Audiência pública discute ações de combate às drogas e ao álcool no Paraná

Encontro serviu para debater estratégias de conscientização sobre os impactos do uso de drogas e destacou as dificuldades enfrentadas por comunidades terapêuticas diante da diminuição de subsídios governamentais

Uma audiência pública realizada na tarde desta quarta-feira (18), no Plenarinho da Assembleia Legislativa do Paraná, reuniu autoridades e representantes da sociedade civil para debater políticas públicas de enfrentamento ao uso de drogas e álcool no estado. O evento foi proposto pelo deputado Gilson de Souza (PL), presidente da Frente Parlamentar em Apoio às Comunidades Terapêuticas, Cuidados e Prevenção às Drogas. Durante a abertura do encontro, o deputado destacou a importância da união entre sociedade, escolas e o poder público para enfrentar a problemática. “Esse trabalho não fazemos sozinhos. São necessárias a sociedade e a escola, juntamente ao Poder Público, unir forças para combater esse mal”, afirmou.
O delegado e presidente do Conselho Estadual de Políticas Públicas sobre Drogas da Secretaria de Segurança Pública do Paraná (Sesp), Renato Figueiroa, abordou diversos mitos relacionados ao uso de substâncias psicoativas. Entre eles, a ideia equivocada de que o consumo moderado de drogas é inofensivo e a crença de que adolescentes são imunes à influência externa.

Cigarro eletrônico e estratégias da indústria
Figueiroa também alertou sobre o cigarro eletrônico, que, segundo ele, é apresentado de forma enganosa como menos nocivo que o cigarro comum. “Nada mais é que uma estratégia da indústria do cigarro para se reinventar, uma vez que as políticas públicas contra o tabaco reduziram significativamente o número de fumantes nas últimas duas décadas”, explicou.
Iniciativas voltadas à prevenção do uso de drogas desenvolvidas nas escolas da rede pública estadual foram detalhadas pelo delegado e pela técnica pedagógica Delvana Lucia de Oliveira, da Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR). Entre os projetos citados estão: concurso de vídeos sobre drogas, palestras educativas, criação de conselhos municipais e cursos de capacitação para professores. Delvana também destacou o programa “Escola Escuta”, que seleciona uma pessoa de referência nas escolas para ouvir relatos dos alunos e realizar os encaminhamentos adequados.

Base científica e foco no potencial dos jovens
A coordenadora de Pesquisa e Desenvolvimento da Cruz Azul, Alana Sieves Wendhausen, defendeu que as ações de prevenção sejam embasadas em evidências científicas. Segundo ela, intervenções eficazes devem ser contínuas e envolver pelo menos 12 interações com o mesmo aluno. Ela também desaconselhou o uso de testemunhos de dependentes químicos como forma de prevenção. “A atuação deve estar focada nos talentos e no potencial dos adolescentes”, afirmou. Para Wendhausen, abordar temas como identidade, emoções e protagonismo tem se mostrado mais eficaz que abordagens centradas apenas no uso de drogas.

Dados sobre a dependência no Brasil
O presidente da Comunidades Terapêuticas Associadas do Brasil (Compacta), Thiago Massolin, apresentou um panorama sobre a dependência química no país. Segundo ele, cerca de oito milhões de pessoas são dependentes de alguma substância, sendo 1,5 milhão de drogas ilícitas. Aproximadamente 30 milhões convivem com familiares usuários, e metade da população em situação de rua sofre com vícios.
Massolin alertou para a redução das vagas financiadas pelo governo federal em comunidades terapêuticas. De acordo com ele, o número caiu de 15 mil (2023) para 10,8 mil vagas atualmente. No Paraná, a oferta passou de 1.152 para 635 no mesmo período. Ele defendeu a reabertura de vagas com apoio do governo estadual e das prefeituras, ressaltando que 60% dos dependentes buscam atendimento nessas comunidades.

Encaminhamentos da audiência
Ao final da audiência, o deputado Gilson de Souza anunciou três encaminhamentos principais: promover editais com o governo estadual e prefeituras para ampliar vagas em comunidades terapêuticas, facilitar o acesso a essas vagas por meio do regime de “porta aberta” e buscar apoio do Sistema Único de Saúde (SUS) para agilizar a emissão de atestados médicos para acolhimento de dependentes.