“Quem lava a louça acadêmica?”: desigualdade de gênero no mundo acadêmico

1ª Semana Acadêmica de Ciências Sociais na UFFS – campus Laranjeiras do Sul, trouxe um debate sobre feminismo

Por Thamiris Costa

A primeira palestra da I Semana Acadêmica de Ciências Sociais da Universidade Federal da Fronteira Sul – campus Laranjeiras, com o tema: “’quem lava a louça acadêmica?’: desigualdade de gênero no mundo acadêmico”, teve como objetivo proporcionar uma reflexão sobre o debate de gênero na sociedade e como a desigualdade de gênero se perpetua em outros espaços, como na universidade. As debatedoras do tema foram as professoras Silmara Marques, que é doutora em Sociologia Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC); e Fernanda Marcon, doutora em Antropologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

O que é feminismo?

Siomara iniciou a palestra citando a obra “O que é o feminismo?” de Branca Moreira e Jacqueline Pitanguy, levantando a discussão acerca do conceito de feminismo. O livro relembra que o termo não possui uma definição objetiva porque se constitui a partir de um longo processo da história ocidental, que possuí raízes no passado. Porém, por fazer parte da linha cronológica da humanidade, o feminismo se apresenta nas diversas formas em que as relações sociais se manifestam ao longo do tempo. Por isso, ele pode ser entendido como um processo que não possui um projeto e/ou uma delimitação. É um processo de transformações sociais que se acompanham e se alteram todos os dias, conforme as socializações em comunidade.

“O feminismo não é apenas um movimento intelectual, ele é político, acima de tudo. A luta dele é  por uma emancipação e libertação, que denuncia a existência de formas de opressão que não se limitam ao econômico. Por isso ele é muito complexo. Ele produz teorias e em todo seu processo histórico, discute a condição da mulher e o papel de gênero na sociedade moderna”, pontou Siomara.

História

A primeira onda do movimento feminista no Brasil se deu a partir de 1934. Nesse período, foi legitimado o voto feminino, com a constituição federal de Getúlio Vargas – apesar de mulheres só conseguirem votar de fato 1950. Além do direito ao voto, a luta também foi entorno da escolarização das mulheres e dos direitos trabalhistas.

A segunda onda do movimento veio nos anos de 1970, principalmente no período de reabertura política da ditadura militar, que culminou em uma série de conquistas depois nos anos de 1980 entorno das bandeiras levantadas por essas mulheres.

Siomara relembrou: “Foi durante esse período que minha conscientização começou. Primeiro eu entrei em contato com movimentos sociais e partidos políticos, depois com o movimento de mulheres agricultoras e estudantil. Logo após, ingressei em ciências sociais, onde continuei durante minha trajetória acadêmica”.

Depois disso vieram lutas sociais de toda ordem, sejam populares –  não apenas escolarização, votos e trabalho, mas moradia, direito ao corpo, água, transporte, carestia, creches nas fábricas e universidades. Atualmente existem feminismo plurais, que também se transformaram conforme as reivindicações das mulheres.

Por que “louça acadêmica”?

A professora Fernanda explicou, a partir de um depoimento reflexivo e antropológico, a posição das mulheres na ciência, na academia e na política. Com base no livro de Marisa Correia “Antropólogas e antropologia”, de 2003, ela concluiu a invisibilidade de antropólogas pioneiras no Brasil. “Com base nos papéis de gênero, existe uma lógica que revela que, quando mulheres adentram cargos públicos, suas atividades são desvalorizadas, como se isso representasse uma tentativa de transpor à ordem doméstica – local culturalmente associado às mulheres; à ordem privada/pública – lugar socialmente considerado masculino”, afirmou ela.

 Ou seja, o universo acadêmico também se beneficia da estrutura do trabalho doméstico, que é essencialmente femininalizado, não remunerado e silenciado. “A nós, mulheres, professoras, pesquisadoras, estudantes e servidoras são delegadas as louças acadêmicas, isto é, atividades desprestigiadas da academia: projetos de extensão, organização de eventos, cerificação, burocracia administrativa, comissões, ornamentação de mesas e espaços onde homens em sua grande maioria são os convidados a falar”, concluiu ela.

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