos sinais mais comuns que indicam a necessidade de fisioterapia pélvica. No entanto, há muitos outros aspectos abrangentes, como urgência miccional, prolapsos, infecções urinárias recorrentes, endometriose, sintomas relacionados à menopausa, problemas intestinais como constipação e incontinência fecal, além de questões específicas em crianças, como o controle da micção e infecções urinárias. A fisioterapia pélvica desempenha um papel crucial no tratamento dessas condições diversas”, aponta.

Físio pélvica na gestação

Carol destaca que além desses três sistemas, a fisioterapia pélvica também se ocupa da parte obstétrica, incluindo o tratamento de gestantes. Neste caso, o trabalho é preventivo, a fim de evitar o desenvolvimento de disfunções pélvicas. “Sabemos que as gestantes têm um risco aumentado de incontinência urinária, prolapso pós-parto e dor na relação pós-parto. Portanto, nossa abordagem inclui a prevenção dessas questões. Nos casos em que já existem queixas, iniciamos o tratamento, abordando a prevenção de dores em áreas como o osso do púbis, quadril e coluna, que são comuns devido às mudanças durante a gestação”, detalha. Além disso, outro foco é a prevenção da diástase abdominal, a separação muscular que pode ocorrer após o parto devido ao crescimento da barriga.

Para aquelas que optam pelo parto normal, a fisioterapeuta indica a preparação específica, com exercícios adequados para cada fase do trabalho de parto, visando uma experiência mais rápida e menos dolorosa. “Integramos técnicas de alívio da dor durante o trabalho de parto, como exercícios de respiração e fortalecimento muscular para o momento do expulsivo. Além disso, oferecemos aulas de parto para que a gestante e sua acompanhante compreendam melhor o processo”.

Benefícios

Como já mencionado por Carol, os benefícios incluem a prevenção de disfunções pélvicas. Ela ressalta que a fisioterapia não se limita ao tratamento de problemas existentes, mas idealmente, as pessoas deveriam procurar a prevenção, especialmente as mulheres devido à sua anatomia, com o útero sobre a bexiga, tornando-as mais propensas a disfunções como incontinência, constipação e prolapsos. “A fisioterapia pélvica pode ensinar exercícios preventivos para evitar essas disfunções no futuro”.

Quanto a contraindicações, a fisioterapeuta destaca que não há restrições específicas. “Atendemos mulheres em várias fases da vida, desde a infância até a velhice, incluindo gestantes. A única ressalva para gestantes é a colaboração com o obstetra para garantir que a mulher esteja apta para a fisioterapia pélvica, levando em consideração sua condição física geral”, completa.

Procura em Laranjeiras

Carol enfatiza que a receptividade e busca na cidade foi bastante positiva em relação à fisioterapia pélvica. Segundo ela, anteriormente, muitas pessoas enfrentavam dificuldades ao receber uma recomendação médica para esse tipo de tratamento, visto que precisavam se deslocar para Guarapuava ou Cascavel. “Desde o início do meu atendimento, essa questão tornou-se mais acessível. A conscientização sobre a importância da fisioterapia pélvica está aumentando, e continuamos a explicar e destacar a relevância da prevenção e tratamento”.

A abordagem precoce resulta em tratamentos mais rápidos, exigindo menos sessões. Apesar de ser uma área relativamente nova, houve uma adesão positiva, embora muitas pessoas ainda não estejam familiarizadas. “Com apoio de outros profissionais, incluindo médicos que fazem indicações, destacam os benefícios aos pacientes, pois compreendemos que a natureza íntima da especialidade pode gerar constrangimento ao buscar ajuda. No entanto, para nós, profissionais que atuamos nessa área, é uma situação natural. As consultas são tranquilas, proporcionando um ambiente confortável para os pacientes compartilharem suas queixas e seguir o tratamento de forma mais leve. Ao sinal de qualquer incômodo, me procurem”, finaliza.